Terceira geração de produtores rurais na região Noroeste do Paraná, Luiz Paulo Lorenzetti integra uma família que gerencia 4,4 mil hectares destinados à pecuária de corte e grãos, espalhados em três municípios: Santo Antônio do Caiuá, Mirador e Loanda. Os Lorenzetti são pioneiros no desbravamento dessa parte do território paranaense e também no investimento em irrigação. Considerando essa tecnologia, o Paraná ainda ocupa uma posição tímida, com apenas 126 mil hectares com a tecnologia, de um total de mais de 10 milhões de hectares destinados a lavouras e pastagens no Estado.
Apesar de o volume de áreas irrigadas ser pequeno, os resultados obtidos por produtores como Luiz são significativos. A expectativa dele é colher 150 sacas de milho por hectare nas áreas com irrigação contra 100 sacas por hectare nos talhões convencionais. A produtividade também é bem maior na pecuária com pastagem irrigada. Enquanto a média anual de ocupação na região é de 1 Unidade Animal (UA), nas áreas irrigadas da família Lorenzetti, esse número sobe para 5 UAs. “Ao todo, temos quase 100 hectares irrigados. A ideia é aumentar a área irrigada, mas com cautela”, compartilha Luiz.
A irrigação também tem reflexos na produtividade da la-ranja na propriedade Marco Valério Ribeiro, em Terra Rica, também no Noroeste. Dos 300 mil pés de laranja que mantém em sociedade com o Grupo Prat’s, Ribeiro tem 90 mil com irrigação por gotejamento. A tecnologia, segundo o produtor, é fundamental nos meses que antecedem a florada, para garantir uma boa disponibilidade de água e compensar a irregularidade de chuvas que costuma ocorrer onde fica a fazenda. “A produtividade média na região gira em torno de 40 toneladas por hectare. Quando você tem um sistema extremamente organizado e técnico, incluindo a irrigação, isso chega até a 60 toneladas por hectare”, revela.
Mobilização
Exemplos como de Lorenzetti e Ribeiro inspiraram o Sindicato Rural de Paranavaí a se mobilizar para conseguir facilitar a vida de quem quer investir na irrigação. Tudo começou com uma visita a Holambra, um reconhecido polo produtor de flores e plantas ornamentais no Estado de São Paulo. Uma das chaves para o sucesso dos produtores naquele local é a irrigação.
“Lá eles coletam a água da chuva e mantêm uma vazão constante nos rios, o que, além de beneficiar os cultivos com disponibilidade de água, também ajuda a controlar problemas de erosão que podem ocorrer com a enxurrada”, compartilha Ivo Pierin, presidente do Sindicato de Paranavaí.
Depois desse primeiro contato com a tecnologia, Pierin uniu esforços com produtores e outras instituições representativas do Noroeste para reivindicar medidas de incentivo à prática aqui no Paraná. O resultado foi a criação, pelo governo do Estado, do Programa Irriga Paraná. A proposta, lançada em setembro de 2019, agora está em fase final de regulamentação. A intenção é que as melhorias previstas pela iniciativa estejam em pleno funcionamento já para o próximo ano safra.
De acordo com Benno Henrique Weivert Doetver, coordenador estadual do programa e da área de recursos naturais do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar-Emater, dentro da iniciativa, uma das ações é a redução na taxa de juros em até 3% nos financiamentos para aquisição e implantação de equipamentos de irrigação. Outra medida em andamento, segundo o dirigente, é a redução e/ou isenção do ICMS incidente sobre esses produtos. Além disso, há previsão de facilitar o pedido e a análise das solicitações de outorgas para uso de água para esse fim no Estado.
Ainda segundo Doetver, um dos objetivos do programa é criar uma rede integrada de informações ao produtor, com dados meteorológicos e assistência técnica para otimizar o uso dos recursos hídricos. “O que estamos notando é que essa mobilização que houve na região não foi única e exclusivamente pela irrigação, mas pelo próprio modelo de negócio que está se propondo. A irrigação é uma tecnologia dentro de propostas para melhorar a produtividade”, analisa.
Paranavaí pode se tornar polo de irrigação
Ivo Pierin, presidente do sindicato rural do município, revela que Paranavaí está em vias de conseguir se tornar um Polo de Agricultura Irrigada, por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A iniciativa prevê a alavancagem do uso dessa tecnologia por meio de um trabalho conjunto entre as organizações dos produtores rurais irrigantes e as diversas esferas de governo. Até o momento, há quatro polos de irrigação reconhecidos no país: dois em Goiás, um na Bahia e um no Rio Grande do Sul.
Um dos pré-requisitos para se tornar um Polo de Agricultura Irritada é ter produtores organizados em uma instituição representativa. O Sindicato Rural de Paranavaí contribuiu, nesse sentido, para a criação da Associação dos Produtores Irrigantes do Paraná (Aspip).
Segundo Demerval Silvestre, presidente da Aspip, é necessário seguir em direção à facilitação de investimentos em irrigação. “É preciso usar a inteligência, inovar com tecnologias, com a questão ambiental levada a sério, mas com parâmetros técnicos, não com achismos. Somente com ciência e seriedade chegaremos numa relação ganha-ganha”, comenta.
No dia 17 de fevereiro, Pierin e Silvestre participaram de um evento na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), em Curitiba, que debateu a importância da irrigação no Estado. Representantes da classe e especialistas pediram mais apoio ao setor, frisando a necessidade de desburocratização de alguns pontos que impedem um maior desenvolvimento de áreas irrigadas, como o dos custos dos equipamentos, criação de linhas de crédito, agilidade para a concessão de licença e outorga para o uso da água dos rios.
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Fonte: Sistema FAEP