Antes mesmo da safra brasileira começar a ser pensada, os percalços climáticos sofridos no cinturão agrícola dos Estados Unidos pareciam trazer perspectivas extremamente positivas para os preços internacionais do milho. Com a colheita finalizada por lá, viu-se que o tamanho do problema não era tão grande e as atenções se voltam para as safras da América do Sul.
Estados Unidos
A safra 2019/2020 norte-americana foi marcada pelos volumes recordes de chuvas. Entre abril e outubro deste ano, o cinturão agrícola registrou chuvas muito acima da média, fato que atrasou significativamente o progresso da cultura e prejudicou a produção e a qualidade do grão.
“Com os atrasos no início do ciclo, a colheita do cereal também aconteceu mais tarde, inclusive após a ocorrência de neve em algumas áreas, o que resultou em milho com umidade muito alta”, afirma a consultoria INTL FCStone.
A preocupação dos maiores produtores mundiais do grão, responsáveis por Diante dessa um terço de todo o milho do mundo, fizeram as cotações do cereal dispararem 16% em Chicago, no segundo trimestre deste ano, fazendo os produtores do Brasil e Argentina sonharem com grandes expansões de área, de olho na alta rentabilidade que se mostrava viável.
“Além de a quebra da safra nos EUA não ter sido tão grande quanto se esperava, as exportações mais fracas dos EUA, iniciou um movimento de queda das cotações, que voltaram para níveis mais próximos aos registrados antes dos problemas no plantio da safra norte-americana”, diz a consultoria.
Para piorar, a recuperação das safras da América do Sul e da Ucrânia resultou em uma grande competição no mercado exportador do cereal, favorecida também pelas moedas mais desvalorizadas desses países e um dólar fortalecido.
Demanda fraca
Com uma boa oferta do grão, o mercado passou a olhar mais atentamente para a demanda do cereal. Em novembro, o Departamento de Agricultura do Estados Unidos (USDA) cortou, mais uma vez, a estimativa de exportação de milho dos EUA, ficando em 46,7 milhões.
“Caso concretizada, será o menor volume desde a safra 2012/2013. Além disso, a demanda mundial do cereal, como um todo, também passa por um momento de estagnação, diante dos casos de peste suína africana da China e em países do sudeste asiático”, conta a INTL FCStone.
Safras grandes na América do Sul
Se os norte-americanos estavam apreensivos em relação as suas safras, os sul-americanos devem colher grandes produções, indica a consultoria INTL FCStone. Novos recordes podem até não serem batidos, mas tudo indica que as produções de milho serão bastante grandes no Brasil e na Argentina, principalmente.
“Após um recorde de produção na Argentina no ciclo 2018/2019, em 50,6 milhões de toneladas, de acordo com a Bolsa de Buenos Aires, o plantio da safra 2019/2020 do país está mais adiantado que no ano anterior, com estimativas indicando uma área plantada em 6,3 milhões de hectares, o que pode resultar em mais uma grande safra, ao redor de 50 milhões de toneladas”, diz.
No Brasil, a safrinha 2018/2019 alcançou uma também produção recorde de 73,2 milhões de toneladas, segundo a Conab, levando a uma produção total histórica de 100 milhões de toneladas.
“Em relação à safra 2019/2020, o plantio de milho verão registrou atrasos frente à safra anterior, mas as estimativas apontam para uma produção em linha com a safra passada, com o número da em torno de 26,6 milhões de toneladas”, conta a INTL FCStone.
Agora a grande dúvida fica para o plantio da segunda safra no começo de 2020. Com os atrasos iniciais no ciclo da soja, há preocupações com a janela ideal de plantio do milho de inverno. Em várias regiões, o ideal é se plantar até 20 de fevereiro ou até, no máximo, no final do mês.
“Um ciclo mais tardio poderia acabar limitando a continuidade do crescimento de área da safrinha, devido a preocupações com maiores riscos climáticos. Por outro lado, a demanda muito aquecida pelo milho brasileiro, tanto interna, para ração e etanol, quanto para exportações, tem sustentado os preços, o que pode ser um incentivo para o plantio da safrinha, mesmo se o período já não for o melhor”, pontua a consultoria.
Exportações
Caso as exportações sejam tão positivas quanto se espera, um recorde ao redor de 40 milhões de toneladas, o primeiro semestre deve enfrentar uma oferta mais restrita de milho no mercado doméstico, o que é um incentivo para uma maior área de safrinha.
Safra 2020/2021
Além disso, nos próximos meses, as expectativas para a safra norte-americana 2020/2021 começam a ganhar força. Perspectivas iniciais do USDA apontam para uma crescimento importante da área de milho. Esse aumento ocorreria mesmo com as dúvidas pelo lado da demanda principalmente em relação às exportações norte-americanas.
“É bom ressaltar que a demanda mundial por milho tende a crescer, superando essa estagnação atual, acompanhando o maior consumo para ração e para biocombustíveis, mesmo que mais no médio prazo. Ademais, o resultado da safra da América do Sul e as expectativas para a safrinha brasileira também podem ter alguma influência sobre a decisão do produtor norte-americano”, finaliza.