Apesar do avanço tecnológico em equipamentos, conectividade ainda é desafio a agricultores. Projeto usará frequência do sinal analógico de TV para levar conexão às áreas rurais.
O avanço da tecnologia possibilita aumentar e melhorar a produtividade no campo. O piloto automático se popularizou e o ar-condicionado já é item de série em tratores e colheitadeiras. Cada vez mais modernos, os equipamentos agrícolas possibilitam uma gestão precisa da lavoura, do plantio à colheita.
Mas, toda essa modernidade ainda esbarra na falta de conectividade. Os dados não chegam aos produtores em tempo real. Enquanto 1% dos moradores nas cidades diz não ter acesso à internet, nas áreas rurais esse índice é de 21%, segundo levantamento do IBGE.
Na tentativa de resolver essa questão, oito empresas do setor agrícola e de telecomunicações se uniram em uma iniciativa inédita para ampliar a cobertura 4G no campo. A expectativa é que até o final de 2019 o acesso à internet esteja disponível em 50 mil quilômetros quadrados no país.
A área é equivalente ao estado do Rio Grande do Norte. Pode parecer pouco, mas é sete vezes maior que o território coberto atualmente, que é de 7 mil quilômetros quadrados, um pouco menor que o município de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.
Batizado de “ConectarAgro”, o projeto está sendo lançado na Agrishow 2019, maior feira de tecnologia agrícola a céu aberto do país, que acontece em Ribeirão Preto (SP), e onde também estão as idealizadoras: AGCO, Climate, CNH Industrial, Jacto, Trimble, Solinftec, Nokia e Tim.
Diretor de marketing do segmento corporativo da Tim Brasil, Rafael Marquez explica que, na prática, o objetivo é expandir a rede de cobertura 4G, operando no espectro de frequência de 700 mega-hertz, que antes era usado pelo sinal analógico de televisão.
“Esse investimento vai impulsionar o agricultor, o setor e o país. A competitividade fica ameaçada se a gente não der esse passo da conectividade. A gente corre o risco de perder a vanguarda do desenvolvimento, da produtividade, se não levar isso para o campo”, diz.
Segundo Marquez, menos de 10% do território agrícola brasileiro está conectado atualmente, o que representa 7 mil quilômetros quadrados cobertos por internet 4G – as principais áreas estão nos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia.
“Na prática, a gente vai instalar antenas onde não tem. A gente estima que só 10% da área produtiva do Brasil estão conectadas, mas no modelo antigo, ou seja, soluções mais fechadas, internet via rádio, cada um pensando no seu, não um efeito em rede”, detalha.
Marquez afirma que uma única torre pode cobrir até 35 mil hectares. Por isso, pequenos e médios produtores podem se unir para adquirir o sistema de conectividade, seja na forma de cooperativas, associações ou “crowdfunding”, que são os financiamentos coletivos.
“É um investimento que retorna rápido. O ganho de eficiência e de produtividade que a gente já ouviu dos clientes, justifica. O cálculo é que 1% do aumento de produtividade, ou redução de custo, na primeira safra, já paga. Além disso, não será preciso renovar todo ano”, diz.
Tecnologia adormecida
Gerente de produto da Climate, subsidiária da Bayer, Guilherme Belardo afirma que atualmente existem “soluções tupiniquins” para se extrair as informações do campo e levá-las às mãos dos gestores, como o uso de pen drives, tablets e sistemas bluetooth.
Em outras palavras, o avanço tecnológico das máquinas e dos equipamentos agrícolas acaba subaproveitado por falta de conectividade. Ainda é preciso terminar o serviço no campo para coletar os dados do pulverizador ou colheitadeira, por exemplo.
“É melhor do que ver no final da safra? Muito melhor. Mas, receber em tempo real permite a tomada de decisão muito mais rápida. Ter a fazenda literalmente na palma da mão é algo impressionante. É poder usar melhor as ferramentas digitais que as nossas empresas desenvolvem”, diz.
A afirmação é compartilhada por Gregory Riordan, diretor de tecnologias digitais da CNH Industrial, que tem como subsidiárias New Holland, Case IH, Iveco, entre outras, destacando que a automação das máquinas ganha ainda mais sentido com o aumento da conectividade.
“Você até pode tirar um pen drive da máquina, levar para o computador e descarregar os dados. Mas, fazendo uma comparação, é como uma autópsia. Recebendo as informações em tempo real, você faz um diagnóstico que permite salvar o paciente”, afirma.
Além do aumento da produtividade, também é consenso entre as empresas parceiras que a expansão da conectividade permitirá o aperfeiçoar dos sistemas já disponíveis, como explica o gerente de desenvolvimento de negócios estratégicos da Trimble, Jorge Strina.
“Os produtos estão, em grande parte, desenvolvidos. Com a conectividade, a gente vai conseguir não só disponibilizar toda essa comunicação, mas também pensar em novos desenvolvimentos, soluções que ainda não estão feitas, ou seja, acelerar o desenvolvimento”, finaliza.
Fonte: G1