Em São Paulo, a Korin, empresa ligada à Igreja Messiânica, que segue os conceitos da agricultura natural, criou até um sistema de integração entre produtores só para esse tipo de ovo.
As galinhas poedeiras da companhia nunca viram uma gaiola. São criadas soltas, com acesso a poleiros, ninhos, comida e água boa. Por isso, os ovos produzidos recebem o selo “Galinha Livre” e valem cerca de 20% mais no mercado.
A empresa cria aves livres de gaiola desde 1994, muito antes da certificação chegar ao Brasil e, por isso, a foi a primeira granja de galinhas poedeiras a conseguir o selo no país.
“O primeiro aspecto é entender que todos os seres são dotados de espírito e sentimento, eles não estão aqui simplesmente andando e comendo, eles estão brincando, brigando, estabelecendo as suas relações, sentem medo, sentem angústias”, explica o agrônomo Luiz Demattê, diretor da Fundação Mokiti Okada, instituição de pesquisa na área da agricultura natural, também ligada à Igreja Messiânica.
Eles adaptaram e misturaram técnicas das criações orgânicas e caipiras e desenvolveram um sistema próprio de criação.
“A ideia da agricultura natural também é a produção de alimentos saudáveis, dentro dos quesitos de sustentabilidade. E um ponto-chave nisso tudo é a redução ou a eliminação do uso de antibióticos, quimioterápicos, um arsenal grande de substâncias que são normalmente, rotineiramente utilizados”, diz Luiz.
O uso de antibióticos e promotores de crescimento é proibido, mas a empresa cumpre tudo o que a legislação sanitária do país exige, como o fornecimento de vacinas, por exemplo.
Integração para produzir mais
Outro conceito importante é espalhar conhecimento. Para aumentar o plantel de galinhas livres de gaiola, a empresa criou um sistema de integração com outros produtores da região. Já são seis propriedades parceiras.
Um deles é o sítio de 7 hectares de Jaime Rodrigues da Silva, em Ipeúna, São Paulo, onde antes da integração era criado frango de corte.
Ele aderiu ao sistema de integração há 4 anos. Por contrato, entra com as instalações e a mão de obra, e empresa fornece as aves, a ração e assistência técnica.
“A renda é melhor, porque dá para pagar o empregado. Tem o filho meu que mora com a gente, ele é filho mas não está trabalhando de graça”, conta Jaime. “(O sistema) é bom porque é uma coisa que sabendo levar, não dá dor de cabeça”.
No plantel da granja de Jaime há 20 mil galinhas. Elas dormem no galpão, usam os ninhos para botar, comem, bebem e depois saem. Passam boa parte do dia do lado de fora, em áreas cercadas com bastante espaço, como determina o sistema.
“Nós soltamos para garantir o bem-estar animal, para que elas tenham melhores condições de expressar seu comportamento natural, que é ciscar, empoleirar, tomar banho de sol, banho de areia”, diz Leika Iwamura, veterinária da empresa que dá assistência técnica à propriedade. Segundo ela, a prática reduz a mortalidade e aumenta a produtividade das aves.
Só é permitido o uso de medicamentos homeopáticos e fitoterápicos à base de plantas, como o fornecimento de folhas e tronco de bananeira para prevenir verminose.
Hoje as 20 mil galinhas da granja produzem, em média, 18 mil ovos por dia. O custo de produção é mais alto do que o convencional, em torno de 20%, um percentual que é agregado ao ovo na hora da venda.
“A galinha, você tem que ter carinho com ela, porque nós dependemos de um ovo de galinha para ter ordenado. Quanto menos ovo quebrar melhor, quanto menos judiar de galinha é bom, porque se você judiar de uma galinha você está judiando de uma coisa do futuro, que está dando a produção”, afirma Jaime.
Na unidade da Korin, os ovos de Jaime se juntam aos de outros integrados. Já são 90 mil ovos por dia, que são lavados, selecionados e carimbados um a um. Depois de embalados, seguem para pontos de venda em diversos lugares do país.
“O mercado é crescente. Eu vejo que nos próximos 5, 10 anos, o crescimento disso vai ser bastante importante”, diz o agrônomo Luiz.
Fonte: Globo Rural