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Indústria à base de plantas entra no radar do agro

Os produtos à base de plantas, conhecidos como plant-based, têm ganhado popularidade nas prateleiras dos supermercados mundo afora. O Brasil, por mais que tenha demorado, não escapou dessa nova tendência de consumo. Esse mercado tem movimentado bilhões de dólares e atraído empresas tradicionais da indústria de carnes. De acordo com o The Good Institute Food (GFI), a estimativa é de que o setor global movimente cerca de US$ 370 bilhões até 2035.

A explicação para essa demanda é que o consumidor tem priorizado uma alimentação mais saudável e sustentável. Os flexitarianismos (público-alvo do setor) não deixaram de consumir produtos de origem animal, apenas reduziram e incluiram os plant-based no dia a dia. Segundo pesquisa realizada em 2022 pelo GFI Brasil, 65% dos 2,5 mil entrevistados afirmaram que, nos últimos 12 meses, haviam consumido alternativas vegetais para carne, leite e ovo ao menos uma vez por semana.

“É um mercado que surgiu há quatro anos no Brasil, e demonstrou crescimento rápido, puxado pelo público flexitariano, acompanhando a tendência global. O setor plant-based vem abrindo um leque de opções para atender o consumidor. Até mesmo as grandes indústrias da carne já entenderam que é um mercado complementar”, aponta Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil, uma das coordenadoras da pesquisa.

Oportunidades

Considerando a diversidade e a capacidade produtiva do agronegócio brasileiro, o país tem chance de ocupar um papel significativo na indústria plant-based. Neste cenário, o Paraná pode ocupar uma fatia significativa do mercado. O aumento da oferta de ingredientes nacionais é uma das demandas da indústria plant-based para diminuir a dependência externa. Segundo análise do GFI Brasil, o país tem potencial para abastecer esse setor com insumos de alto valor agregado a partir de grãos e leguminosas, bem como suprir a demanda por ingredientes, como oleaginosas, vegetais, nozes e cereais. Inclusive, o SENAR-PR tem diversos cursos de capacitação para auxiliar os produtores rurais do Paraná nestas e outras culturas.

“Minha dica é o produtor rural estar atento a esta nova demanda de mercado e entender se consegue fornecer seguindo os padrões de cada uma das empresas”, aconselha Mari Tunis, diretora de marketing da Fazenda Futuro, foodtech focada em produto à base de plantas que mimetizam carnes. “Uma vez que esse produtor estiver de acordo com essas premissas, certamente terá maior valor agregado”, acrescenta.

A Fazenda Futuro, por exemplo, prioriza o mercado brasileiro para comprar seus ingredientes, como soja, ervilha, grão de bico, cebola e beterraba, que devem ser de qualidade certificada. “Mas acabamos tendo que importar algumas matérias-primas não produzidas no Brasil em quantidade suficiente”, comenta a diretora de marketing da empresa.

“O aumento da oferta de matérias-primas de origem nacional ajudaria a reduzir o preço final dos produtos à base de plantas, devido à cotação do dólar que pressiona os valores de matérias-primas importadas”, complementa Raquel, do GFI Brasil.

De acordo com a instituição, um exemplo são os hambúrgueres de ervilha, que ficam 30% mais baratos quando o pulse não é importado do Canadá, seu maior produtor. A ervilha é uma das proteínas mais usadas na carne vegetal e, devido ao aumento do consumo, o mercado observou alta dos preços em 2021 – acentuada pela redução de oferta do Canadá, que teve quebra de 31% na produção.

O Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (Ibrafe) classifica esse comportamento como uma grande oportunidade para produtores de ervilha, feijão, lentilha e grão-de-bico, principais ingredientes que servem de base para produtos vegetais. Depois da ervilha, as apostas do setor se voltam para o feijão, cuja produção é liderada pelo Paraná.

Cenário atual

Hoje, o mercado plant-based brasileiro é formado por cerca de 130 empresas, que exportam para mais de 25 países. Segundo dados da agência Euromonitor, entre 2015 e 2020, o Brasil registrou crescimento anual de 11% nas vendas destes produtos. No faturamento, a alta foi de 70%, totalizando R$ 418,7 milhões. Para 2025, a projeção é atingir R$ 666,5 milhões.

Em 2019, a Fazenda Futuro lançou o primeiro hambúrguer vegetal análogo à carne bovina do Brasil e se consolidou como líder da proposta plant-based no mercado nacional. Hoje a marca está presente em 28 países como Holanda, Inglaterra, Emirados Árabes Unidos, México, Portugal e Estados Unidos é avaliada em R$ 2,2 bilhões.

Segundo Mari Tunis, da Fazenda Futuro, é possível identificar algumas diferenças entre os hábitos dos consumidores estrangeiros e brasileiros. “Na Europa e Estados Unidos, mercados mais consolidados, eles se preocupam mais com a sustentabilidade, e o foco da discussão é o impacto ambiental dos produtos. Enquanto isso, nós vemos o brasileiro na fase de experimentação, ou seja, antes de concluir uma compra, ele se preocupa mais com os ingredientes, formulação e semelhança do produto com a carne bovina”, explica.

A rápida movimentação do mercado e a demanda crescente dos consumidores têm atraído grandes players a entrarem na jogada e a reforçar sua estratégia no segmento de plant-based, a exemplo da BRF, JBS e Marfrig. Na avaliação da Fazenda Futuro, isso pode ajudar a aumentar a escala de produção, o que diminuiria o valor final do produto. Além disso, com a mobilização de mais atores na cadeia, é possível chamar a atenção para subsídios governamentais e auxílio aos produtores rurais que fornecem as matérias-primas, assim como acontece com a indústria de proteína animal.

A Marfrig, que é uma das maiores empresas de carne bovina do mundo, passou a investir no setor de proteínas vegetais em 2019, com o lançamento de um hambúrguer vegetal no food service. O sucesso da iniciativa fez com que, em 2020, a companhia se unisse à ADM, uma das maiores processadoras de produtos agrícolas do mundo, na joint venture PlantPlus Foods. Em 2021, lançaram a primeira linha de produtos 100% à base de vegetais para o varejo, com quibe, almôndega, carne moída e hambúrguer.

Hoje, a marca tem alcance mundial, atendendo clientes do food service e do varejo nas Américas do Sul e do Norte. “O Brasil tem a oportunidade de ser um fornecedor global de produtos de base vegetal para o mercado internacional na mesma proporção em que atua com proteínas de origem animal”, afirma Beatriz Hlavnicka, head de marketing para a América do Sul da PlantPlus Foods, joint venture da Marfrig e Archer Daniels Midland (ADM).

Em Campina Grande do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), a Jasmine Alimentos, empresa paranaense de produtos veganos e saudáveis, também entrou na esteira das carnes vegetais em 2020, com o lançamento do Vegetal Burger – um mix de soja, aveia, linhaça dourada e quinoa, que pode ser usado para preparar hambúrgueres, almôndegas e quibes.

“Há público para todos os tipos de produtos. A competitividade existe por conta do potencial de crescimento desse mercado”, diz Adriana Zanardo, nutricionista e consultora da Jasmine Alimentos.

Conforme a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), o lançamento global de produtos plant-based aumentou 40% entre 2015 e 2019, sendo que, na região das Américas do Sul e Central, o Brasil é o país que mais trouxe novidades durante esse período.

Comunidade científica é aliada do setor

No momento, pesquisas com matérias-primas e tecnologias brasileiras para nacionalizar os produtos têm sido um dos carros-chefes do setor plant-based. Diferentes instituições de pesquisa, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizam estudos de viabilidade para o desenvolvimento de novas proteínas alternativas. Segundo o GFI Brasil, responsável por estabelecer parte dessas parcerias, a UFPR tem assumido um papel significativo nas pesquisas.

Outros projetos do GFI Brasil incluem o Programa Biomas e o Programa Elo, que financiam pesquisas para criar ferramentas que usufruam do potencial da biodiversidade brasileira para desenvolver novos ingredientes e trazer renda adicional ao produtor.

O Programa Biomas, por exemplo, tem foco em transformar produtos vegetais nativos dos biomas da Amazônia e Cerrado em ingredientes alimentícios demandados pela indústria. Já o Programa Elo busca apoiar criadores de animais a entrar no mercado plant-based, respeitando a vocação de suas propriedades e diversificando os produtos oferecidos.

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Regulamentação do setor caminha lentamente

O GFI Brasil tem liderado o movimento pela regulamentação do mercado de proteínas alternativas no país, com apoio, inclusive, de gigantes da agroindústria. Um dos pedidos é a redução tributária dos produtos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão participando da discussão, mas ainda não há previsão para uma medida regulatória. Por enquanto, as proteínas vegetais aprovadas pela Anvisa são enquadradas como suplementos alimentares.

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Fonte: Sistema FAEP



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