As exportações de milho do Brasil em agosto seguem mais baixas em um período do ano em que embarques do cereal geralmente ganham ritmo, e especialistas avaliam que as vendas externas do país deverão despencar em 2018 sob influência do tabelamento do frete rodoviário.
“O frete mínimo vai arrasar… O milho tem um preço que não suporta o frete, agora põe uma tabela que coloca uma desvantagem maior”, afirmou o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes, em entrevista à Reuters.
Até a terceira semana de agosto, segundo dados do governo divulgados nesta segunda-feira, os embarques no acumulado do mês somaram 1,15 milhão de toneladas, ante 1,17 milhão em todo o mês de julho.
Mas, faltando duas semanas para o fim do mês, as exportações apontam queda na comparação com agosto do ano passado, quando somaram 5,26 milhões de toneladas.
“Mesmo embarcando um pouco, não vai ter mais o que a gente esperava. Esperávamos 32, 33 milhões de toneladas no ano, vinha subindo, e se fala agora em 20 milhões”, acrescentou Mendes.
Para ele, o número da Anec para as exportações de milho em 2018, de 27 milhões de toneladas, deve ser revisado.
“Ninguém mais acha que chega nisso”, acrescentou.
No ano passado, as exportações brasileiras superaram 30 milhões de toneladas.
A expectativa de queda ocorre apesar de o Brasil, que tem sido o segundo exportador global de milho atrás dos EUA, ter embarcado 6,36 milhões de toneladas de janeiro a julho, aumento de 15 por cento ante o mesmo período de 2017, segundo dados do governo.
Contudo, segundo Mendes, a queda na exportação no ano só não será maior porque o porto de Santos, que responde por 50 por cento das exportações de milho do país, conta com ligação ferroviária com áreas produtoras.
O Congresso Nacional aprovou no início do mês passado medida provisória assinada pelo presidente Michel Temer que cria política de preços mínimos para frete rodoviário.
A constitucionalidade da medida, implementada após a greve dos caminhoneiros, foi questionada por integrantes do setor produtivo no Supremo Tribunal Federal (STF), e uma audiência entre as partes está marcada na corte para semana que vem.
“Estou muito pessimista, esse negócio é inconstitucional, ele não teria que olhar a parte comercial”, disse Mendes, ressaltando que mesmo as grandes empresas exportadoras lidam com margens de lucro de 1 a 2 por cento, que ficam inviabilizadas pela tabela.
Ele disse ainda que o setor não tem como repassar os custos, uma vez que os preços dos grãos são commodities negociadas em bolsa, e ressaltou que o frete é um custo variável. “Quanto mais se vende, mais o custo incide”, explicou, lembrando que o ponto fraco do setor no Brasil é a logística, concentrada no modal rodoviário.
SOJA TOMA LUGAR
Enquanto os embarque de milho em agosto seguem fracos, as exportações de soja no acumulado das três primeiras semanas do mês atingiram quase 5 milhões de toneladas, ante 5,9 milhões de toneladas no mês fechado do ano passado.
Com uma forte demanda da China, em meio à aplicação de uma tarifa pelos chineses sobre o produto dos EUA, os exportadores brasileiros estão focando na oleaginosa, que tem um valor mais competitivo, em vez do milho.
“Isso acontece com dilatação da janela de exportação de soja, as grandes tradings, que têm compromisso de movimentar grãos na estrutura ferroviária, acabam optando pela soja…”, disse o analista Aedson Pereira, da Informa Economics IEG FNP, citando também um atraso na colheita de segunda safra, além da tabela do frete.
Dessa forma, ele ressaltou que a consultoria está reduzindo as perspectivas de embarques do Brasil. “Mesmo o dólar subindo, não está sendo suficiente para permitir o escoamento”, declarou, destacando que as exportações do país deverão ficar entre 23 milhões e 25 milhões de toneladas em 2018, numa visão otimista.
Entre janeiro e julho, as exportações de soja somam 56,5 milhões de toneladas, aumento de mais de 10 por cento na comparação anual.
Fonte: Reuters