queijo

IDENTIDADE SERRANA

Os produtores dos Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul e do Planalto Sul de Santa Catarina estão na fase final de elaboração de um regulamento com critérios para a obtenção do registro de Indicação Geográfica (IG) para o queijo que fazem na região, em uma iniciativa que, pela primeira vez, engloba dois estados. A identificação é atribuída pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a produtos com característicos próprias identificadas com o local de origem.

No caso, a intenção é estabelecer um padrão para o chamado “queijo serrano”, feito artesanalmente com leite cru nas regiões mais altas e frias dos dois estados.

- Quanto mais restritivo for o regulamento, mais valorizado será o produto – destaca o zootecnista Jaime Ries, técnico em bovinocultura de leite da Emater.

Ao mesmo tempo, ressalta, esta delimitação precisa considerar a importância social da atividade, que representa pelo menos a metade da renda agropecuária nas propriedades com até 200 hectares da região.

Uma das peculiaridades do queijo serrano é que o leite usado em sua elaboração é obtido de vacas de corte.

- Não é uma região típica de produção de leite, são pecuaristas familiares – descreve Ries.

Sendo assim, o leite utilizado na fabricação do queijo serrano deve ser de rebanho não especializado e pode ter, no máximo, 50% de genética leiteira.

O processamento precisa ser feito imediatamente após a ordenha, exclusivamente com o leite produzido na propriedade. Todos estes elementos fazem parte do saber-fazer. É a forma tradicional de produzir o queijo serrano que confere singularidade ao produto. E seus requisitos aparecerão listados no regulamento de uso da IG.

A alimentação do gado em campo nativo é outra particularidade da produção de queijo serrano. Para delimitar a área onde há este tipo de pasto, técnicos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural, ligada à Secretaria de Agricultura de Santa Catarina, estão fazendo um trabalho de observação da paisagem e visitando os produtores para verificar solo, vegetação e clima de cada local.

Os dados coletados na pesquisa e o texto do regulamento, quando prontos, serão enviados ao INPI. Será a última etapa de um trabalho iniciado há quase uma década. O agrônomo Rogério Ern, consultor contratado pelo Departamento de Cooperativismo do Ministério da Agricultura, explica que este tipo de pesquisa vem sendo feito com queijos fabricados com leite cru em seis regiões do Brasil. O objetivo é fomentar as ações para indicação geográfica, construir políticas e aprimorar a legislação.

Preservar o saber-fazer é meta

O saber-fazer da produção de queijo serrano vem sendo transmitido de geração em geração há dois séculos. A pesquisa da Emater, iniciada em 2006, localizou registros que datam de 1831. São documentos pedindo ao governo providências como melhoria de estradas para escoar o produto. De acordo com a reconstituição, a receita do queijo serrano é, provavelmente, de origem portuguesa e foi trazida para o Estado por tropeiros vindos do Sudeste.

Entretanto, até 2010, o queijo serrano não tinha uma caracterização. No Rio Grande do Sul, o detalhamento do sistema de processamento do leite e do queijo serrano vem se tornando possível graças ao trabalho de associações de produtores com apoio da Emater.

Criada há cinco anos, a Associação de Produtores de Queijo e Derivados do Leite dos Campos de Cima da Serra (Aprocampos) reúne 60 famílias que trabalham com a produção de queijo serrano em Bom Jesus e São José dos Ausentes.

- A grande maioria dos produtores da região faz queijo serrano, o que faltava era mais conhecimento e oportunidade”, ressalta a presidente da entidade, Heloísa Teixeira Aguiar. O produto precisa ser valorizado para que os nossos filhos tenham um retorno financeiro e queiram permanecer na atividade – destaca.

Com a indicação geográfica, a expectativa é proteger a identidade do queijo serrano, agregar valor ao produto distinguindo-o de outros e criar condições para que a produção tradicional tenha continuidade.

- Trata-se de um dos únicos produtos da região que tem potencial para agregar valor e ser melhor remunerado – avalia o extensionista Orlando Junior Kramer Velho.

Participantes

Associação de Produtores de Queijo e Derivados do Leite dos Campos de Cima da Serra (Aprocampos)

Associação de Produtores de Queijo e Derivados do Leite de Jaquirana (Aprojaqui)

Associação Cambaraense de Produtores de Queijo Artesanal Serrano (Acamproqas)

Associação dos Produtores de Queijo Artesanal Serrano da Serra Catarinense (Aproserra)

Fonte: Correio do Povo



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