A esperança de dias melhores para os produtores de arroz no segundo semestre deste ano deve-se principalmente ao aumento das exportações do cereal, observado desde o final de 2017. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, os embarques registraram alta de 121% em janeiro deste ano, na comparação com o mesmo mês de 2017. Os destaques foram as vendas para países latino-americanos e africanos. Em receita, porém, o desempenho não cresceu na mesma medida e a alta ficou em 65%. Maior produtor de arroz do país, o Rio Grande do Sul respondeu por 97% dos embarques no primeiro mês do ano. Já a importação, que fechou 2017 com alta de 9,2% em volume e 10,9% em receita, apresentou queda de 38,2% e 39,2%, respectivamente, em janeiro. A exemplo do que ocorreu no ano passado, as compras feitas no Paraguai foram predominantes, com 61% do total.
Segundo o gerente de fibras e alimentos básicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Sérgio Roberto Gomes dos Santos Júnior, os mercados nacional e internacional vivem momentos distintos. Fora do Brasil, observa-se um crescimento da demanda, principalmente de países africanos e do sudeste asiático, somado a uma menor oferta da Tailândia e da Índia.
“Isso tem se refletido em aumento dos preços internacionais”, constata.
Internamente, o que tem ocasionado a redução dos preços é principalmente o estoque de passagem, calculado entre 1,3 milhão e 1,5 milhão de toneladas, hoje praticamente todo nas mãos do setor privado.
“Esse aumento de estoque de passagem aconteceu principalmente com a redução da demanda interna”, explica Santos.
A redução dos preços internos favoreceu o aumento das exportações, que também foi auxiliado pelo câmbio e pelo porto, já que nos últimos meses não houve competição com a soja, o que possibilitou o embarque de grandes volumes de arroz.
A última estimativa da Conab apontava produção nacional de 11,6 milhões de toneladas, mas o volume deverá ficar menor devido à frustração na safra gaúcha. Santos aponta que a tendência para o segundo semestre é de preços acima do mínimo e cenário melhor caso se confirme a quebra da colheita no Rio Grande do Sul. A expectativa é de que o estoque de passagem para a próxima seja inferior ao atual, chegando a cerca de um milhão de toneladas. Também espera-se que o consumo interno volte ao nível de 12 milhões de toneladas, tido como “normal”, em razão dos sinais de recuperação econômica do país. Nos últimos três anos, este número apresentou queda, segundo a Conab.
“É provável que mesmo que o consumo não chegue aos 12 milhões de toneladas, a balança comercial seja superavitária e, com isso, possamos reduzir esse estoque de passagem”, confia Santos.
Grande preocupação do orizicultor gaúcho, o Paraguai chegou ao posto de maior exportador do grão ao Brasil baseado em preços competitivos. Por outro lado, segundo Santos, um volume de 700 mil toneladas não deveria provocar estragos em um mercado de 12 milhões de toneladas, como o brasileiro.
“Não foi só o Paraguai, o nosso arroz perdeu competitividade e também ocorreu redução da demanda interna. Esses dois fatores geraram esse maior estoque de passagem, que causou todo esse cenário”, afirma.
Sob influência do “La Niña”
As baixas temperaturas que provocaram estragos nas lavouras de arroz devem-se à influência do fenômeno climático La Niña. Segundo a meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, a presença de massas de ar polar não é algo raro nos anos sob influência do fenômeno, o que representa um risco especialmente para a lavoura orizícola. O frio normalmente acontece associado a tempo seco. No dia 13 de fevereiro, por exemplo, Santana do Livramento, na Fronteira-Oeste, registrou 7,9 graus Celsius.
Quanto à previsão para as próximas semanas, não há perspectivas de chuvas prolongadas para a Região Sul, que sofre com estiagem. Segundo Estael, o La Niña ainda deve durar por mais dois meses, o que deve provocar, a partir do outono, chuvas irregulares e antecipação do frio.
Os levantamentos do Irga mostram que apenas 3% da lavoura gaúcha de arroz estavam semeados em setembro do ano passado, quando a média histórica para o mês, nos últimos anos, é de 14%. Em outubro, estavam semeados 37%, frente à média de 58%. O atraso decorreu do excesso de chuvas nas regiões produtoras. Já a onda de frio no verão se intensificou de 8 a 15 de fevereiro, quando 69% da área semeada estava em período reprodutivo.
Fonte: Correio do Povo