O desenvolvimento econômico e social do campo tem vantagens concretas. Num momento em que o país registra desemprego, a agricultura abre vagas. Mas indícios como esse não têm sido suficientes para estimular novos investimentos em educação técnica envolvendo a população que vive no campo. No Paraná, há inclusive corte de verbas, uma medida que não mede consequências e merece ser revisada.
A contribuição do campo para o emprego foi atestada na última semana. O país perdeu 345 mil empregos formais no primeiro semestre, conforme o Ministério do Trabalho. Na conta que toma o número de admissões e diminui o total de demissões, o resultado semestral foi negativo no comércio, na indústria e na construção civil, como já se imaginava; e positiva na prestação de serviços e na agricultura –e este foi o único setor que abriu vagas em junho, com impulso das safras do café e da laranja.
O resultado do emprego urbano deveria ser menos pior, mas o do meio rural, por sua vez, poderia ser ainda melhor. A abertura de vagas de trabalho não precisa depender apenas da sazonalidade das safras ou de grandes investimentos industriais. O trabalho no campo ainda tem muito a avançar enquanto atividade empreendedora, que torna viáveis e lucrativas pequenas unidades.
Para isso, no entanto, é preciso incentivo a quem já está no meio rural. A preparação dos jovens que vivem no campo mostra ser uma estratégia eficiente, abrindo espaço a novas ideias, motivando projetos, permitindo que as novas gerações continuem tocando pequenas e médias propriedades de forma viável. E não estamos falando de uma minoria. Com três quartos dos empregos no campo, a agricultura familiar produz mais de 70% dos alimentos consumidos pela população, no Paraná e no Brasil.
Corte no Paraná
Mas, em vez de elevar investimentos em educação qualificada e técnica nesta área, o Paraná está cortando. Na última semana, a Secretaria de Estadual de Educação confirmou que deve suspender repasses às associações responsáveis pelas casas familiares rurais – escolas alternativas com cursos direcionados a filhos de pequenos e médios produtores.
A despesa não era alta. Com cerca de R$ 5 milhões ao ano, o governo do estado era o maior patrocinador dessas escolas, que recebem também apoio de prefeituras, empresas, institutos e sindicatos. O impacto social e econômico do corte pode custar mais caro, para a sociedade como um todo.
O governo tem o direito de fazer questionamentos em relação às prestações de contas das casas familiares rurais. E faz sentido cortar convênios, que são vistos como despesas adicionais, em tempos de crise. No entanto, até que ponto isso justifica a suspensão dos repasses a esses projetos especificamente?
Com 42 dessas casas, o Paraná era apontado como exemplo para outros estados. É o maior número do país, que soma 273 unidades. Cerca de 20 estão fechando as portas e, sem a renovação dos convênios, as 42 ficarão vazias até 2017, quando os novos alunos deste ano (2015) esperam se formar. Por dois motivos centrais: é com os recursos estaduais que são pagos agrônomos e veterinários, zootecnistas, que dão caráter técnico aos cursos que sobraram; é a Secretaria da Educação que dá validade de ensino médio aos diplomas.
O governo do estado afirma que nenhum aluno das casas familiares rurais – formalmente matriculados nas escolas estaduais comuns –ficará sem estudo. Mas isso não garante que eles continuarão estudando, até pela dificuldade de acesso às salas de aula urbanas e pela mudança que isso provoca em sua rotina.
Não se trata de comparar despesas, mas de sensibilidade e de compromisso com o desenvolvimento. O método usado nas casas familiares rurais, o da pedagogia da alternância – em que os alunos ficam alojados nas escolas em semana sim, semana não –, tem sua eficiência reconhecida em âmbito internacional.
Mas, para estimular o emprego e a geração de renda no campo, não basta teoria, é investimento. O que se gasta hoje com projetos de educação dirigida é pouco diante dos benefícios comprovados. Não faz sentido classificar os cursos técnicos e de qualificação em agricultura como despesas dispensáveis. Ou avaliar os jovens do meio rural como um público comum, que pode se adaptar às escolas urbanas de uma hora para outra.
Educação Empreendedora
– alunos das casas familiares rurais passam uma semana alojados na escola e outra em casa, trabalhando e colocando em prática seus estudos e projetos.
– Filhos de pequenos produtores, assumem aos poucos a administração a propriedade e muitas vezes redefinem seu perfil, com exploração de novas alternativas de renda como pequenas agroindústrias.
– A fixação dos jovens no campo não só amplia o trabalho na agricultura e na pecuária como evita concentração de mão de obra no meio urbano.
Fonte: Gazeta do Povo