Na retomada das relações com os Estados Unidos, a presidente Dilma Rousseff assumiu, ao lado do colega norte-americano Barack Obama, o compromisso de zerar o desmatamento ilegal e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030. A meta de recuperação é pelo menos 50% inferior ao passivo ambiental brasileiro, hoje calculado em 24 milhões de hectares. Além de tímido, o objetivo revelou a leniência brasileira com os contumazes predadores do patrimônio natural. A falta de fiscalização e de ações mais severas não permite que o Brasil retome posição de vanguarda na preservação da flora e da fauna nacionais.
O último informe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que, em 16 anos (de 1997 a 2013), o desmatamento na Amazônia Legal totalizou 248 mil km² – praticamente a área do Estado de São Paulo. Hoje, restam menos de 15% de Mata Atlântica ao longo da costa – entre 2004 e 2013, o ecossistema perdeu uma extensão de 1,120 milhão de km².
A poucos meses da Conferência de Paris sobre Mudança do Clima, que ocorrerá de 30 de novembro a 11 de dezembro, o Brasil ainda não tem metas fixadas para conter as emissões de efeito estufa. A dificuldade hoje é maior devido à crise energética, que levou o país a recorrer às termoelétricas. A projeção é de que a demanda por energia deverá crescer cerca de 70% nos próximos 15 anos, o que poderá elevar para 800 milhões de toneladas as emissões de CO2. Beneficiado pela natureza, o país tem condições de diversificar as fontes de energia e se somar às nações que estão empenhadas na redução dos gases que afetam o equilíbrio climático.
Diferentemente de muitos países, o Brasil tem condições de oferecer ações mais expressivas na batalha pela preservação dos recursos naturais. Para isso, seria fundamental transformar em política do Estado a meta de desmatamento zero. Valorar e qualificar a exploração sustentável da biodiversidade. Rever os processos de produção industrial. A expansão da agricultura deveria se dar por meio da recuperação de áreas degradadas, o que colocaria o país no mais alto patamar na produção de alimentos, tanto para o mercado interno quanto externo, sem a necessidade de aberturas de mais frentes de agropecuária.
Mais: o país conta com tecnologias, desenvolvidas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), capazes de alavancar o setor com reduzidos danos aos ecossistemas. A agricultura familiar migra para agroecologia consciente de que sem a preservação do ambiente estará fadada à extinção.
Faltam decisão e empenho políticos para que o país seja referência mundial na questão ambiental. O Estado está desaparelhado para fazer cumprir a lei. O número de fiscais e os investimentos são insuficientes para transformar em realidade as normas e os projetos voltados ao uso sustentável da riqueza natural. Para evitar que o compromisso da presidente caia no vazio, é preciso rever a estrutura do poder público. O Brasil, com tamanho potencial, não pode descumprir o compromisso com a preservação da vida no planeta.
Fonte: Correio Braziliense