Mesmo com o avanço da colheita de trigo, as cotações do cereal seguem em alta na maioria das regiões acompanhadas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Isso ocorre porque a disponibilidade de trigo para uso alimentício, de melhor qualidade, é considerada pequena. Boa parte tem sido prejudicada pelas chuvas que atingem a região Sul do País nesta fase de colheita e também nas anteriores, de desenvolvimento das lavouras. Segundo colaboradores do Cepea, parte da produção não tem alcançado a classificação de trigo, enquadrando-se como triguilho, que tende a ser direcionado para ração animal.
Com esse cenário, produtores que têm em mãos trigo de boa qualidade seguem retraídos, respaldados também na maior paridade de importação. Apesar de a moagem estar abaixo do esperado para o período, algumas empresas se mantêm interessadas em adquirir o trigo no curto prazo. Têm chamado a atenção ainda as negociações relativamente intensas entre empresas do Nordeste com vendedores do Sul, o que também ajuda a sustentar os valores.
Ao longo deste mês (até o dia 27), no mercado de lotes (negociações entre empresas), os preços aumentaram 1,5% no estado de São Paulo, 3,9% no Paraná e 4,7% no Rio Grande do Sul. No mercado de balcão (preço pago ao produtor), a elevação está em 5,9% no Rio Grande do Sul e em 4,9% no Paraná.
Dados da Emater do dia 22 indicaram que, no Rio Grande do Sul, depois de enchentes, granizo e altas temperaturas, a colheita chegava a 20% da área. A produtividade tem se mostrado cada vez menor (entre 1.800 kg/ha e 2.000 kg/ha) e o pH de muitos lotes não tem sido suficiente para que o grão seja classificado como trigo. No Paraná, segundo o Deral/Seab, 78% da área havia sido colhida até o dia 19 – último dado disponível. Do trigo já colhido em algumas regiões paranaenses como Pato Branco, muitos lotes apresentaram pH inferior a 75 e grande percentual de grão germinados e avariados, resultando em triguilho.
Em São Paulo, produtores também têm ofertado trigo com baixa qualidade, classificado com pH abaixo de 78. Segundo colaboradores do Cepea, a demanda no estado tem crescido por esse grão, usada por moinhos para blend com o grão importado em períodos anteriores.
Contexto – Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a área nacional de trigo diminuiu 9,8% nesta temporada em comparação com a anterior, limitando-se a 2,49 milhões de hectares. No Rio Grande do Sul, a queda foi de 19,8%, para 914 mil hectares; em Santa Catarina foi de 14,1%, para 65 mil hectares e, no Paraná, de 3,8%, para 1,34 milhão de hectares. Na região Sudeste, por outro lado, houve elevação da área de trigo, especialmente em São Paulo, com aumento de 18,1%.
A Companhia estimava no início de outubro produtividade média nacional 23,6% maior que a da temporada anterior, de 2.675 kg/ha. Para tanto, o rendimento das lavouras gaúchas aumentaria 85,9%, com a média chegando a 2.472 kg/ha – no entanto, o clima tem prejudicado os resultados. A oferta nacional, segundo relatório de 9 de outubro da Conab, cresceria então 11,4%, para 6,65 milhões de toneladas. Mesmo assim, as importações de 2015 seriam de 5,35 milhões de toneladas, o consumo interno, de 10,87 milhões de toneladas e as exportações, de cerca de 1 milhão de toneladas.
Fonte: Cepea/Esalq