Comprar direto do produtor, sem atravessadores, tem sido uma escolha dos principais chefs de cozinha. Essa ligação entre o campo e a cozinha tem benefícios para toda a cadeia: quem planta pode vender por um preço justo, e não divide o lucro; o cozinheiro trabalha com ingredientes variados, frescos e origem conhecida, podendo exercer a criatividade de forma genuína; e o cliente ganha com o acesso à comida mais saborosa.
A agricultura familiar e de pequena escala é uma das responsáveis pela preservação da diversidade de alimentos que chegam à mesa do consumidor.
- Produtores rurais contribuem para o luxo que é deliciar-se com comida e preservar a diversidade, que está ficando rara. Com as commodities agrícolas, nossa cozinha fica cada vez mais pasteurizada, uniformizada. Com esses produtores temos achance de ter uma comida mais gostosa – defende o chef Rodrigo Oliveira, do premiado restaurante Mocotó, durante o workshop Turismo Rural, organizado pela Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo na quinta-feira (17/9).
O chef afirma que a produção em pequena escala, lenta e cuidadosa, é fundamental para o sucesso de seus pratos.
- Vivem me perguntando qual é o ingrediente indispensável na minha cozinha, esperando que eu responda algo como uma manteiga de garrafa, uma erva ou tempero. Mas o ingrediente principal da cozinha é o tempo. Um celular sai rápido da fábrica, em lotes de mil unidades, mas quanto tempo demora para uma cenoura sair do chão? – questiona.
O Instituto Atá, criado por chefs de cozinha para diminuir distâncias entre eles e os produtores, é uma das iniciativas de economia criativa para preservar a diversidade e divulgá-la ao mundo. Segundo Roberto Smeraldi, representante da organização, garante que aproximar esses atores é promover a diversidade não só de alimentos, mas sociais, culturais, agrícolas, e ganhar dinheiro com isso.
- Tem gente que enxerga na diversidade as oportunidades. É ver pelo lado mercadológico, de varejo, de produção. À relação entre produtor e comprador é uma via de mão dupla, é aprender e ensinar. E a qualidade da relação pode se dar no campo, cidade e até na internet – conta.
Nos últimos anos, os cozinheiros têm tido destaque na mídia e na sociedade. Com os holofotes focados neles, eles querem aproveitar a divulgação para reativar o elo entre sociedade e comida. Na sua apresentação no workshop, o chef André Mifano, do restaurante “brasileiro com sotaque italiano” Vito, o mundo esqueceu de onde brota a comida.
– O ser humano se desligou do alimento. Se pedir para uma criança desenhar um peixe, ela rabisca dois quadrado dentro de uma embalagem porque ela não sabe como é um pescado sem ser desse jeito – dispara. É hora de religar, voltar pro campo, entender e ver da onde vem o nosso alimento – disse.
No Vito, todos os ingredientes são nacionais, exceto o azeite, cuja versão brasileira com o padrão de qualidade que Mifano não abre mão sai mais caro que a importada. Mas de resto, a qualidade é imbatível.
- O produtor brasileiro consegue entregar mais qualidade que os congelados que vêm de fora. É uma forma de valorizar produtor e produto nacional. Fomenta a venda para que ele possa crescer, dá vontade para ele produzir mais e melhor, e atingir um monte de gente, aumentar a clientela – finaliza.
Fonte: Globo Rural