A cada R$ 10 gastos para escoar soja e milho, o Brasil poderia investir R$ 7 se tivesse boa infraestrutura para o transporte. É o que apontou pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que mapeou os entraves logísticos e mensurou o investimento mínimo para o sistema ser adequado: R$ 195,2 bilhões.
A CNT analisou as rotas de escoamento de Centro-Oeste, Paraná, Rio Grande do Sul e Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Foram ouvidas 10 empresas que representaram, no ano passado, 82% das exportações de soja e milho. A maioria considera a má qualidade das estradas e dos portos, o custo do frete e a falta de ferrovias problemas graves.
Outro desafio, aponta o estudo, é o baixo investimento dos governos. Coordenadora de Economia da CNT, Priscila Santiago aponta que o Brasil só aplica 0,29% do PIB em infraestrutura de transporte – o índice era de 1,8% em 1975. E aponta mais dois fatores:
– A melhoria logística não depende só de dinheiro, mas sim de mais planejamento e menos burocracia – diz Santiago.
Sobre o Rio Grande do Sul, Priscila ressalta que 72% das estradas foram consideradas inadequadas, o que faz encarecer em 28% o custo operacional no Estado. A pesquisa indicou que seria necessário investir R$ 20,4 bilhões para adequar o escoamento de soja e milho no RS – 45% em estradas e o restante em ações como a ferrovia Norte-Sul e a qualificação do porto de Rio Grande, de onde saem 99% das exportações:
– O transporte rodoviário não é a melhor forma de levar soja e milho, pois o frete é muito alto. A integração entre os modais é uma forma de reduzir custos e aumentar a competitividade. E o uso de ferrovia e hidrovia permite levar maior carga de uma vez só – afirma a coordenadora.
Armazenagem tem papel estratégico
Presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, Paulo Menzel aponta que o porto de Rio Grande passou a receber grãos de outros Estados, o que só fez crescer o congestionamento.
– Mas o problema não é só o porto. Temos graves dificuldades de acesso. Hoje, 87,3% de toda a carga que se movimenta no Estado depende de rodovias. E os 9% que vão em ferrovias esbarram em problemas como falta de condições de desembarque – diz Menzel.
Menzel salienta que hoje o custo logístico corresponde a 19,83% do PIB do Estado. Ou seja, o que se gasta em decorrência das más condições de infraestrutura representa um quinto das riquezas geradas:
– Perdemos muito da vantagem obtida nas lavouras ao transportar os grãos. A logística precisa de investimentos integrados e planejados. Hoje, só há ações pontuais e que não resolvem os problemas. Não podemos pensar que os modais são concorrentes, pois eles se completam – destaca Menzel
Priscila pondera que logística vai além dos modais e cita como exemplo a armazenagem. Ela diz que as safras de soja e milho são escoadas por completo em até quatro meses após a colheita e observa não ser possível harmonizar o fluxo no porto pela falta de silos suficientes. O resultado é demora nos embarques:
– A operação nos portos é lenta e, neste caso, ampliar a capacidade dos armazéns ajuda até a garantir mais rentabilidade ao permitir escalonar os embarques e escoar em épocas fora dos períodos de pico – afirma ela.
Segundo o estudo, o Rio Grande do Sul tem capacidade para armazenar 25,4 milhões de toneladas de grãos. Apesar de comportar o volume de soja e milho, não é capaz de estocar toda a produção de grãos.
– Nosso problema não é produzir. Temos excelente produtividade, mas a pior infraestrutura de transporte, com uma qualidade tão baixa que tira a competitividade – conclui Priscila.
Fonte: Zero Hora