O elevado potencial de produtividade, que pode alcançar 8 toneladas/hectare e a alta qualidade de panificação são as principais características da cultivar de trigo irrigado BRS 394, lançada pela Embrapa durante dia de campo realizado na Fazenda Baixada do Jardim, na região do PAD-DF, Distrito Federal, nessa quarta-feira (16.09). O novo material estará disponível para os produtores em 2016.
Realizado em parceria com a Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (COOPA-DF), o evento reuniu cerca de 400 produtores, técnicos e estudantes, e contou com presença do presidente da Embrapa, Maurício Lopes, dos chefes gerais da Embrapa Cerrados (Planaltina, DF) e da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), José Roberto Peres e Sérgio Dotto, do secretário de Agricultura do DF, José Guilherme Leal, e do embaixador do Panamá, Edwin Vergara.
Na abertura do evento, Maurício Lopes relembrou a revolução ocorrida na agricultura brasileira nos últimos 40 anos e destacou o protagonismo do Cerrado no processo.
- É extraordinário o que o Brasil conseguiu fazer num espaço de tempo tão curto. O País, que era importador de alimentos até o início dos anos 1970, conseguiu se projetar como um grande produtor e alcançou a segurança alimentar. O Cerrado brasileiro é parte dessa conquista, e a prova está aqui nesta propriedade, onde se faz um trabalho de intensificação da agricultura com qualidade e padrão tecnológico que não deve nada a nenhum país – disse.
Lopes observou que o trigo é uma das últimas fronteiras para a agricultura brasileira, e do qual o País ainda depende de importações – cerca de 50% do trigo consumido no Brasil vem principalmente da Argentina.
- Mas isso está mudando graças ao Cerrado brasileiro, à pesquisa agropecuária e ao empreendedorismo dos nossos produtores. E o trigo só vai crescer na região em função dos ganhos contínuos em pesquisa e inovação – apontou.
Para o presidente da Embrapa, a nova cultivar BRS 394 é mais um passo na busca da autossuficiência brasileira em produção de trigo.
- É um material de alta qualidade, que entra num mercado privilegiado, com uma sanidade diferenciada em relação ao trigo produzido em outras partes do Brasil. Portanto, a pesquisa agropecuária está contribuindo para que o País possa romper a fronteira da autossuficiência nesse alimento que é tão importante para a nossa população e é tão simbólico para o mundo e essencial para a humanidade – frisou, apostando que o Brasil tem potencial não apenas para alcançar a autossuficiência como também para, no futuro, se projetar como provedor de trigo para outras partes do mundo.
Qualidade e produtividade
O presidente da COOPA-DF, Leomar Cenci, destacou a importância do dia de campo em levar informações aos produtores. A atividade foi dividida em quatro estações. Na primeira, o pesquisador Júlio Albrecht, da Embrapa Cerrados, apresentou as características da cultivar BRS 394, trigo classificado comercialmente como melhorador para o Cerrado do Brasil Central.
O material foi obtido a partir do cruzamento de uma variedade da Embrapa (Embrapa 22) com outra proveniente do International Maize and Wheat Improvement Center (Cimmyt), aliando qualidade e produtividade. Após cinco anos de avaliação (2010 a 2014) em propriedades de Unaí (MG), Cristalina (GO), PAD-DF e Coromandel (MG), a cultivar foi indicada para o Distrito Federal e os Estados de Goiás, Minas Gerais, Oeste da Bahia e Mato Grosso devido ao elevado potencial produtivo – o rendimento médio foi de 8 toneladas/hectare – e à excelente qualidade de panificação.
A BRS 394 é recomendada para altitudes superiores a 500 metros. O ciclo é precoce – 55 dias da emergência à floração e 115 dias da emergência à maturação, em média.
- A precocidade no trigo irrigado é importante porque representa economia de água e de energia para mover o pivô de irrigação – explicou Albrecht. Outra característica relevante é a moderada resistência ao acamamento. O trigo acamado não tem produtividade e perde qualidade – apontou o pesquisador, acrescentando que o material também é resistente à debulha natural – completou ele.
A alta qualidade industrial do material, cujo grão tem coloração vermelha e é classificado como duro, é explicada pela elevada força de glúten (W) de 350 x 10-4 Joules – a cultivar BRS 264, mais cultivada na região, tem W de 250 x 10-4 Joules, o mínimo exigido pelos moinhos. A força de glúten está ligada à quantidade de proteínas que formam o glúten, permitindo o crescimento da massa durante o processo de panificação. Além disso, o material tem estabilidade média de 28 minutos, o dobro do exigido. A estabilidade indica a resistência da massa ao tratamento mecânico e ao processo fermentativo na fabricação do pão.
- Com força de glúten e estabilidade sobrando, o produtor vende o trigo com facilidade para o moinho – garantiu Albrecht.
O pesquisador falou ainda sobre as principais doenças que podem acometer o trigo no Cerrado são fúngicas: a brusone e as manchas foliares (amarela e marrom). No caso das manchas, são feitos tratamentos curativos com fungicidas. Já no caso da brusone, o controle se faz de forma preventiva com a aplicação dos fungicidas, sendo a primeira aplicação na fase de emborrachamento do trigo. Mas, segundo Albrecht, o melhor “fungicida” é a época adequada de plantio. “Quanto mais tarde o produtor plantar, menor pressão de brusone haverá na lavoura”, afirmou, recomendando o plantio para maio em anos mais chuvosos.
- Se utilizar toda a tecnologia disponível, o produtor vai alcançar tranquilamente de 7,5 toneladas/hectare a 8,5 toneladas/hectare. Vocês têm na região uma das melhores qualidades de trigo para panificação e são responsáveis por uma das maiores produtividades do mundo – disse o pesquisador aos produtores presentes.
Manejo
A segunda estação foi apresentada pelos pesquisadores Jorge Chagas e Marcio Só e Silva, ambos da Embrapa Trigo, que falaram sobre os aspectos do manejo da nova cultivar e da BRS 264, variedade mais cultivada em áreas tritícolas do Cerrado. Foram abordados os métodos, a época e a densidade de semeadura; o uso do redutor de crescimento para evitar o acamamento e garantir a produtividade; recomendações sobre a adubação de cultivo e o programa demonitoramento de irrigação desenvolvido pela Embrapa Cerrados para a cultura, disponível gratuitamente aqui.
Na terceira estação, o responsável técnico da COOPA-DF, Cláudio Malinski, falou sobre alternativas para o Cerrado, enquanto a empresa Biotrigo apresentou materiais para a região.
- Se pensarmos a médio e longo prazo, o trigo vai viabilizar outras culturas com mais eficiência e menor custo porque ele quebra o ciclo de doenças dessas culturas. Além disso, com bom manejo, o trigo se tornará altamente competitivo na região, principalmente em relação ao seu maior concorrente, que é o feijão – disse Malinski.
Na quarta estação, representantes da Alltech Crop e da Dow AgroSciences abordaram, respectivamente, a biotecnologia aplicada à agricultura moderna e o manejo de doenças na cultura do trigo.
Fonte: Embrapa Cerrados