O comércio Brasil-China não vai recuperar o dinamismo que teve nos anos de boom das commodities e de recordes de crescimento do PIB chinês. Por isso, os brasileiros precisam focar a atração de investimentos chineses –principalmente na área de infraestrutura.
A opinião é de Clodoaldo Hugueney, ex-embaixador do Brasil na China (2008-2013), que acaba de assumir a presidência do Conselho Empresarial Brasil-China.
Para ele, haverá vários anúncios de investimentos durante a visita ao Brasil de Li Keqiang, primeiro-ministro chinês, em maio.
O processo de urbanização da China está avançando e é prioridade do governo. Isso vai fazer com que as pessoas consumam mais produto industrializado de agricultura, carne industrializada, sucos de frutas, o que abre uma grande perspectiva para o agronegócio brasileiro.
E não só para exportação mas também para investimentos em supermercados, restaurantes. Acho que temos um espaço enorme. E a área de serviços, dentro desse processo de reformas, vai crescer bastante. O setor de serviços é muito pouco desenvolvido na China. O Brasil é competitivo em automação bancária, software especializado.
Quais áreas são mais promissoras para o Brasil na China?
Nos últimos anos, a relação Brasil-China foi sustentada pelo comércio. Minha sensação é que esse ciclo terminou, porque o superciclo das commodities foi excepcional e a China não vai mais crescer como antes. Com o Brasil em período de ajuste, também não teremos a mesma demanda por importações chinesas.
O comércio vai seguir sendo extraordinariamente importante, porque atingiu um valor muito significativo, mas a meu ver não terá o dinamismo de antes. O que pomos no lugar disso? Investimentos.
Os chineses vão acelerar o processo de investimentos no exterior, com incentivo do governo para empresas comprarem outras ou iniciarem negócios. O Brasil se beneficiou disso, entraram várias empresas chinesas aqui.
Agora esse processo vai ganhar uma dimensão maior. Não só investimentos nas áreas de recursos naturais, que é onde a China tem uma necessidade importante. Na infraestrutura, por exemplo, nós temos um deficit brutal.
Fonte: Folha de S. Paulo