Os 145 mil hectares de lavouras fizeram de Chapadão do Céu, município goiano a 667km de Brasília uma terra de oportunidades que já começaram a ser exploradas por empresários, diferentemente do que ocorreu em outros lugares rurais.
Para manter produtividade média de 70 sacos de soja por hectare e de 100 toneladas de cana de açúcar por hectare, os agricultores da região não economizam no uso de tecnologias e na contratação de profissionais capacitados que possam impulsionar os resultados das plantações.
Essa cultura empreendedora levou a cidade a ter 72,2% dos domicílios inseridos na classe média, conforme dados da consultoria Geofusion. É o sexto maior percentual entre as 767 localidades em que 40% Produto Interno Bruto (PIB) têm origem no agronegócio.
No município, a renda média domiciliar da classe média é de R$ 4.324,64. Dos 10 mil habitantes da cidade, 1,2 mil ou 12% da população está empregada na usina de álcool Cerradinho Bio, que, na última safra, moeu 4,1 milhões de toneladas de cana. Os salários no setor sucroalcooleiro são de pelo menos R$ 2,2 mil.
Outras 100 pessoas trabalham na Uniggel Sementes, que cultiva 15 mil hectares para produção de sementes de soja. O diretor técnico da companhia, Ronan Barbosa Garcia Júnior, diz que operadores de máquina têm uma remuneração de R$ 3 mil; agrônomos, R$ 12 mil, técnicos agrícolas, R$ 4 mil. Gerentes chegam a levar para casa R$ 20 mil.
O técnico agrícola Gilliard Camargo, 29 anos, é supervisor de controle de qualidade do laboratório da Uniggel, que só em Chapadão produz 440 mil sacos de semente de soja. Ele ingressou nos quadros da empresa com 18 anos, como auxiliar de laboratório.
À época, tinha uma remuneração de R$ 216, que correspondia a meio salário-mínimo. Foi na sala de aula que ele encontrou o caminho para ascender socialmente. Os patrões não economizam para mantê-lo atualizado. Anualmente, participa de cursos da Embrapa e de empresas do setor. Casado com a dona de casa Gesiane Carvalho Xavier, 21, e pai de Luiz Otávio, 3, mora na sede da companhia, em uma das casas disponibilizadas para parte dos empregados.
Com a renda, que hoje é de R$ 4.728, mobiliou toda a residência, comprou um carro e se prepara para dar entrada em uma casa na cidade.
- Não tenho do que reclamar. Minha vida mudou muito nos últimos anos. Amo o que faço – conta.
A busca por melhores empregos levou o casal Rafael Marques, 25, e Samanta Marques, 20, a deixar Panambi (RS) e a migrar para Chapadão do Céu há dois anos. Indicados para trabalhar na Fazenda Novo Milênio, do Grupo Wink, por um tio, os dois garantem que não poderiam ter encontrado oportunidade melhor.
A renda familiar é de R$ 5,5 mil. Rafael é auxiliar de serviços gerais, mas vai começar a estudar para se tornar técnico em segurança de trabalho. Samanta é cozinheira e cursa administração a distância.
- Temos um carro e agora a meta é uma casa na cidade. Como moramos na fazenda, consigo economizar – diz.
Em Chapadão do Céu, o comércio vive um momento de expansão desde que a rodovia GO-206 foi asfaltada, em 2014. Com a pavimentação, as entregas de mercadoria passaram a chegar pontualmente aos mais de 600 estabelecimentos comerciais, que passaram a faturar mais.
Restaurante
De olho na renda dos moradores da região, o empresário Bruno da Cunha, 40 anos, investiu R$ 2,5 milhões em um restaurante. Além de servir um cardápio variado com peixes, carnes, pizzas, cervejas importadas e vinhos, possui também uma mercearia com produtos importados.
- Vendo mais chocolate suíço do que brasileiro. Meus clientes são exigentes, conhecem o mundo porque têm uma renda elevada e só querem o melhor – diz.
De olho na clientela abastada, o empresário Carlos Gutierrez, 31, deixou o trabalho como técnico agropecuário, para investir em um pequeno mercado e uma lanchonete. Em parceria com a cunhada Mirielle Burquo, oferece até sushi. Semanalmente recebe 20kg de salmão fresco, importado do Chile.
- A Mirielle sempre gostou da culinária japonesa, mas não podia comer aqui. Ela fez um curso para aprender a preparar as peças e começamos a vender. É um sucesso – conta.(AT)
Fonte: Antônio Temóteo, do Correio Braziliense