Numa fazenda de café na região de Campinas, uma armadilha de pragas conectada avisou que uma infestação estava para começar, antes de qualquer perda se alastrar pela lavoura. Na divisa de São Paulo com Mato Grosso do Sul, um produtor de laranja tem cavaletes de irrigação inteligentes, que molham só onde a terra está seca. Também no interior de São Paulo, colheitadeiras avisaram os donos de um canavial que iriam quebrar com mais de um dia de antecedência. Todos são relatos de projetos-piloto nos quais o uso da internet das coisas (IoT, da sigla em inglês) foi aplicado ao agronegócio, com resultados animadores.
É uma nova frente de negócios para o setor, que traz números vistosos. Segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o uso de soluções de IoT no agro movimentará entre US$ 5 bilhões e US$ 21 bilhões, até 2025. Como resultado, é esperado o aumento de até 25% na produção das fazendas e a redução de até 20% no uso de insumos. “O BNDES encomendou à McKinsey um estudo que identificou a demanda crescente pelo uso de IoT em alguns ambientes, inclusive no rural, mas o volume de interesse nos surpreendeu”, diz Artur Yabe, gerente setorial do complexo agroalimentar e de biocombustíveis do BNDES.
O banco e o ministério acabam de encerrar chamada para projetos-piloto com investimento a fundo perdido em IoT. Só para a área rural foram inscritos 14 projetos, que demandarão R$ 107 milhões. O BNDES tinha a previsão de investir R$ 15 milhões nesse chamado, mas o valor deverá dobrar.
Neste caso, os projetos foram apresentados em consórcios, que abrigam fornecedores de soluções de hardware, software, conectividade e segurança e produtores rurais, capitaneados por instituições tecnológicas.
Com números tão atraentes, uma avalanche de serviços ligados à IoT inundou o agronegócio. Muitas empresas que lidam com o setor – e algumas que nem eram fornecedores tradicionais – têm enxergado oportunidades. A Embratel é uma delas. Fornecedora de conectividade, hoje praticamente uma commodity, a empresa telefônica enxergou na área uma janela para vender serviços mais sofisticados e, portanto, mais caros.
“Não queremos levar só a conexão, mas também os sensores, a coleta de dados e a análise que gera inputs para o cliente”, afirma Eduardo Polidoro, diretor de negócios IoT da Embratel. São da Embratel os casos da irrigação nos laranjais feita de acordo com a necessidade do solo, bem como a armadilha de pragas conectada.
Na CNH Industrial – multinacional italiana, segunda maior fabricantes de equipamentos agrícolas do mundo.
“Os dados sempre estiveram nas máquinas, o desafio era trazê-los para dentro de casa, analisá-los de forma segura e fazer com que os algoritmos permitissem o aprendizado da máquina”, diz Marcelo Machado, gerente de negócios e soluções em precisão da CNH Industrial para América Latina.
Num dos projetos-piloto, anomalias nos dados coletados permitiram que uma colheitadeira de cana avisasse que poderia parar com 26 horas de antecedência.
Fonte: O Estado de São Paulo