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GENÉTICA, MANEJO E SANIDADE GARANTAM LIDERANÇA DO RIO GRANDE DO SUL NA PRODUTIVIDADE DE LEITE

A soja é o motor do agronegócio, o arroz é a cultura em que o Rio Grande do Sul lidera em volume e a pecuária de corte simboliza a história da economia rural do território, mas, quando o quesito é produtividade, é no leite que o Estado assume a ponta no país.
Investimento em genética, cuidados com alimentação e atenção à sanidade formam a receita que fez o rebanho do Estado ter um rendimento médio por cabeça de 3,034 mil litros ao ano. É quase o dobro do número nacional e 12,6% acima de Santa Catarina – segundo colocado -, conforme dados de 2014 da Produção da Pecuária Municipal (PPM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desde 2006, o rendimento médio no RS cresceu 43,1%, enquanto no Brasil avançou 25,7%.
A excelência na capacidade de extrair mais leite por animal se espalha por várias cidades. Dos 50 municípios brasileiros com maior produtividade leiteira, 34 são gaúchos. Carlos Barbosa, na Serra, tem o melhor resultado do Estado — 6,8 mil litros/ano — e o terceiro no país.
— Se tenho animais com sanidade, boa genética e produzo e forneço alimentos de qualidade, tenho tudo para melhorar a produtividade — resume João Seibel, diretor industrial de lácteos da Cooperativa Santa Clara, de Carlos Barbosa.
Na genética, a qualidade do rebanho reflete o trabalho de décadas em melhoramento, por meio da inseminação artificial e transferência de embriões. Na sanidade, o avanço no combate a enfermidades como mastite, tuberculose e brucelose.
Na nutrição, se sobressai a capacidade de produzir alimentos em fartura — como milho para silagem e azevém e aveia para pré-secados — e a conscientização de que é necessário guardar para períodos do ano considerados entressafra. Assim, fica garantida a oferta de comida de qualidade para as vacas mesmo no período seco, intervalo de cerca de 60 dias antes de o animal prenhe parir, quando não está em lactação. Isso assegura melhor desempenho ao voltar a ser ordenhado. Ainda no manejo, o uso cada vez maior de sistemas de confinamento ou semiconfinamento é outro fator que contribui para a produtividade, diz Seibel.
— Um animal da raça holandesa, com 650 quilos, se tiver de caminhar durante o dia, sair das instalações para beber água e procurar sombra, subindo e descendo morro, perde muita energia para se locomover e a capacidade de produção não é explorada ao máximo — observa o diretor da Santa Clara.
Genética e manejo
A adoção do tripé genética, sanidade e manejo, que tem contribuído para o Estado elevar a produtividade média, é reflexo de uma mudança de atitude no campo, o que também é consequência do trabalho de extensão rural de cooperativas e entidades como Emater, avalia João Ruben de Barcelos Almeida, vicepresidente técnico da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando):
— Há uma profissionalização da atividade, com produção mais técnica, pastagens rotacionadas, alimentação balanceada, ao contrário de antigamente, que era mais a pasto.
Com larga experiência no setor leiteiro, o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), Ernesto Krug, credita o avanço da produtividade principalmente à assistência técnica prestada pelas cooperativas e o manejo reprodutivo, melhorando a genética do rebanho gaúcho. Um banco de sêmen gerenciado por cooperativas escolhe e distribui a preços menores para os criadores gaúchos material de reprodutores de comprovada eficiência, tanto para corrigir defeitos, quanto para, por exemplo, melhorar a qualidade do leite em fatores como teor de sólidos, como gordura e proteínas.
— Ano passado foram distribuídas 150 mil doses, três vezes mais do que uma década atrás — diz.
Mesmo que os criadores do Estado sejam hoje a nata da pecuária leiteira nacional, há potencial para dobrar a produtividade no Rio Grande do Sul, aposta Krug.
Cuidado retribuído em litros

 
Há apenas dois anos entregando o leite do tambo que construiu do zero, o técnico em agropecuária Ronaldo Borsoi, 36 anos, é um dos exemplos de alta produtividade em Carlos Barbosa, município campeão em rendimento na atividade no Estado. Em média, cada uma das 33 vacas em lactação da propriedade produz 32,9 litros por dia. Se mantivesse a média durante todo o ano, seriam quase 10 mil litros por animal, três vezes mais do que o resultado para o Rio Grande do Sul apurado pelo IBGE.
Além da genética do rebanho e da alimentação, com cada animal recebendo uma suplementação de acordo com as suas necessidades, o conforto das instalações e a maneira de lidar com o rebanho — cada vaca tem um nome e costuma reagir quando é chamada — fazem a diferença, acredita o produtor da localidade de Linha São José.
— Aqui, ninguém grita, ninguém bate nos bichos. Se tenho 33 vacas produzindo, são como 33 funcionárias. Tenho de dar condições — diz Borsoi, que toca o tambo com a ajuda de apenas um colaborador e a mulher, que ainda se divide com a administração de uma loja de brinquedos em Garibaldi — em uma atividade onde madrugar é obrigação e não há fim de semana ou feriados.
A poucos quilômetros dali, em Linha Sobra, o administrador de empresas Tiago Baldasso, 33 anos, faz parte da terceira geração da família à frente do tambo junto com o pai e dois tios, com 90 vacas em lactação:
— Meu avô foi um dos primeiros da região a trabalhar com inseminação artificial, há mais de 40 anos. Não compramos gado, toda a genética vem da propriedade — conta.
Alimentação balanceada, manejo adequado e conforto nas instalações do confinamento asseguram as melhores condições para os animais expressarem todo o potencial de produção — hoje, tem torno de 35 litros por dia em média por animal, em três ordenhas. Em dias mais quentes, por exemplo, um sistema de ventilação e aspersão de água tenta manter o ambiente em até 22ºC. O capricho compensa, garante produtor.
— Produzir alimento é um negócio que tem futuro em termos financeiros — sentencia o jovem.
Rebanho gaúcho
Em volume, o Rio Grande do Sul é o segundo maior produtor do país, superado apenas por Minas Gerais. O rebanho gaúcho de vacas leiteiras supera 1,4 milhões de animais — 58,45% da raça holandesa e 16,3% jersey, conforme o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produtiva do Leite no Rio Grande do Sul, realizado pelo Instituto Gaúcho do Leite (IGL) e pela Emater e divulgado no ano passado.
Em 2015, a produção do Estado chegou a 4,6 bilhões de litros. Deste total, 91,1% são coletados pelos laticínios do Estado. Existem no RS 198 mil produtores, mas apenas 84 mil entregam para indústrias.
Fonte: Zero Hora

Fonte: Canal do Produtor



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