Uma nova variedade de uva está sendo cada vez mais cultivada no Vale do Rio São Francisco, em Pernambuco, a BRS-Vitória. Ela faz sucesso por não ter sementes e ser bem doce.
Essa cultivar é resultado do cruzamento de 2 materiais genéticos que fazem parte do maior acervo de videiras de toda América Latina, localizado na sede da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
Desde a década de 1970, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária desenvolve um programa de melhoramento genético uvas do Brasil, que já lançou 21 variedades voltadas para vinho, suco e mesa.
A BRS-Vitória saiu de lá, foi testada em terras paulistas e paranaenses até ganhar o mundo a partir do Vale do Rio São Francisco. Os agrônomos da Embrapa levaram cerca de 10 anos pra desenvolver e testar essa nova variedade.
O produtor rural Jackson Lopes, um dos pioneiros na atividade, lembra de uma degustação às cegas feita há 7 anos, com 65 tipos de uva. “Me chamou a atenção, mas ela não tinha uma característica que chamava a atenção para os produtores porque tinha cachos pequenos”, recorda.
“Mas, por ter chamado a atenção em relação a preferência de sabor, a gente decidiu investir em trabalho técnico para poder aumentar a produtividade”, afirma o agricultor Jackson Lopes.
O chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, José Fernando Protas, com que o sucesso da variedade deixou algumas lições para o futuro pesquisa.
“Não só o aspecto estético deve ser levado em consideração, mas o sensorial, de gosto e sabor, deve ser levado em consideração na criação de uma variedade”, conta.
E um dos itens que mais agradou o paladar de quem apostou na uva Vitória foi ela não ter sementes.
“O aspecto importante é que o traço da semente da Vitória não é perceptível na mastigação. Ela, na verdade, foi criada para ser consumida. A reprodução dela se dá por um outro tipo, um outro processo, de enxertia, e não através de semente.”
A enxertia é a técnica que consiste na junção de uma planta boa de raízes e outra que vai dar os frutos, no caso a Vitória.
O agricultor Marcelo Alves tem parceria com a Embrapa para produzir as mudas da variedade. Desde então, ele só viu crescer a procura pela variedade, saindo de 72 mil mudas em 2015 para 950 mil em 2019.
Os próprios pesquisadores que desenvolveram a BRS-Vitória se mostram surpresos com todo esse sucesso.
“Cultivar é igual quando a gente tem filho. na hora que cresce, tem a sua trajetória, a gente não pode prever muitas vezes”, afirma a pesquisadora e agrônoma da Embrapa Patrícia Ritschel.
5 safras em 2 anos
Mais uma vantagem dessa variedade é seu rápido desenvolvimento de uma safra para outra.
Isso faz com que os produtores do Vale do Rio São Francisco consigam a façanha de colher a uva vitória em todas as semanas do ano, mas, para isso, é preciso fazer uma poda drástica, que expõe as videiras ao sol. Ela é realizada 30 dias depois da colheita.
“Para quem não conhece, parece que a gente matou a planta, mas, a partir do momento da poda até uma nova colheita, são mais ou menos 105 a 112 dias”, explica o agricultor Jackson Lopes.
A rapidez na frutificação é, também, uma condição específica da Vitória, o que permite produzir até 5 safras em 2 anos.
Investimento dos agricultores
Os produtores da Vale do São Francisco já colocaram a BRS-Vitória em mais de 1,5 mil hectares. O agricultor Gilson Moreira é um dos que ficaram entusiasmados com o potencial de mercado da uva e, por isso, está investindo por volta de R$ 80 mil por hectare na ampliação do parreiral.
Até agora, o plantio de uva Vitória na propriedade ocupa uma área de 3,5 hectares. Até o fim do ano, serão 7 hectares.
E assim, a uva BRS-Vitória vai se consolidando como mais uma alternativa dentre as variedades disponíveis para o agricultor e, também, espalhando sua fama para quem ainda não conhece a sua história.
Fonte: G1