NOVAS PRAGAS

MANEJO DE PRAGAS QUARENTENÁRIAS

Embrapa desenvolveu novos métodos para controle químico e biológico do ácaro-hindustânico-dos-citros e do ácaro-vermelho-das-palmeiras, pragas consideradas quarentenárias. Nos últimos anos, quatro novas pragas exóticas foram detectadas somente em Roraima, estado com o maior número de entrada desses organismos brasileiro.

No caso do ácaro-hindustânico-dos-citros, um método que tem se mostrado eficiente é o tratamento fitossanitário para frutos cítricos em pós-colheita, que consiste em lavar e esfregar os frutos com produtos específicos, e posteriormente fazer a aplicação de cera. O processo elimina 99,9% dos ácaros presentes. Para o ácaro-vermelho-das-palmeiras, a Embrapa tem testado, com sucesso, produtos sintéticos para controle químico e também selecionado ácaros predadores que se alimentam da praga em questão.

As pragas quarentenárias podem ser plantas, animais ou microrganismos que, mesmo sob controle permanente, constituem ameaça à economia agrícola de um País ou região. A simples presença delas em determinado local pode comprometer a comercialização de produtos e implicar no impedimento das exportações.

A região Norte e as pragas quarentenárias

Atualmente, a região Norte é a principal porta de entrada das pragas quarentenárias no Brasil, e Roraima é o estado que apresenta maior número de registros no País. Há pelo menos 66 pragas quarentenárias ausentes (ainda não detectada em solo brasileiro) já estabelecidas em países vizinhos que compõem a Bacia Amazônica – Equador, Venezuela, Bolívia, República Cooperativa das Guianas, Suriname, Colômbia, Peru e Guiana.  Algumas com alto risco de entrada pela região.

Um dos motivos da alta incidência desses organismos está no aumento, nos últimos anos, do fluxo de mercadorias e pessoas circulando pelas fronteiras estaduais e internacionais dos estados da região Norte. “Roraima, por exemplo, tem 964 km de fronteira com a Guiana Inglesa e 958 km com a Venezuela”, diz a pesquisadora da Embrapa Roraima, Elisângela Fidelis. Outros fatores que contribuem para esse cenário são a dificuldade de acesso e fiscalização, a falta de pessoal habilitado para identificação de espécies e o clima favorável ao estabelecimento de insetos e ácaros.

Apesar de o impacto econômico ainda não ter sido sentido nacionalmente, já que a região participa com apenas 4% do valor da produção agrícola nacional (BCB, 2012), o estrago que uma praga quarentenária pode ocasionar, caso se espalhe por todo o País, é devastador.

A lagarta Helicoverpa armigera é um exemplo recente dos danos econômicos que esses organismos causam ao agronegócio brasileiro. Considerada uma praga ausente até 2013, a lagarta rapidamente se espalhou por diversos estados brasileiros. Os prejuízos estimados pela disseminação da Helicoverpa, que ataca principalmente as lavouras de soja, milho e algodão, giram em torno dos 10 bilhões de reais, segundo informações do gerente-geral da Embrapa Gestão Territorial, Claudio Spadotto.

Até o momento ainda não foi possível determinar com exatidão como a Helicoverpa armigera entrou no País. Outras pragas quarentenárias que trouxeram grandes danos econômicos ao Brasil foram a vassoura-de-bruxa do cacaueiro, o bicudo-do-algodoeiro e a ferrugem-asiática-da-soja.

Para Carlos Terossi, gerente da Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (Aderr), órgão que controla e fiscaliza o trânsito de pessoas e mercadores interestaduais, a incidência de uma praga quarentenária é extremamente prejudicial aos cultivos agrícolas, ao comércio interno e externo e também à diversidade de espécies nativas.

- Hoje, a fiscalização da Aderr é feita por meio de barreiras fitossanitárias em vários pontos de Roraima. O controle entre os países é realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – explica.

Terossi ressalta ainda a importância do trabalho de pesquisa para combater esses organismos:

- As ações da Embrapa e de outras instituições são extremamente relevantes, pois buscam combater o cerne do problema, que são as pragas quarentenárias. Essas pesquisas, juntamente com a fiscalização das Agências de Defesa e do Mapa, formam um conjunto de ações que trazem maior segurança à nossa agricultura – afirma.

Ácaro-hindustânico-dos-citros

Uma das tecnologias já desenvolvidas para lidar com o problema é o tratamento fitossanitário de frutos cítricos em pós-colheita para a eliminação do ácaro-hindustânico-dos-citros. A praga é originária do Sul da Índia e foi encontrada em Roraima em 2008. Ela ataca principalmente plantas de laranja, limão e tangerina. Também existem relados de ataques a sorgo, coco e acácia.

A praga representa um risco para a agricultura brasileira, pois pode reduzir o valor comercial dos frutos decorrente da formação de manchas e diminuição da produtividade. Fidelis explica que os estudos foram conduzidos para obter um método para tratamento quarentenário em frutos pós-colheita que garantisse a remoção de ovos e formas ativas do ácaro.

Após diversos experimentos, a Embrapa Roraima, em parceria com o Instituto Biológico de Campinas, desenvolveu um método eficiente de tratamento.

- Atualmente, para que estes frutos saiam de Roraima, é obrigatório o beneficiamento seguido de inspeção. O beneficiamento consta da imersão de frutos em solução de cloro a 200 ppm por 10 minutos, seguida de lavagem com solução de detergente neutro, escovação, secagem e aplicação de cera – diz a pesquisadora.

O beneficiamento é hoje exigido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento por meio da Instrução Normativa (IN) Nº 08 de 2012, que estabelece normas de controle do trânsito e comercialização de frutas cítricas provenientes de Roraima para outros estados brasileiros.

Apesar de ter aumentado o custo de produção, o tratamento contribuiu para aumentar a qualidade dos frutos cítricos comercializados.

- A escovação e aplicação de cera deixam os frutos com melhor aparência e higienização, podendo inclusive aumentar seu valor comercial – ressalta Fidelis.

Segundo o produtor Renato Lopes, a maior vantagem do método, no entanto, é a possibilidade de comercializar os frutos para outros estados. Com as barreiras impostaspor causa da presença do ácaro em Roraima, as frutas produzidas tinham que ser consumidas pelo mercado local, que não comportava a produção de laranja, limão e tangerina, ocasionando desperdícios e queda de investimento no setor de frutas cítricas.

- Agora, com o tratamento fitossanitário, é possível escoar a produção para estados como o Amazonas e ampliar cada vez mais o mercado. Antes trabalhávamos com 25 hectares e hoje já expandimos para 80 – revela Lopez.

Ácaro-vermelho-das-palmeiras

No caso do ácaro-vermelho-das-palmeiras, foram feitos trabalhados com testes de eficiência de acaricidas, que poderão ser recomendados para controle desse ácaro no campo. Há também estudos para detectar a eficiência de ácaros-predadores, que poderão ser usados para o controle biológico da praga.

O ácaro-vermelho-das-palmeiras ataca plantas de coqueiro, assim como outras palmeiras, tais como açaí, buriti, pupunha, palmeira-areca, e também bananas e alguns tipos de plantas ornamentais, como helicônias e estrelícias. A lista de hospedeiros desse ácaro já chega a 90 espécies de plantas. A praga se alimenta de folhas e os sintomas típicos do ataque são amarelecimento e posterior ressecamento. O controle químico é dificultado pelo alto porte das plantas hospedeiras, especialmente as palmeiras.

- Esta tem sido considerada uma praga extremamente invasiva. Em apenas seis anos essa espécie se dispersou para 19 países das Américas, e há uma estimativa de que esse ácaro se disperse 1.000 km por ano – alerta a pesquisadora Fidelis.

Desde 2007, sabe-se da ocorrência do ácaro-vermelho-das-palmeiras na Venezuela, responsável pela redução em 75% na produção de coqueiros no País. Em 2009, a presença do ácaro foi verificada no Estado de Roraima.  Apesar das barreiras fitossanitárias impostas, em agosto de 2011, o ácaro foi encontrado em Manaus (AM). Assim, as proibições de trânsito de plantas hospedeiras foram impostas para os dois estados.

Segundo Fidelis, a maior preocupação é fazer com que o ácaro-vermelho-das-palmeiras não chegue ao Nordeste, onde o coqueiro é extensivamente cultivado.

- A maioria dos coqueirais recebe poucos cuidados em relação ao controle de pragas e doenças e por isso, se o ácaro-vermelho-das-palmeiras atingir aqueles campos de cultivo, o impacto econômico poderá ser muito elevado, comprometendo mesmo a subsistência de inúmeros pequenos produtores – adverte.

Para se minimizar os problemas causados pelo ácaro, foram realizados estudos com potenciais inimigos naturais a serem utilizados para o controle biológico da praga. Até o momento foi verificado que o ácaro predador Amblyseius largoensis (Phytoseiidae) apresenta alto potencial para o controle do ácaro-vermelho-das-palmeiras. Populações desse predador também foram trazidas da Ilha de Reunião e Tailândia (possível região de origem do ácaro-vermelho-das-palmeiras). Em estudos já foi verificado que a população da Ilha de Reunião é a que mais eficientemente  controla o ácaro.

Além disso, já foram realizados testes com acaricidas sintéticos para controle químico dessa praga. O acaricida abamectina se mostrou como produto mais promissor, sendo eficiente para o controle rápido eficaz da praga, com eliminação de mais de 90% da população. Também foi testada a eficiência dos fungos entomopatogênicos Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, e este primeiro releva potencial para o controle.

Tipos de Pragas Quarentenárias

As Pragas Quarentenárias são organismos geralmente exóticos para determinado País e podem ser transportados de um local para outro em animais, plantas, por meio de frutos e sementes infestadas ou mesmo por migrações naturais por meio de vento. A introdução de uma praga quarentenária pode trazer sérios impactos econômicos, sociais e ambientais às regiões não afetadas.

Segundo o Mapa, as pragas ditas quarentenárias podem ser divididas em duas classes:

Ausentes (A1) – Não presentes no País, porém com características de serem potenciais causadores de importantes danos econômicos, caso introduzidas. Estão neste grupo o ácaro-da-panícula-do-arroz e o amarelecimento letal do coqueiro, já presentes em países pan-americanos.

Presentes (A2) – De importância econômica potencial, já presentes no País, porém não se encontram amplamente distribuídas e possuem programa oficial de controle. É o caso do ácaro-hindustânico-dos-citros e do ácaro-vermelho-das-palmeiras.

Fonte: Embrapa Roraima

 



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