O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, defendeu, nesta quinta-feira (25), a diversificação das exportações, a ampliação do mercado chinês para novos produtos, maior cooperação no uso de biotecnologia, diálogo aberto e transparente e o fortalecimento das relações com os parceiros chineses.
Ao discursar na abertura do seminário “Agro em Questão: Agricultura e Biotecnologia – Brasil e China”, na sede da CNA, em Brasília, Martins destacou a importância dos chineses como os principais consumidores do agro brasileiro e o reconhecimento do país asiático ao Brasil “como grande provedor da sua segurança alimentar”. “A China, grande potência econômica, conta com os nossos produtores para garantir essa segurança no futuro.”
O evento reuniu o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Leite Ribeiro, integrantes do governo e especialistas que debateram o tema.
O presidente da CNA ressaltou que, em 2018, as exportações para aquele mercado responderam por 35% das vendas externas totais do agro e citou os investimentos de US$ 55 bilhões de empresas chineses no país nos últimos 10 anos, “boa parte direcionada ao agronegócio e para melhorias em logística e infraestrutura”.
“São investimentos que fazem a diferença para a nossa produção e para nossos homens e mulheres no campo. Por todos os motivos, a China precisa estar no topo das prioridades da nossa diplomacia e da nossa política comercial”, afirmou.
Segundo Martins, a demanda daquele país por alimentos deverá crescer entre 11% e 13% ao ano até 2030, mas ponderou que a pauta exportadora para a China ainda é “bastante concentrada em poucos produtos”. “A CNA trabalha para mudar essa realidade”.
E em seu discurso, o presidente da Confederação lembrou da missão promovida pela CNA ao país asiático, no ano passado, para promover as frutas e os lácteos, que ainda não têm acesso ao mercado chinês, mas representam uma boa oportunidade para os exportadores brasileiros.
No caso das frutas frescas, avaliou, o país está próximo de concretizar a abertura do mercado chinês para o melão brasileiro e que este fator “abrirá as portas para as demais frutas, como limão, laranja, uvas, manga e outras”.
Em relação aos lácteos, a China é o maior importador mundial destes produtos. Segundo João Martins, as oportunidades de embarque destes itens para o país asiático podem somar US$ 190 milhões por ano.
E estes não são apenas os únicos exemplos. O presidente da CNA citou um levantamento da Confederação que aponta que o Brasil poderia ampliar as vendas externas de pelo menos 97 produtos do agronegócio para a China, como carnes, algodão e produtos florestais, que poderiam atingir mais de US$ 20 bilhões ao ano.
“O mercado chinês é enorme, com uma população que demanda alimentos em grandes volumes e de alta qualidade, com um poder aquisitivo que aumenta gradativamente. Mais de 700 milhões de pessoas conectadas à internet passam a exigir o que há de mais seguro e saudável no mundo”, enfatizou.
Neste contexto, acrescentou, “a biotecnologia é fundamental para garantirmos essa alta qualidade” e que a agricultura e biotecnologia se aliaram para tornar a produção mais eficiente. Com esta aliança, a engenharia genética permitiu a criação de tecnologias que reduzem perdas com pragas, doenças e clima e aumentam a produtividade nas lavouras.
Desta forma, prosseguiu, a biotecnologia abre caminho para uma “nova revolução da produtividade no campo brasileiro”.“A China está entre os principais investidores em inteligência artificial e precisamos cooperar e nos aproximar mais nessa área”.
“A CNA e as instituições aqui representadas, com alto conhecimento científico, querem manter um diálogo aberto e transparente com os seus parceiros chineses. O objetivo desse canal de comunicação é estreitar os nossos entendimentos e políticas para a biotecnologia, para darmos maior previsibilidade ao tema nas nossas agendas de produção e comércio”.
“Brasil e China são grandes amigos. Se estamos aqui, é porque acreditamos que essa relação pode ser ainda mais fortalecida”, concluiu.
Relações Exteriores – Na sua apresentação, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, lembrou que a demanda mundial por alimentos crescerá 70% até 2050 e grande parte dessa demanda virá da China.
Diante deste desafio, o chanceler enfatizou que o Brasil será um ator importante no processo de atender ao crescimento da oferta e que a biotecnologia será fundamental para aumentar a produtividade de forma sustentável e garantir o fornecimento de alimentos.
“O fomento na biotecnologia será uma ferramenta crucial para reduzir os custos e atender à demanda, além de mitigar os impactos ambientais”.
Araújo falou que o agro desempenha um papel decisivo no comércio mundial e é fundamental para a projeção internacional do país. E que a China é e continuará sendo uma parceira essencial.
Sincronia – Já o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Leite Ribeiro, defendeu uma sincronia entre Brasil e China na aprovação de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs).
Segundo ele, o tempo médio de liberação na China era de 240 dias. Hoje, ressaltou, os processos levam de cinco a seis anos.
“Isso priva o agricultor brasileiro de novas tecnologias que poderiam proporcionar maior produtividade com menor uso de defensivos”.
Destacou ainda a necessidade de maior cooperação neste tema entre os dois países.
Disposição – O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, destacou a relevância do evento para discutir a cooperação entre os dois países na área de biotecnologia e há grande disposição por parte dos chineses em discutir o cronograma de avaliação e aprovação dos produtos transgênicos brasileiros. Segundo ele, esta cooperação tende a aumentar após a visita da ministra Tereza Cristina ao país no início de maio.
Ele também falou sobre a importância do Brasil como parceiro estratégico e disse que, com o fortalecimento da parceria, os dois países ganham. Lembrou, ainda, que o Brasil foi o primeiro país da América Latina a estabelecer parceria com o país asiático na área de biotecnologia.
“Espero contar com o apoio contínuo e o progresso das parcerias”.
Fonte: DATAGRO