Para combater uma doença que tem tirado o sono dos produtores de maracujá, causada por um vírus (Cowpea aphid borne mosaic virus – CABMV), disseminado pelos chamados pulgões, que atinge todas as áreas produtoras de maracujá do país, o professor Jorge Alberto Marques Rezende, do Departamento de Fitopatologia e Nematologia da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ) atua em um projeto de cooperação com o professor Quelmo Silva Novaes, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, em Vitória da Conquista.
Os professores dedicam-se a avaliar a viabilidade prática e econômica da condução individual de maracujazeiros em caramanchões, associada com a erradicação sistemática das plantas doentes, semelhante ao que se faz há mais de 20 anos no Brasil para o controle do mosaico do mamoeiro, em busca de um método eficaz e duradouro para o controle dessa virose do maracujazeiro.
“O vírus reduz a longevidade das plantas e provoca danos quanti e qualitativos à produção. Um maracujazeiro pode durar até três anos, mas a infecção com o vírus e sem controle pode chegar a pouco mais de um ano”, conta o professor Rezende. A doença se manifesta com o sintoma de mosaico na folha, redução da área foliar e da vida das plantas.
Pesquisa
Para avaliar a eficiência desse método, os professores compararam, em Piracicaba (SP) e Vitória da Conquista (BA), a infecção natural de maracujazeiro conduzido em caramanchões individuais, onde foram feitas inspeções semanais para eliminação de plantas doentes, com a de maracujazeiros conduzidos no processo convencional de espaldeiras de um fio de arame, sem erradicação das plantas doentes (controle). “Erradicação é o método mais eficaz, mas é preciso que o produtor fiscalize semanalmente a cultura e arranque rapidamente as plantas infectadas” ressalta Rezende.
A utilização dos caramanchões separa as plantas uma das outras, evitando o entrelaçamento das ramas, facilitando a identificação e eliminação da planta doente. Além disso, constatou-se que houve uma economia de 50% na área plantada no modelo de caramanchões.
No entanto, conforme aponta o professor Rezende, “a implantação de caramanchões possui um custo alto e não é muito acessível”. No entanto, essa estratégia de manejo da doença pode ser aplicada em qualquer sistema de condução das plantas, desde que individualizadas para facilitar o trabalho de inspeções e erradicação das plantas doentes.
Além disso, é possível que a criatividade dos produtores leve ao desenvolvimento de um sistema barato para a condução individualizada das plantas. É importante ressaltar que esse sistema de manejo para o controle da doença não deve ser aplicado em áreas que cultivam maracujazeiro de forma extensiva, pois há muitas fontes de inóculo do vírus.
Deve ser implantado preferencialmente em áreas novas ou na recuperação da cultura em regiões onde ela desapareceu devido à presença do vírus.
Resultados
Em setembro de 2013, em Piracicaba, foram transplantadas 100 mudas de maracujá na área com caramanchões na Fazenda Areão, da ESALQ, enquanto outras 56 mudas foram transplantadas em janeiro de 2014 em área com espaldeiras de um fio de arame no campo experimental da ESALQ.
As plantas são inspecionadas semanalmente pelo professor Rezende. Até junho de 2015 foram erradicadas apenas seis plantas no espaço com caramanchões, enquanto na área das espaldeiras, localizada a 2.500 metros de distância, onde não foi efetuada a erradicação, 100% das plantas estavam infectadas em julho de 2014. “Onde fizemos a erradicação de plantas doentes ainda temos 94 plantas sadias depois de 21 meses do transplante das mudas no campo, enquanto na área controle perdemos todas as plantas em menos de seis meses”.
Vitória da Conquista
Nos testes conduzidos pelo professor Quelmo S. Novaes, na Bahia, foram realizados os mesmos procedimentos. Plantações com caramanchões e espaldeiras em áreas distantes, ocorrendo a erradicação apenas na primeira.
Em setembro de 2014 foram transplantadas 100 mudas de maracujá em cada área. Na plantação nos caramanchões, até março de 2015, oito plantas doentes foram erradicadas, enquanto nas espaldeiras todas as plantas já estavam infectadas nesta data.
Ao tomar conhecimento desse resultado, o produtor Job Alvim Julião, de Anagé (BA), resolveu adotar a erradicação para o manejo da doença na plantação de 60.000 pés de maracujá que transplantou em janeiro de 2015, em espaldeiras de um fio de arame.
Até agora erradicou 28 plantas, porém, já notou que o emaranhado das plantas dificulta, e muito, a identificação e eliminação dos pés doentes. “Precisa individualizar”, disse.
Com a pesquisa, foi possível comparar a durabilidade de um pomar com erradicação das plantas contaminadas com frequência, em relação a outro onde não é realizada nenhuma erradicação e o vírus é capaz de, em poucos meses, disseminar e devastar completamente um maracujazeiro.
Fonte: Revista Campo e Negócios
Fonte: Canal do Produtor