Pequenos cafeicultores do Brasil com certificação Fairtrade (Comércio Justo) devem exportar neste ano cerca de 260 mil sacas conforme as regras definidas pelo sistema. Se o número for confirmado, será um crescimento de 68,45% em relação a 2014, quando foram embarcadas 152,3 mil sacas de 60 quilos.
O resultado do ano passado já representou um crescimento de 21,25% em relação ao volume exportado em 2013, que foi de 125,6 mil sacas. O faturamento em 2014 foi de US$ 27 milhões. Os dados, compilados pelo Sebrae de Minas Gerais, são da Fairtrade International, certificadora oficial que, desde 2012, tem uma representação no Brasil.
O Fairtrade é concedido a grupos de produtores, comocooperativas e associações, para melhorar a qualidade dos produtos e das relações comerciais, especialmente em benefício dos pequenos e dos agricultores familiares. Tem entre os seus princípios as boas práticas ambientais e sociais e garante um prêmio sobre o preço internacional do produto.
Como o certificado é para uma entidade coletiva, todos os seus integrantes podem exercer seus diretos. No entanto, se um deles deixar de cumprir as regras pode comprometer a certificação dos demais. Parte do prêmio recebido na comercialização é revertida na produção e parte na melhoria das condições de vida da comunidade onde os produtores estão inseridos.
- Os pequenos cafeicultores estão percebendo que é mais vantajoso vender pelo sistema do que no mercado convencional – explica a analista e especialista em acesso a mercados do Sebrae em Minas Gerais, Raquel Brasil, para justificar o crescimento do comércio de café Fairtrade. O câmbio favorável à exportação é um estímulo a mais – acrescenta.
O estado líder na produção nacional de café tem 20 dos 25 grupos de produtores brasileiros certificados e responde por 85% dos resultados obtidos em volume de vendas e faturamento. No Sul de Minas, Zona da Mata e no Cerrado, são mais de seis mil produtores, de acordo com o Sebrae, que apoia o trabalho com consultoria em assuntos como gestão e promoção, além de assessoria para o processo de certificação.
- A demanda já estava pronta. O nosso trabalho era organizar os produtores e tratar da qualidade do produto com foco no mercado internacional. É uma oportunidade para eles mostrarem o conceito do café diferenciado e de alta qualidade – diz Raquel.
De acordo com a analista, outros três grupos de cafeicultores devem obter a certificação no ano que vem. A análise é feita caso a caso, de acordo com as demandas de cada um, que podem estar relacionadas ao produto, às boas práticas ou à administração do negócio.
ExposiçãoO trabalho desses pequenos produtores está sendo mostrado na Semana Internacional do Café, que vai até o sábado (26/9), no pavilhão da Expominas, em Belo Horizonte.
Apoiado pelo Sebrae, o estande Fairtrade, neste ano, ganhou um reforço, fazendo parte das iniciativas do movimento Compre do Pequeno Negócio, lançado pela instituição com a finalidade de gerar demanda pelos produtos das micro e pequenas empresas. Raquel Brasil explica que o objetivo maior é disseminar o conceito de exercer a atividade em conformidade com regras consideradas mais justas de produção e comércio, “mas também são fechados negócios”.
Cafeicultor há 25 anos, André Luiz Reis é um dos que está apresentando seus produtos no evento. Dono de uma pequena propriedade de 22 hectares no total e 15 de cafezais, ele colheu neste ano 650 sacas, no município de Boa Esperança, no Sul do estado. Ele é certificado Fairtrade desde 2007, junto com os demais integrantes da Cooperativa dos Produtores de Café Especial de Boa Esperança, a qual preside.
Reis conta que sua primeira venda pelo sistema foi em 2008, uma carga de café para os Estados Unidos. Atualmente, acessa também mercados como Inglaterra e Bélgica, com café verde em maior quantidade e pequenos lotes de torrado e moído. Da sua participação na “Semana” de 2014, lembra de ter fechado uma venda para um cliente da Austrália.
- Eu tinha dificuldade financeira. Hoje estou consolidado, minha produtividade está mais alta, estou mais capacitado e obtendo lucro – diz o cafeicultor, comparando os períodos antes e depois da obtenção do certificado.
Segundo ele, os prêmios recebidos pelo café têm sido, em média, 10% do valor da saca que, hoje, está em torno de US$ 150 na região.
Outra vantagem de comercializar pelo sistema, diz ele, é o preço mínimo. O valor de venda não pode ficar abaixo do custo de produção. E o limite imposto em um cenário de queda no preço internacional do café não é aplicado em momentos de alta, quando os negócios acompanham o mercado. De acordo com o cafeicultor, é a única certificação com esse tipo de regulamento.
André Luiz Reis também é o presidente da Associação das Organizações de Produtores Fairtrade do Brasil (BRFair), que reúne representantes de todas as cadeias produtivas certificadas no país e é parceira do Sebrae nas atividades da Semana Internacional do Café. Durante o evento, a instituição realiza um fórum de discussões sobre o comércio justo nos mercados interno e externo.
- Vamos discutir as dificuldades e planejar nossas ações com a certificadora – explica.
Fonte: Globo Rural