Chuvas atípicas em junho continuaram a castigar os principais terminais exportadores de açúcar do Brasil nesta segunda-feira, suspendendo as operações nos portos, com um grande volume do adoçante aguardando para ser embarcado para o exterior e ajudando a elevar os preços da commodity para uma máxima de dois anos e meio.
As chuvas também continuam a interromper a colheita no principal cinturão de cana do centro-sul, lembrando o mercado sobre o primeiro déficit global de açúcar em seis anos.
Após um mês de abril muito seco, que impulsionou o início antecipado de uma safra recorde 2016/17, chuvas acima da média no fim de maio e em junho estão forçando os navios a aguardar muito mais que o normal para carregar o açúcar nos portos brasileiros, trazendo riscos de escassez de fornecimento para algumas refinarias.
- É difícil carregar os navios sob a chuva, então os atrasos estão se acumulando – disse a gerente comercial da empresa SA Commodities Isadora Lopes, em Santos.
As chuvas acumuladas até o momento em junho são o triplo da quantidade que normalmente choveria na região costeira do Estado de São Paulo.
Dados da SA Commodities mostram que há 29 navios aguardando para serem carregados com açúcar em Santos ante 15 na mesma época do ano passado. O total de açúcar que espera para ser carregado corresponde a 1,4 milhão de toneladas, ante 400 mil toneladas um ano atrás.
O navio para o transporte de açúcar a granel Clia, por exemplo, aproximou-se da costa brasileira perto de 9 de maio para ser carregado com 74 mil toneladas de açúcar para a comercializadora de commodities francesa Sucden. Ele só atracou no terminal da Rumo no domingo.
- A infraestrutura já era insuficiente. Você acrescenta a isso um começo antecipado de uma colheita recorde, melhores retornos para exportações de açúcar devido à fraqueza da moeda e, acima de tudo, o tempo chuvoso – disse o advogado Alex Bahov, que supervisiona contratos de navegação, em Santos.
De acordo com ele, transportadores estão sujeitos a multas diárias que variam entre 2 mil dólares a 12 mil dólares, dependendo do contrato, quando os cargueiros ficam mais do que o programado inicialmente.
REAÇÃO DOS PREÇOS
As condições climáticas do Brasil, que afetam ambas a colheita e as operações portuária, são um fator crucial por trás alta dos contratos futuros do açúcar, os quais atingiram máxima de 2 anos e meio nesta segunda-feira.
O presidente da Datagro, Plinio Nastari, disse nesta segunda-feira que as usinas perderam quatro dias de colheita na segunda metade de maio, uma situação que parece se repetir no início de junho.
- É prematuro dizer que as usinas não vão moer tudo o que foi planejado – disse Nastari.
Ele acredita que o congestionamento nos portos é mais um sinal da forte demanda por açúcar brasileiro, em um momento de dificuldades de produção em outros mercados, em vez de um problema causado apenas pelo clima.
O operador da Marex Commodities Luiz Mendonça acredita que o mercado está olhando para o futuro e reagindo ao que deve ser um grande déficit global para este ano e o próximo.
- Evidentemente este tempo não ajuda as operações portuárias, nem a colheita, mas ainda é cedo para estimar qualquer possibilidade de perdas na produção – ele disse.
A Copersucar, maior comercializadora de açúcar do mundo, que administra um grande terminal privado no Brasil, disse que suas operações estavam ocorrendo “de acordo com os planos”.
A Rumo, uma companhia de transportes controlada pela brasileira Cosan –parceira da Royal Dutch Shell na líder em produção de açúcar Raízen–, não tinha um comentário imediatamente sobre a situação de seu terminal em Santos.
Fonte: Reuters