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MONITORAMENTO DAS MOSCAS

Consolidado na Metade Sul do Estado, o Programa busca segurança do alimento e garantia de produtividade, tanto ao mercado in natura quanto à voltada à indústria de conservas.

Hoje, dia 16 de agosto, começa a publicação semanal do Boletim Informativo sobre o Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas nos Pomares de frutas de caroço, como pêssego e ameixa, no endereço: https://www.embrapa.br/sistema-de-alerta. A região de Pelotas já dispõe dessa ferramenta há sete anos, numa iniciativa da Embrapa Clima Temperado (Pelotas,RS), e os excelentes resultados motivaram a equipe da Embrapa Uva e Vinho (Bento Gonçalves,RS), em parceria com a Emater-RS/ASCAR, a trazer o sistema, a partir desta safra, para os produtores da Serra Gaúcha.

A intenção do Sistema de Alerta é, a partir do monitoramento, auxiliar os produtores a tomarem medidas de controle para evitar a infestação da mosca e as perdas de produção, e estimular a racionalização de uso de agroquímicos. A grande representatividade da produção das duas regiões – a Região de Pelotas é responsável por 95% da fruta destinada à indústria de conservas e a Serra Gaúcha, por 82% das frutas de caroço (pêssego e ameixa) para consumo in natura do Estado, indica a prioridade na sua execução. Também existem planos de ampliar o Sistema para a região dos Campos de Cima da Serra, com foco na cultura da macieira.

Segundo o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Dori Edson Nava, que coordenou a implantação do Sistema de Alerta em Pelotas, o baque com relação à necessidade de controle ocorreu na safra 2008/2009, quando foram relatadas, pelo setor produtivo da Metade Sul, perdas de ‘caminhões inteiros de produção’, em função do ataque destes insetos. As moscas são consideradas pragas chaves da fruticultura gerando perdas de produção nas espécies de caroço, como ameixas e pessegueiros.

- Os danos decorrem em função da oviposição nos frutos, e posterior eclosão das larvas, levando ao seu apodrecimento. Além disso, as fêmeas, durante a oviposição, abrem entrada para microrganismos que causam perdas na pré e pós-colheita, como ocorre com a podridão parda – explicou o pesquisador.

Ele ainda diz que muitos mercados consumidores internacionais impõem restrições às exportações dos locais em que ocorre o ataque da praga.

Outra razão para a realização do Programa foi a retirada dos inseticidas com ação de profundidade da grade de agrotóxicos autorizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para controle da mosca-das-frutas em frutas de caroço. Anteriormente, os produtores faziam o controle da praga com inseticidas fosforados com ação de profundidade como o fention, dimetoato e fenitrotion. No entanto, com perda dessas ferramentas,  o controle da mosca passou a estar focado na fase adulta do inseto, sendo o produto aplicado principalmente quando o monitoramento indica maior incidência desses insetos nos pomares.

- Se for detectado a presença da  mosca no pomar, a recomendação é: use isca tóxica! – observa Nava. Mas, conforme as orientações do pesquisador, caso aumente a população é necessário direcionar o controle com aplicação em toda a área (aplicação por cobertura), complementando o efeito das iscas tóxicas.

Os grandes resultados do Programa apontados por Nava foram a compreensão do produtor sobre o porquê da não possibilidade de registro dos produtos químicos para controlar pragas especificamente para o pessegueiro; e o segundo, é o produtor de pêssego passar a fazer parte de um grupo de discussão, que conhece os problemas da cultura e faz reivindicações para o setor.

- É a pesquisa, que conversa com o produtor, que conversa com a extensão; é a extensão, que conversa com a indústria; e é a indústria, que conversa com o produtor e a pesquisa. Atingimos um bom grau de maturidade entre as instituições – disse Nava.

A redução das perdas de safra dos produtores e um melhor controle da praga na Região de Pelotas foi o fator chave para que a equipe de Entomologia da Embrapa Uva e Vinho decidisse trazer o Programa para a região da Serra. Segundo o pesquisador Marcos Botton, que coordena a ação na Serra Gaucha, numa rede colaborativa com a Emater/RS-Ascar, 14 produtores e as Prefeituras Municipais de Bento Gonçalves, Farroupilha e Pinto Bandeira, a expectativa é que os produtores não sejam pegos de surpresa pela ocorrência da praga.

- Nosso objetivo é ter informação sobre o comportamento da praga  ao longo da safra, alertando os produtores quando o momento é de alta ou de baixa infestação e quais as melhores medidas de controle que devem ser adotadas pelos fruticultores – comenta Botton. 

Segundo o coordenador da Fruticultura da Emater/RS-Ascar na Serra Gaúcha, Ênio Todeschini, o Sistema de Alerta

- é mais uma ferramenta colocada à disposição dos produtores para fazer frente a essa praga que provoca prejuízos na produção, racionalizando o uso dos agrotóxicos e contribuindo na produção e consumo de alimentos seguros. -

Evandro Faguerazzi é um dos produtores parceiros do projeto no município de Bento Gonçalves (RS). Em conjunto com seus pais e esposa eles produzem e comercializam pêssego e ameixa na Serra Gaúcha. Sua expectativa é conseguir reduzir o número de aplicações de produtos.

- É muito interessante esse apoio para controlar a mosca, pois muitas vezes falta tempo para nós, pequenos produtores, fazer esse monitoramento da forma correta. Espero reduzir e também conseguir aplicar o produto na hora certa – comenta.

Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas (Sindocopel), Paulo Crochemore, a proposta do Sistema de Alerta do Monitoramento da Moscas-das-Frutas foi um diferencial para a indústria do pêssego, quando foram retirados os produtos químicos de controle do inseto da grade do Mapa.

- Foi e é uma ferramenta que auxiliou a recuperação nas perdas dos pomares e a melhorar a qualidade do fruto, pois havia muito pêssego contaminado que chegava à indústria e, portanto, havia muito desperdício – analisou o proprietário de indústria da região de Pelotas.

Crochemore diz que há muito a se melhorar na cadeia produtiva do pessegueiro, mas com essas mudanças houve uma transição na cultura do produtor de pêssego, que passou a atender as exigências de regulamentação de uso de produtos químicos, tendo índices muito baixos de frutos bichados.

- A produtividade aumentou bastante, mesmo enfrentando questões climáticas, passando de uma produção entre 7 a 10 ton/ha para 20 ton/há – informou o representante das indústrias.

Como funciona o Sistema de Alerta?
O monitoramento para identificação de infestação do inseto é realizado o ano inteiro em pomares de produtores parceiros. Um técnico percorre, no início de cada semana, as unidades de observação nos pomares de produtores parceiros, onde foram instaladas armadilhas do tipo McPhail, iscadas com proteína hidrolisada.

O Programa define a instalação de uma armadilha por hectare, que são vistoriadas para contagem de insetos capturados – duas espécies de moscas-das-frutas são monitoradas: a Anastrepha fraterculus e a Ceratitis capitata. O material capturado é conduzido ao Laboratório de Entomologia, onde é realizada análise do material, que posteriormente é repassada nas reuniões semanais junto aos parceiros e ajuda a compor o conteúdo dos boletins.

Em cada uma das unidades de observação também há estações meteorológicas para acompanhamento de dados climáticos, principalmente a temperatura e a chuva – uma vez que a incidência das moscas pode ter relação com as variações do clima.

Na Região de Pelotas, a elaboração do Boletim acontece a partir de reuniões que discutem estes dados com a participação de representantes da Embrapa, Emater/RS-Ascar, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Sindicato das Indústrias de Doces e Conservas Alimentícias de Pelotas (Sindocopel), Associação dos Produtores de Pêssegos de Pelotas, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pelotas e Secretarias de Agricultura dos municípios de Canguçu, Morro Redondo e Pelotas. Na Serra Gaúcha, a elaboração é feita a partir dos dados e contatos entre a equipe técnica envolvida.

Boletins Informativos
Os boletins informativos serão produzidos e divulgados no dia 16 de agosto, semanalmente às quartas-feiras nas duas regiões, com recomendações sobre o monitoramento e as ações de controle das mosca-das-frutas, mas também com outras orientações relacionadas ao manejo da cultura. Na região de Pelotas, os boletins serão produzidos até o período das variedades mais tardias de pêssego, às vésperas do Natal. Já no caso da Serra Gaúcha, segue até o mês de fevereiro, quando acaba a safra das cultivares mais tardias. Os boletins serão enviados via e-mail e whatsapp, para os interessados que podem se cadastrar aqui goo.gl/njsqwB. Os informativos também estarão disponíveis na página do sistema: https://www.embrapa.br/sistema-de-alerta, na qual também poderão ser acessados materiais complementares como vídeos e publicações. Na Serra Gaúcha, a Rádio Difusora (890AM) irá apresentar o Boletim, com a participação da equipe técnica do Projeto, no Programa Radiojornal, toda quarta-feira, às 7h20min.

Na Região de Pelotas outra espécie de inseto-praga também é monitorada semanalmente pelo Sistema de Alerta é a Grafolita (Grapholita), a mariposa oriental. Neste caso, armadilhas específicas, alocadas junto às armadilhas da mosca-das-frutas, utilizam um feromônio sexual como atrativo.

Entenda o Sistema:
O Sistema de Alerta: É um programa de monitoramento da presença de mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) nos pomares de pessegueiros das principais regiões produtoras. Para seu funcionamento são seguidos princípios básicos do manejo integrado de pragas. No caso da mosca-das-frutas, são utilizadas técnicas de manejo indicadas pela pesquisa como armadilhas, aplicação de iscas tóxicas ou aplicação de produtos recomendados por cobertura e medidas auxiliares de controle.

Armadilhas: são indicadas o uso de armadilhas McPhail, iscadas com proteína hidrolisada, um tipo de atrativo alimentar. Ao serem atraídas, as moscas são presas nas armadilhas e semanalmente é realizada a avaliação por meio da contagem dos insetos capturados. Durante esta inspeção, também se procede a substituição da proteína. Ao se ter o número de insetos capturados nas armadilhas, o produtor tem duas opções: realizar o controle com a aplicação de isca tóxica ou de aplicação por cobertura. São colocadas cerca de duas armadilhas por hectare, embora este número possa variar em função da uniformidade e localização do pomar.

Aplicação de Isca Tóxica: se o produtor capturar, durante o monitoramento feito pelas armadilhas, um número inferior a três moscas por armadilha, então, é realizada a aplicação da isca tóxica na borda do pomar e em 25% da área. A isca tóxica baseia-se na utilização de um atrativo alimentar, misturado com um inseticida. É também aplicada em hospedeiros alternativos e cerca de 40 dias antes da colheita, deve-se aplicar no interior do pomar. Para cada planta são utilizadas de 100 a 150 ml de calda, resultando num volume de  50 a 70 litros de calda por hectare. A aplicação deve ser semanal, feita com pulverizador costal ou tratorizada. Se ocorrerem precipitações no período, a isca tóxica deve ser reaplicada após as chuvas.

Aplicação por cobertura: se o produtor capturar nas armadilhas um número superior a três moscas por armadilha, então se recomenda a aplicação por cobertura, que é a pulverização, geralmente tratorizada, em todo o pomar, com inseticidas liberados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para cada espécie frutífera. Mesmo assim, o produtor deve  continuar com a aplicação de isca-tóxica.

Inseticidas recomendados: O Sistema de Alerta Mosca-das-Frutas surgiu como uma alternativa para atender aos produtores de pessegueiro, após a retirada de vários produtos da grade de inseticidas liberados para uso nos pomares. Atualmente, para o controle da praga são utilizados os seguintes ingredientes ativos: Deltametrina (Decis), Fosmete (Imidan) e Malationa (Malathion), sendo o último, preferencialmente, como isca tóxica.

Fonte: Embrapa



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