Em 2016, é provável que se tenha “mais do mesmo”. A expectativa é que os produtores limitem seus investimentos devido às quatro “crises” já vivenciadas em 2015: hídrica, cambial, crédito para custeio/investimento e de consumo.
O fenômeno El Niño ainda deve impactar o volume e a qualidade da produção, pelo menos na temporada de inverno. O dólar não deve ter forte recuo. Ao contrário, o Boletim Focus do Banco Central sinaliza moeda norte-americana acima dos R$ 4,00 em 2016. Esse patamar é favorável às exportações, à medida que torna o produto brasileiro mais competitivo, mas, como já discutido na edição Especial Frutas, o crescimento sustentável das vendas brasileiras depende de outros fatores além da moeda norte-americana. O dólar em alta acarreta, ao mesmo tempo, insumos mais caros, e isso num contexto de crédito caro e escasso. Os insumos foram reajustados em 2015, mas parte das compras dos produtores já tinha sido feita antes daqueles aumentos, amenizando o impacto sobre a contabilidade do produtor. Em 2016, no entanto, as safras já começam com insumos mais caros.
A queda da atividade econômica brasileira (PIB) tem estreita relação com o consumo dos brasileiros, e o ritmo decrescente deve persistir em 2016. Há alguns meses, já se observa que consumidores estão trocando produtos de maior valor agregado (industrializados, minimamente processados) e de alto valor por similares mais baratos. E essa tendência deve se acentuar em 2016. Apesar das várias adversidades que o setor deve enfrentar, há também oportunidades, especialmente porque não há perspectiva de excesso de oferta que pressione os valores do hortifrutis. De qualquer forma, em anos de incerteza como 2016, é recomendável cautela quanto à ampliação dos investimentos.
El Niño deve influenciar clima pelo menos até o fim do verão 2015-2016
O El Niño, principal responsável pelo clima atípico de 2015, deve continuar influenciando as chuvas e as temperaturas no Brasil pelo menos até o final do verão 2015/16 (meados de março), de acordo com informações da Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera dos Estados Unidos (NOAA). Considera-se a ocorrência do fenômeno quando as águas do Pacífico ultrapassam em 0,5°C a média histórica por um período de quatro meses consecutivos. No final de 2015, no entanto, a temperatura da Superfície do Mar excedeu em até 3°C os valores médios históricos.
Dessa forma, o atual fenômeno é um dos mais fortes já registrados. No Brasil, os efeitos são verificados de maneira mais expressiva nos extremos, com seca nas regiões Norte e Nordeste e muita chuva no Sul.
Tanto a seca no Nordeste quanto as chuvas no Sul afetaram a produção de frutas e hortaliças em 2015 e devem continuar influenciando em 2016. No caso da manga, na Bahia, no Vale do São Francisco e até mesmo no Norte de Minas, o calor e a baixa disponibilidade de água prejudicaram o desenvolvimento dos frutos, reduzindo a produtividade dos pomares. Viticultores do Vale estão receosos com a possível redução na vazão da água para irrigação, o que pode impactar na produtividade da safra 2016 e até mesmo nas exportações. Quanto ao melão, no Rio Grande do Norte/Ceará, a falta de água já levou à diminuição da área em 2015. No Rio Grande do Norte, a seca causou a redução também da área de mamão, situação que pode se agravar caso a seca piore na região de Mossoró/Baraúna em 2016.
A falta de água também deve dificultar a manutenção da área prevista para as culturas da batata, cenoura e tomate na Bahia no primeiro semestre de 2016, podendo resultar em queda nos investimentos. Produtores de cebola no Vale do São Francisco já cultivaram menos em 2015 e podem reduzir ainda mais a área se as chuvas não se regularizarem.
Noutro lado do País, no Sul, as precipitações muito acima da média desde setembro e a ocorrência de granizo limitaram a produção de maçã para a safra 2015/16 no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, uma vez que a floração e a polinização foram prejudicadas. No Norte de Santa Catarina, a produtividade dos bananais foi prejudicada, além das atividades de campo, com risco de deslizamentos. As chuvas impactam negativamente também na produção de uva de mesa, tanto no final de 2015 como no primeiro semestre de 2016 no norte do Paraná, além da safra gaúcha 2015/16 de uva industrial, mantendo a oferta baixa e a qualidade insatisfatória.
Para a cebola, mais um ano chuvoso no Sul prejudica a safra de verão 2015/16 e os ganhos de área estimados terão pouco efeito para o aumento da oferta, já que a produtividade deve ficar abaixo do normal. Além disso, a qualidade também deve ser bastante prejudicada, além do que o período de armazenamento dos bulbos se torna menor. No caso da batata, no Rio Grande do Sul e em Água Doce (SC), produtores podem não alcançar toda a área estimada inicialmente para a temporada 2015/16, caso as chuvas persistam. O plantio de cenoura no Rio Grande do Sul e Paraná e o de tomate no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina para a safra de verão 2015/16, podem ser dificultados pelas chuvas, bem como o desenvolvimento das plantas, impactando na oferta desses produtos ao longo da temporada de verão.
2015: ÁREA DOS HORTIFRUTÍCOLAS RECUA 1,2%
As estimativas da equipe Hortifruti/Cepea sobre a área cultivada baseiam-se em levantamentos amostrais, feitos a partir de contato direto com agentes das principais regiões produtoras. Refletem, portanto, apenas a área das regiões acompanhadas pelo projeto Hortifruti/Cepea. O resultado dessas pesquisas indica que a área cultivada com hortaliças em 2015 foi 1,2% menor que a cultivada em 2014.
FRUTAS: A área de 2015 deve fechar com redução de 1,9% frente 2014. No caso do mamão é esperado recuo no Rio Grande do Norte, por conta da estiagem prolongada que levou à falta de água para irrigação, e no Oeste da Bahia, onde problemas com mão de obra ainda desanimam produtores. Para uva de mesa, estima-se redução em Marialva (PR), após consecutivas safras de baixa rentabilidade. Em melão, a área foi menor na safra 2015 (colheita de abril-julho) no Vale do São Francisco, tendo em vista que produtores estão mais receosos com a concorrência com o Rio Grande do Norte/Ceará e também devido à baixa vazão do rio São Francisco. Na safra 2015/16 do RN/CE, deve haver nova diminuição da área também por falta de água para irrigação. Para banana, a área recua no Rio Grande do Norte e no Norte de Minas Gerais e o motivo é, novamente, a limitação da água para irrigação. Quanto à maçã, a área se manteve estável em 2015, havendo apenas renovação de áreas erradicadas. A manga é a única fruta que fechou o ano com leve aumento no estado de São Paulo.
HORTALIÇAS: Estima-se ligeiro recuo de 0,47% na área em 2015 (incluindo verão 15/16) frente a 2014, mesmo tendo havido elevação dos investimentos na cebolicultura, motivados pelos altos preços ao longo de quase todo o ano – foram recordes em vários momentos. Para tomate de mesa, calcula-se diminuição da área nas safras de verão, inverno e anual, por conta, principalmente, da falta de água que persiste na região. Em relação ao tomate industrial, também se estima que tenha havido recuo nos investimentos em 2015, devido aos estoques elevados das indústrias de atomatados. Para a batata, houve ligeira recuperação da área cultivada na safra das secas. Porém, o cultivo na temporada de inverno e também na das águas foi menor – no inverno, uma área relativamente extensa em Vargem do Sul (SP) e em Cristalina (GO) não germinou a contento. Na safra das águas, a redução de área ocorreu nas lavouras de sequeiro em Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba. Com relação à cenoura, houve aumento de área no Rio Grande do Sul, mas em Goiás e na Bahia a área fecha com recuo nos investimentos. No balanço, o ano fecha com queda nos investimentos. Para folhosas, a estimativa é que a área cultivada em 2015 tenha se mantido estável nas regiões de São Paulo e Minas Gerais.
Acesse AQUI a HF Brasil completa e confira as análises retrospectivas e perspectivas e dados estatísticos (com produção e preços) dos 13 produtos acompanhados pela equipe e HF do Cepea!
TOMATE: Clima instável e custo em alta devem limitar investimentos para 2016
FOLHOSAS: Setor de folhosas fecha 2015 com boa rentabilidade, mas 2016 traz desafios
BATATA: Oferta controlada garante bons preços em 2015
CEBOLA: Resultado da cebolicultura em 2015 é um dos melhores da história
CENOURA: Preço elevado na cenoura de verão não se sustenta no inverno, mas 2015 fecha no positivo
MELÃO: Crise hídrica limita oferta no mercado interno e preços sobem em 2015
CITROS: Preços avançam com oferta de laranja e rendimentos menores
MELANCIA: Clima prejudica melancicultura em 2015
MAMÃO: Preço e qualidade têm forte oscilação em 2015 devido ao clima
MAÇÃ: Boa qualidade e baixos estoques elevam cotações no segundo semestre
MANGA: 2015 foi o ano da manga brasileira no exterior
BANANA: El Niño prejudica produção de prata anã em 2015, mas favorece a de nanica
UVA: Aumento nos custos e redução de demanda limitam crescimento do setor em 2015
Fonte: Cepea – 14/-1/2016
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Fonte: Sistema FAEP