Uma iniciativa inédita liderada pela Associação dos Produtores de soja e milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) originou uma nova ferramenta para gerenciar riscos das lavouras com o clima. Isso se dará através da compilação de dados obtidos junto a estações meteorológicas instaladas em propriedades rurais, apresentados aos produtores pela plataforma. A ideia é analisar e reproduzir as informações captadas em todas as regiões do estado, para formação de um banco de dados que subsidiará os produtores na tomada de decisões.
São ao menos 33 estações físicas instaladas em propriedades rurais e os agricultores que aderiram à iniciativa (ou seja, possuem estações em suas propriedades) conseguem, através do acesso pela Internet, acompanhar a variação de tempo em sua propriedade e as previsões climáticas. Todos os meses, o informe “Relatório de Acompanhamento Climático” é divulgado com avaliações para o período seguinte.
A meta da entidade é de pelo menos dobrar este número até 2020, informou a entidade.
Como funciona?
Todos os produtores associados da Aprosoja-MT, terão acesso a plataforma, que requer internet.
Por lá, serão disponibilizadas informações sobre: temperaturas máximas, mínima e médias, umidade do ar, velocidade do vento, instantâneos e acumulados, previsão de chuvas (até 60 dias), gráficos com todas essas informações.
O acesso é gratuito para todos os associados da entidade, basta acessar o link!
Produtora aprovou
A produtora de soja Daila Dellai, do município de Paranatinga, já possui uma estação meteorológica há um ano em sua propriedade e aprova a nova tecnologia.
“O ganho foi muito grande, porque a gente conseguiu programar melhor as coisas, ter uma prévia de como estaria a nossa meteorologia na fazenda e na nossa região. Inclusive alguns vizinhos próximos nos questionavam sobre como estava o resultado, a coleta de dados e a fazenda só ganhou com isso”, diz.
A agricultora também comentou se tratar de um sistema simples de acesso e que proporciona um manejo assertivo.
“Acredito ser um projeto que o associado só tem a ganhar para sua propriedade, para sua região. Para otimizar melhor o manejo nas lavouras, nas suas aplicações, ver a questão de umidade no ar, saber mais ou menos o quanto vai chover no dia, o que choveu, a precipitação diária”, exemplificou Daila Dellai.
Banco de dados
A Gerência de Defesa Agrícola da Aprosoja-MT, responsável pelo programa, destaca a importância da formação do banco de dados meteorológicos para diversos fatores essenciais à produção de soja e milho em Mato Grosso. Pelo fato de o estado ser dono de biomas variados e microrregiões que apresentam diferenciadas realidades meteorológicas, buscar maior precisão na aferição dos eventos climáticos pode contribuir sobremaneira.
“Quando se tem um histórico de dados, com os ciclos meteorológicos, é possível ter uma visão comparativa desses ciclos para adotar medidas mais assertivas. Mato Grosso é muito grande. Para lidar com as variações de características e conseguir posicionar é preciso um histórico com maior precisão possível, o que temos a partir das estações físicas nas propriedades”, acrescentou o gerente de Defesa Agrícola da entidade, Daniel Pasculli.
O presidente da Aprosoja-MT, Antonio Galvan, reforçou a necessidade da tomada de decisões a partir de dados mais precisos.
“Esperamos que seja mais uma ferramenta que nos dê segurança para início do plantio e o que vem à frente. O associado terá acesso, mas pode compartilhar a informação, o que beneficiará em muito os produtores”.
Clima e mudanças
As primeiras chuvas entre setembro e outubro não podem ser consideradas motivo de entusiasmo para o início do cultivo da soja em Mato Grosso, por serem mais esparsas e sem volume suficiente para evitar uma frustração. Pelo menos esse foi o alerta feito pelo professor PhD em Meteorologia, Luiz Carlos Molion, durante sua palestra de lançamento do Aproclima, na Aprosoja-MT.
“O produtor tem que esperar ela realmente se firmar e, muito provavelmente, isso acontece a partir de novembro. Temos notado que nas últimas semanas já começou a mudar e isso deve se estabelecer. Tem que ter cuidado para não colocar a semente no pó, mas também tem que mudar um pouco a prática agrícola, pois o solo fica compactado com o plantio direto e isso oferece resistência à infiltração da água da chuva”, deu o recado o professor.
Contrapondo à ideia de aquecimento global, Luiz Carlos Molion afirmou que, pelos próximos 10 anos, existe a tendência de um resfriamento do clima no planeta. O especialista se apoia na convicção, a partir de seus estudos, de que o homem não tem, com suas atividades, condições de mudar o clima global.
“O clima global é o que, na realidade, comanda o clima local. É preciso olhar para os grandes controladores do clima global: o sol e a cobertura de nuvens, que influenciam no comportamento dos oceanos, que são a grande fonte de umidade. Essa história de que a umidade vem da Amazônia para o Centro-Oeste é pura mentira. A umidade vem do Atlântico, passa sobre a Amazônia, deixa uma parte lá e segue em frente. A Amazônia não interfere na nossa chuva, o grande comandante é o Oceano Atlântico”, diz Molion.
Fonte: Canal Rural