A promessa do governo de ter um Plano Safra com R$ 187 bilhões não deve se realizar. Ao invés de um avanço frente ao ciclo anterior, o cenário aponta para estabilidade, com uma execução próxima da vista na última safra, de R$ 156 bilhões. A esperança do Ministério da Agricultura e do Palácio do Planalto para incrementar o plano estava nas Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que tiveram regras alteradas para estimular as operações, mas não prosperaram como o esperado.
“Nosso ponto de preocupação são os recursos livres. Nós estimamos R$ 30 bilhões de LCA quando lançamos o plano safra e até agora foram R$ 1,1 bilhão. Não vamos atingir essa expectativa”, disse o secretário de Política Agrícola e ministro interino da Agricultura, André Nassar, durante apresentação dos dados de crédito, nesta quinta-feira, 14. “No fim da safra não vamos executar os R$ 187 bilhões estimados no lançamento da safra. Nos bancos privados, as LCAs ainda não decolaram”, avaliou.
Os bancos públicos são os que mais têm emprestado crédito rural com as LCA como fonte. Como antecipado pelo Broadcast Agro, serviço em tempo real da Agência Estado, de julho a dezembro de 2015, a primeira metade da safra 2015/2016, as contratações de crédito rural que tinham essas letras como fonte de recursos cresceram pouco mais de 23 vezes, passando de R$ 60 milhões em igual período de 2014 para R$ 1,406 bilhão, com valor médio de R$ 421,5 mil por operação. Apesar desse avanço, a expectativa do governo, de atingir R$ 30 bilhões, se frustrou.
Segundo Nassar, é cedo para anunciar “qualquer coisa relacionada a LCA e crédito livre para a próxima safra”. “Operar com a exigibilidade das LCAs é algo que os bancos ainda estão aprendendo. Queremos que os bancos sejam mais agressivos no uso de LCA”, afirmou. O executivo ainda ponderou que essa é uma safra com rentabilidade menor, mesmo com câmbio melhor, e garantiu que o governo sempre vai perseguir crescimento do Plano Safra, sobretudo em juros controlados. “O importante para próxima safra é fazer decolar LCA”, disse.
O desempenho do crédito rural na safra 2015/2016 chegou a dezembro com 41% do total disponível aplicado. No mesmo período do ciclo passado, esse desembolso estava em 49%. Em volume financeiro, no entanto, há um pequeno avanço: passou de R$ 76,304 bilhões para R$ 76,491 bilhões. Os números, no entanto, excluem os desembolsos feitos para os pequenos produtores. Quando os agricultores de menor porte são incluídos, há uma queda de 2% nos recursos liberados.
Nassar relatou que as linhas de custeio, sem os pequenos produtores, acumularam desembolsos de R$ 51,3 bilhões de julho a dezembro de 2015, ante R$ 42,5 bilhões em 2014. Para comercialização, ficou em R$ 12,2 bilhões contra R$ 12,4 bilhões no período anterior; os investimentos recuaram de R$ 21,4 bilhões para R$ 13 bilhões. Apesar de no volume global do crédito rural ter sido registrado um pequeno avanço na liberação de recursos, em números de operações ou contratos houve um recuo de 18,09%.
O secretário ainda traçou um cenário otimista para a safra. “Depois de uma supersafra que foi a passada, teremos a 2015/2016 crescente”, ponderou. “Em um ano em que tem redução de investimento e crescimento de custeio menor, termos uma boa safra”, observou. Segundo ele, os dados mostram que o ministério acertou ao priorizar o custeio nas negociações com o governo que levaram ao lançamento do Plano Safra 2015/2016. Na visão dele, esse maior foco no crédito de custeio levou a uma “supersafra”. “A agricultura não perdeu a confiança ainda, segue confiante”, disse.
Fonte: Estadão – 15/01/2016
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