" o produtor rural, que é importante ressaltar não participa desta fraude, é o primeiro a sentir no bolso os reflexos da redução do consumo e da desconfiança do produto gaúcho. Mesmo porque a indústria repassa esse prejuízo imediatamente para o produtor, quando deveria melhorar os processos de fiscalização do leite que recebe e escolher melhor os transportadores ou leiteiros..."

GANÂNCIA A QUALQUER PREÇO

A principal notícia da área policial nesta quinta-feira (17/09) no Rio Grande do Sul foi a deflagração da 9ª etapa da Operação Leite Compensado que desde 2013 investiga fraudes na cadeia leiteira gaúcha. Desta vez, o Ministério Público descobriu que os envolvidos adicionavam água e bicarbonato de sódio ao produto vencido e já azedo. A mistura, além de aumentar o volume, servia para mascarar o leite que chegava a ser recolhido sete dias após a ordenha, quando a legislação em vigor estipula prazo máximo para a coleta até o seu recebimento e processamento pelos postos de resfriamento de 48 horas.

Conforme os promotores, era a forma que a transportadora Marcio Fachinello – ME, de Elmeralda – nos Campos de Cima da Serra gaúcha, principal alvo das investigações, encontrou para aumentar o volume de leite coletado agindo fora do prazo previsto pela lei. Um dos motoristas chegou a admitir que era orientado a acrescentar água e um outro produto que nem sabia o que era. Antes de seguir, uma pergunta: ele não imaginava que estava participando de uma prática ilegal?

Mas vamos ao “cabeça” deste esquema: o dono da transportadora, Marcio Fachinello, negou as acusações, mas o MP não tem dúvidas que estamos diante de um crime organizado e prática comercial abusiva na cadeia produtiva do leite. Agora o empresário terá que ter bons advogados para convencer a justiça de que é inocente, mesmo com as análises de quatro coletas feitas pelo Ministério da Agricultura nos meses de agosto de 2014 e 2015 comprovar que houve adulteração do produto.

Agora o que leva o ser humano a fraudar um leite podre, azedo e impróprio para o consumo? A resposta está na ganância, na obsessão pelo lucro a qualquer custo. Mesmo sabendo que a mesma prática criminosa já foi desvendada e muitos dos culpados estão na cadeia, estes vigaristas não desistem.

As consequências são imediatas: primeiro a saúde pública, principalmente de crianças e de idosos que têm no leite um alimento precioso. Mais adiante, o produtor rural, que é importante ressaltar não participa desta fraude, é o primeiro a sentir no bolso os reflexos da redução do consumo e da desconfiança do produto gaúcho. Mesmo porque a indústria repassa esse prejuízo imediatamente para o produtor, quando deveria melhorar os processos de fiscalização do leite que recebe e escolher melhor os transportadores ou leiteiros, que nesta cadeia são os intermediários entre o produtor e a indústria e o onde as adulterações ocorrem.

Olhando para esta situação e visualizando mais adiante em Brasília, aqueles casos de corrupção absurdos – é tanto dinheiro para propina, para comprar políticos, para enriquecer quem se dizia defensor do povo, que é difícil acreditar numa solução. O caminho é cadeia para esses criminosos e, principalmente, que eles devolvam todo o dinheiro ilegal. Daí não precisamos aumentar impostos, parcelar salários, demitir trabalhadores, brigar contra a inflação…



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