A indústria brasileira de alimentos e bebidas registrou um crescimento de 6,7% em faturamento no ano de 2019, em relação à 2018, atingindo R$ 699,9 bilhões, somadas exportações e vendas para o mercado interno, representando 9,7% do PIB, segundo a pesquisa conjuntural da ABIA – Associação Brasileira da Indústria de Alimentos. Em 2018, o setor registrou R$ 656 bilhões. As informações são da ABIA.
Na contramão do desempenho da indústria nacional como um todo, que recuou 0,8% em 2019 (dados da CNI), a indústria de alimentos fechou o ano com crescimento de 2,3% em vendas reais. Foi a melhor taxa de crescimento desde 2013, quando o setor cresceu 4,2%.
Em relação à geração de empregos a indústria de alimentos e bebidas criou 16 mil novas vagas diretas em 2019, 3 mil a mais do que em 2018. O setor responde por cerca de 23% dos empregos da indústria da transformação do país, registrando 1,6 milhão de empregos diretos.
Mercado interno e Investimentos
As vendas do mercado interno – varejo e food service – cresceram 6,2% em comparação com 2018, quando foi registrado aumento de 4,3%. O food service (alimentação preparada fora do lar) cresceu 6,9%, enquanto o mercado varejista cresceu 5,9%.
Já os investimentos, incluindo fusões e aquisições, alcançaram R$ 22,3 bilhões, um crescimento de 4% em relação ao ano anterior, o que representa 3,2% do faturamento total do setor, dedicados a projetos de modernização e expansão de fábricas, P&D e desenvolvimento de novos produtos.
Desempenho setorial
Vendas Reais
As categorias que mais se destacaram em vendas reais foram as carnes, com aumento de 11,1%; derivados de cereais, chá e café, 5,6%; desidratados e supergelados (pratos prontos e semiprontos congelados e alimentos desidratados), 4,9%; e o grupo de diversos (molhos, temperos e condimentos, sorvetes e salgadinhos), 3,4%.
Menor desempenho
Tomando como base a evolução das vendas reais, as categorias com as maiores quedas foram o açúcar, 10,8%; óleos e gorduras, 4,7% e derivados de frutas e vegetais, com 4,1%.
Importância da indústria para o agronegócio brasileiro
A indústria de alimentos processa 58% de toda a produção agropecuária brasileira. Sua participação nas aquisições de matérias-primas se mantém nos mesmos patamares, sendo Proteínas Animais (99%), seguido da Cadeia de Trigo (95%) e Cadeia do Arroz que representam (95%).
Exportações
O Brasil é o segundo maior exportador de alimentos industrializados do mundo. O setor exportou para mais de 180 países, o que representou 19,2% do total de vendas, de R$ 699,9 bilhões ano passado.
Em 2019, as exportações registraram queda de 2,3%, totalizando US$ 34,1 bilhões contra US$ 34,9 bilhões em 2018. O principal fator desse resultado ainda se deve à redução dos embarques de açúcar. O Brasil é o maior exportador da commodity no mundo, mas há dois anos vem sofrendo com o excesso do produto no mercado internacional, o que derrubou as exportações desde então.
Dos países que mais importam alimentos industrializados do Brasil, China, Holanda e Hong Kong continuam sendo primeiro, segundo e terceiro colocados, com valores na ordem de US$ 5,3 bilhões, US$ 1,9 bilhão e US$ 1,6 bilhão, respectivamente.
Outro destaque foi o aumento considerável das exportações para a China. O país saltou de US$ 3,304 bilhões em 2018 para US$ 5,327 bilhões em 2019 do total importado do Brasil. Isso ocorreu principalmente pelo aumento da demanda por carne suína. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as vendas de carne suína para a Ásia – região fortemente impactada por focos de Peste Suína Africana (PSA) – foram o grande impulso das exportações de 2019. A China importou 248,8 mil toneladas, volume 61% superior ao total embarcado em 2018.
Exportações 2019 – principais destinos
Os principais mercados foram a Ásia, absorvendo 36,8% das exportações brasileiras de alimentos industrializados, seguidos pela UE com 18,8% e Oriente Médio com 14,3%. Os países nas cinco primeiras posições foram:
China – US$ 5,3 bilhões
Holanda – US$ 1,9 bilhão
Hong Kong – US$ 1,6 bilhão
Estados Unidos – US$ 1,5 bilhão
Arábia Saudita – US$ 1,4 bilhão
“Ao contrário dos resultados da indústria nacional, o setor de alimentos industrializados cresceu 2,3% em vendas reais ano passado. Em 2020, mantido o cenário de crescimento projetado para o país, as vendas reais da indústria de alimentos têm espaço para crescer ao redor de 3%”, destaca João Dornellas, presidente executivo da ABIA.
Perspectivas para 2020
Em 2020, se a economia brasileira crescer conforme as estimativas, no patamar de 2% a 2,5%, com manutenção da safra agrícola de 2019/2020 no mesmo patamar da safra 2018/19, as vendas reais da indústria de alimentos podem crescer entre 2,5% até 3,5%.
Fatores que podem influenciar o desempenho do setor em 2020
Coronavírus: o impacto da doença na economia mundial vai depender de como a China e os demais países irão conter a disseminação do vírus.
No curto prazo, os preços de algumas commodities agrícolas podem ser pressionados. Outros fatores como a PSA (Peste Suína Africana), que prejudicou rebanhos suínos em toda a China durante o ano de 2019, e a gripe aviária que foi detectada no início de fevereiro deste ano, contribuem para manutenção dos volumes exportados pelo Brasil.
SELIC: o repasse gradual das reduções da taxa básica de juros para as taxas direcionadas ao financiamento do consumo e do investimento, começa a reduzir o custo e ampliar o volume de crédito na economia. Ao longo de 2020, esse processo continuará estimulando as vendas no varejo, a construção civil e os investimentos na indústria, gerando importantes efeitos multiplicadores para a geração de emprego e elevação da renda da população brasileira.
Reformas: assim como foi feito com a Reforma da Previdência, se o governo juntar esforços para aprovação da Reforma Tributária neste ano, o Brasil pode recuperar ainda mais a confiança dos investidores e todos os setores da economia podem ter uma retomada mais rápida e mais significativa. É importante lembrar que a carga tributária sobre os alimentos e bebidas no Brasil, de 33,5%, é uma das mais elevadas do mundo. Uma redução na tributação dos alimentos ampliaria a renda líquida disponível das famílias brasileiras, gerando mais consumo e arrecadação para a economia como um todo.
Geração de empregos: em 2019, os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua do IBGE, apontam para uma alta de 0,9% no emprego formal. Para este ano, as estimativas econômicas apontam para uma geração positiva no emprego superior a 1,5%.
Fonte: DATAGRO