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Israel inspira futuras políticas públicas no Paraná

Com mais de 60% do território formado por desertos, Israel revoluciona a maneira de produzir alimentos em meio à escassez hídrica. O setor agrícola do país do Oriente Médio é desenvolvido e fundamentado em tecnologia, de modo que, a agricultura atende a 95% da demanda local com pouco mais de 20% de área cultivável. Para driblar a seca extrema, a comunidade científica do país, com apoio do governo israelense, vem desenvolvendo pesquisas em prol do uso sustentável e racional da água.

Confira as fotos da viagem técnica à Israel.

Apesar de realidades territoriais completamente diferentes, Israel e Paraná possuem similaridades em relação à inovação agrícola, o que permite a troca de conhecimentos para impulsionar o crescimento das agriculturas de ambas as localidades. Esse é o propósito do Sistema FAEP/SENAR-PR, que, na primeira semana de setembro, promoveu a terceira viagem técnica ao país do Oriente Médio, com participação de representantes de sindicatos rurais e lideranças do setor. O grupo, ainda, contou com a presença dos deputados federais Sergio Souza, Pedro Lupion e Tião Medeiros; o secretário estadual de Indústria, Comércio e Serviços (Seic), Ricardo Barros; o secretário estadual de Desenvolvimento Sustentável (Sedest), Valdemar Jorge; os deputados estaduais Fábio Alex de Oliveira e Luiz Claudio Romanelli; e o presidente da Invest Paraná, José Eduardo Bekin.

Durante as visitas técnicas, a delegação paranaense conheceu diversas iniciativas israelenses que solucionaram o desafio da falta de água. Sistemas de dessalinização garantem a produção de mais de 80% da água potável em Israel, enquanto mais de 90% do esgoto são reutilizados e usados integralmente em atividades agropecuárias, colocando o país na liderança deste tipo de iniciativa. Inclusive, Shafdan Wastewater Treatment Plant, um dos destinos de visitação do grupo, é a maior estação de tratamento de águas residuais do Oriente Médio, que atende a cerca de 3 milhões de pessoas de 23 cidades – incluindo a capital Tel Aviv –, com consumo diário de 200 litros de água tratada por residência.

Shafdan Wastewater Treatment Plant

A experiência em Israel serviu também para comprovar que o Paraná já está avançando em direção à sustentabilidade, conciliando a produção agrícola com a conservação ambiental. Exemplo prático é a mais recente legislação do Paraná que regulamenta o reuso da água para proveito urbano, agrícola, florestal, ambiental e industrial. A Resolução 122, desenvolvida pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH-PR), órgão vinculado ao Instituto Água e Terra (IAT), estabelece critérios e parâmetros de qualidade para a reutilização da água para estes fins. Com a regulamentação, a tendência é a redução da demanda de água dos rios, garantindo maior preservação dos reservatórios naturais que abastecem o Paraná.

O governo também está trabalhando nessa questão junto com a FAEP, que lidera o processo de inventário das bacias hidrográficas do Estado em parceria com a Embrapa Territorial. É uma modelagem que mede a capacidade de armazenamento hídrico dos nossos rios. Muito embora tenhamos água em abundância no Paraná, sempre existiu a preocupação com o uso ordenado e racional, e, agora, conseguimos avançar com essa regulamentação.

Secretário Estadual de Desenvolvimento Sustentável (Sedest), Valdemar Jorge

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Shafdan Wastewater Treatment Plant

A nova legislação está alinhada ao cumprimento da Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), cujo objetivo é suprir a demanda de água, atendendo a múltiplos usos, para as presentes e futuras gerações. Inclusive, a partir dessa legislação foi instituída a outorga para uso da água em todo o Brasil, que determina a necessidade de concessão por parte da União. Em Israel, não é diferente. A água também é controlada pelo governo desde 1959.

“É importante que possamos fazer um circuito fechado de reuso de água, para avançarmos de forma cada vez mais sustentável. Israel tem essa preocupação, uma das razões para o sucesso da agricultura do país. Esperamos que essa experiência possa trazer ainda mais avanços para o nosso Estado, para que os produtores rurais continuem ampliando sua produção, utilizando a água de forma racional e com uso ordenado”, complementa Jorge.

Desenvolvimento científico

Apesar do avanço nas legislações, o Brasil pode aprender com Israel quando se trata de investimento em ciência. Para lidar com as adversidades impostas pela natureza, a inovação passou a ser um atributo indispensável no país do Oriente Médio, por meio de uma política governamental que prioriza recursos para pesquisa e uma cultura de apoio ao desenvolvimento de talentos e lideranças. Não à toa, Israel é referência mundial em tecnologia – principalmente na agricultura.

O Volcani Center, centro de pesquisa e desenvolvimento agrícola mantido pelo governo e subordinado ao Ministério da Agricultura local, desenvolve mais de 75% dos estudos em inovação agrícola do país. Inclusive, no passado, houve uma tentativa de parceria com a Embrapa, maior centro de pesquisa agropecuária do Brasil, mas, na época, tornou-se inviável por falta de recursos financeiros. Para o deputado federal e presidente da Comissão de Agricultura na Câmara dos Deputados, Tião Medeiros, é possível buscar apoio para viabilizar essa colaboração internacional.

“Podemos restabelecer esses convênios de troca de experiência e parceria entre Brasil e Israel por meio da Embrapa, que vai ser o nosso braço técnico para interiorizar esse conhecimento. O desafio, daqui para frente, é arrumar recursos dentro do orçamento da União para tornar ativa essa parceria”, afirma.

Pesquisas permitem a produção no deserto de Israel

De acordo com o deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion, já existem conversas entre a Embrapa e a FPA para buscar maneiras de garantir autonomia financeira aos institutos de pesquisa nacionais por meio do financiamento de empresas privadas.

Tudo que vimos em Israel pode ser aplicado no semiárido brasileiro, principalmente no Sertão do Nordeste, onde se precisa de tecnologia para produzir. Agora, cabe a nós, como interlocutores entre a sociedade e o Poder Executivo, fazer com que a Embrapa, efetivamente, firme um acordo de parceria com Israel para adoção dessas tecnologias também no Brasil

Deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Pedro Lupion

Mesmo com o orçamento limitado, a aptidão brasileira para a inovação ainda consegue alcançar resultados significativos quando se trata de desenvolvimento sustentável. Na avaliação dos deputados, muito do que se viu durante as visitas ocorre no Paraná, até mesmo, de forma mais moderna.

“Estamos em um nível de assertividade em relação ao que tem de mais moderno fora do Brasil. O Paraná está adiantado na parte de segurança alimentar e transição energética, por exemplo, e tem seguido uma linha de desenvolvimento sustentável. Isso reflete-se nos números do Estado, comparados ao seu tamanho e à realidade brasileira”, considera Medeiros. “Se eles conseguem, com todas essas adversidades, crescer e desenvolver a produção e o cultivo, nós podemos fazer muito mais”, sentencia Lupion.

Gilat Regional Research Center, localizado no deserto Negev, no Sul de Israel

Incentivo à irrigação

Apesar de o Paraná não sofrer com a falta de água como em outras regiões do Brasil, as mudanças climáticas têm aumentado a frequência dos chamados eventos extremos, ocasionando longos períodos de seca no Estado que prejudicam a agricultura, como nas últimas safras. Nesse contexto, a eficiência dos sistemas de irrigação em Israel chamou a atenção do grupo paranaense. O país produz diversos tipos de cultivo em áreas com índices pluviométricos menores que 100 milímetros ao ano. O Gilat Regional Research Center, localizado no deserto Negev, no Sul de Israel, desenvolve pesquisas voltadas aos sistemas de cultivo em regiões áridas e semiáridas, com plantio de diversas culturas.

Haverá a necessidade de alterações na legislação para que possamos ter a capacidade de usar melhor a água que temos. O Paraná já possui alta produtividade, mas, com irrigação, podemos até triplicar a nossa produção sem aumentar a área plantada. Esse é o desafio da sustentabilidade

Secretário Estadual de Indústria, Comércio e Serviços (Seic), Ricardo Barros

Na avaliação do deputado federal Sérgio Souza, o Paraná carece de incentivo à cultura da irrigação, evitando, assim, perdas de produtividade em safras atingidas pela irregularidade de chuvas e períodos prolongados de seca. “De Israel, conseguimos levar a percepção de que temos várias opções de diversificar e de produzir mais. Podemos ir além, não apenas no Paraná”, aponta. “Temos a oportunidade de transferir as tecnologias israelenses para o Nordeste brasileiro. São terras férteis. O problema é a água. Pela tecnologia que Israel desenvolve e a realidade que vemos hoje, o Nordeste pode, no futuro, se tornar um grande produtor de alimentos”, complementa.

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Fonte: Sistema FAEP



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