A estimativa de uma área recorde com plantações de nogueiras no Rio Grande do Sul não se refletirá em uma maior produção de noz pecã. Mesmo sem números consolidados no atual ciclo, que está em plena fase de colheita, a expectativa da Emater é de uma redução de 40% da produtividade por planta. Assim, de uma média de 2 mil quilos por hectare, não deve ultrapassar 1,2 mil quilos.
O vilão mais uma vez foi o fenômeno El Niño, que trouxe excesso de chuvas em plena primavera, prejudicando a polinização das árvores — realizada pelo vento. A esperança dos agricultores é que, neste ano, com possibilidade de La Niña, os períodos de seca sejam maiores, favorecendo as plantas.
— A queda é resultado de duas situações: menor quantidade colhida por planta ou produto sem qualidade, sem a amêndoa — explica Derli Paulo Bonine, assistente técnico regional em Fruticultura da Emater-RS de Lajeado.
A situação não se restringe ao atual ciclo. Nos últimos dois anos, houve perdas significativas em função da umidade — determinante para o aparecimento de pragas. Entre os problemas, Bonine cita a caducifólia, quando as folhas caducam e caem. Outro é a sarna, causada por fungo durante a floração e que prejudiza o desenvolvimento das nozes e, quando estas se formam, são fora de padrão.
Para combater as doenças, produtores aplicam tratamentos intensivos. De acordo com Leandro Pitol, diretor da Nozes Pitol, foram aplicadas entre quatro e cinco pulverizações, quando, em safras normais, ficam em duas ou três:
— Tivemos um trabalho maior para manter a atual safra com qualidade entre média e boa.
Mais do que falta de padrão, o problema deste ciclo foi o volume.
— Esta foi a pior safra em termos de quantidade. A indústria ficou praticamente sem operar por seis meses. Notamos que a variação climática reduziu o volume em algumas regiões. Alguns produtores foram muito bem, outros não. Temos uma boa análise, pois compramos de mais de 2 mil parceiros, de 500 municípios da Região Sul — detalha Edson Ortiz, diretor da Divinut, indústria de nozes de Cachoeira do Sul.
A interrupção das atividades não foi excluvidade da Divinut.
— Ficamos 90 dias parados pela falta de matéria-prima e reiniciamos somente em maio — conta Pitol, sócio e responsável pela área comercial da empresa. Ele comanda os negócios da família ao lado do irmão, Lenio, responsável pelos viveiros, e do pai Luizinho, que faz as entregas de mudas e visitas a produtores.
Estímulo que vem da indústria
Área plantada passou de 1,77 mil hectares em 2011 para 3,4 mil hectares em 2014, são cerca de 700 novos hectares ao anoFoto: Divulgação / Nozes Pitol
A noz pecã é um produto cobiçado. Toda a produção tem mercado garantido, pois está bem abaixo da necessidade das indústrias. As empresas tentam garantir a manutenção e expansão de seu portfólio, que inclui nozes com casca, descascadas, inteiras, moídas, in natura, doces e salgadas, chá de nozes e rapaduras. Isso faz com que as processadoras invistam também nas vendas de mudas, com prestação de assessoria técnica aos agricultores que decidem cultivar o fruto.
No Rio Grande do Sul, a área plantada praticamente dobrou em três anos, passando de 1,77 mil hectares em 2011 para 3,4 mil hectares em 2014, segundo dados mais recentes da Emater/RS. A média é de 700 novos hectares ao ano. Estes números consideram apenas produção comercial, diferentemente do IBGE que quantifica o cultivo total. Os preços da noz em casca também estão em alta.
— Enxergamos as mudas como um meio, o fim é a industrialização — diz Edson Ortiz, da Divinut, destacando a necessidade de vender a planta por falta de matéria-prima.
Para se ter uma ideia da demanda, a capacidade produtiva da Divinut é de 6 mil quilos ao dia, mas o processamento médio é de mil quilos/dia. Isso faz com que alguns projetos estejam engavetados. Ortiz pesquisa óleo de noz há quase 10 anos, assim como de petiscos.
— Só não levamos adiante por falta de matéria-prima — lamenta Ortiz.
Elaborar óleo de noz também faz parte do projeto de longo prazo da Nozes Pitol e o impedimento é o mesmo. Leandro Pitol lembra que, para cada litro de óleo, são necessários cinco quilos do fruto. Esta conta demonstra o desafio das empresas. A escassez da matéria-prima também se reflete no dia a dia da empresa de Anta Gorda, que tem capacidade para mil quilos ao dia, e que deve processar a metade, em torno de 500 quilos.
Atualmente, a comercialização de enxertos de nogueiras pecã é a principal atividade da Pitol. São 2,5 mil árvores em 30 hectares, com produção estimada entre 15 mil a 20 mil quilos. Pela qualidade e alta produtividade, parte dos frutos das plantas mais velhas são usados para matrizes, através do sistema de enxertia por borbulha.
— É um investimento de médio e longo prazo — afirma.
Somente a Pitol comercializou 40 mil mudas em 2015 e, para este ano, estima chegar a 50 mil.
Outra forma de estimular novas áreas de plantações é a promoção de cursos de cultivo gratuitos promovidos pela Divinut. Os próximos ocorrem em 28 de maio, 25 de junho, 23 de julho e 27 de agosto. Além destas datas, serão também ministrados cursos exclusivos a produtores parceiros.
Metade da safra brasileira é gaúcha
A menor quantidade colhida no Rio Grande do Sul impacta diretamente no volume total do país, já que o Estado é responsável por 49% da produção brasileira de noz pecã, ou seja, a metade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O cultivo concentrado é explicado pelo clima, já que a variedade precisa de frio para pleno desenvolvimento. Dependendo do tipo, necessita entre 300 a 500 horas por ano com temperaturas abaixo de 8°C e 7,2°C. Também há plantações em Santa Catarina, Paraná e em regiões serranas de São Paulo.
O espaçamento entre as árvores é de sete a 10 metros, dependendo da cultura.
— A árvore se desenvolve melhor com clima seco, solo profundo, frio, geada e altitude mínima de 40 metros acima do mar — explica Leandro Pitol, diretor da Nozes Pitol.
Fruto da América do Norte se adapta ao Sul
Noz tem origem nos Estados Unidos, que produz 70% do cultivo mundial do fruto, outros 20% vêm do MéxicoFoto: Néia Produções / Divulgação Pitol
A produção de pecã está concentrada na América do Norte. A noz tem origem nos Estados Unidos, responsável por mais de 70% da produção mundial. Outros 20% vêm do México. Ambos têm árvores nativas. Atualmente, os países com maior expansão são Argentina, Brasil e África do Sul. Em menor volume, Austrália, China, Israel, Uruguai e Peru vêm investindo na cultura.
— Há poucos países produzindo, pois a nogueira não tolera muito frio ou muito calor. Outra questão é que, embora alguns locais ofereçam temperaturas favoráveis, podem não ter solo ideal ou a quantidade de água suficiente. Pela arquitetura da planta, a polinização é feita através do vento. Outro fator que demonstra o potencial da noz é o aumento de consumo em países como na China, por uma questão de saúde — conta Edson Ortiz, diretor da Divinut.
Segundo a Emater, 99% da noz pecã consumida no Brasil é importada, o que reforça a necessidade de ampliar a área plantada.
— A demanda é constante, a produção mundial não cresce porque o investimento é alto e demora a retornar. Mas a área não fica inativa, como espaçamento é grande, é possível criar animais ou plantar outras culturas. Além disso, o retorno financeiro é satisfatório — detalha Derli Paulo Bonine, assistente técnico regional em Fruticultura da Emater/RS de Lajeado.
No campo, o sombreamento da nogueira traz conforto térmico aos animais – vacas e ovelhas — nas épocas de altas temperaturas e, no frio, as árvores perdem as folhas e permitem maior incidência de sol. Os produtores também podem adotar cultivos anuais antes de a nogueira fazer sombreamento em toda a área, como feijão, milho, soja e fumo.
Fonte: Zero Hora