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ENTRE A ENXADA E O TRATOR

Coincidentemente, a Transparaná S. A. – sede em Londrina – assumiu a posição de maior revendedora de tratores agrícolas na América Latina em 1975, entregando 2.500 Massey Ferguson. E a área colhida de soja no Estado – safra 74/75 – foi de 1,631 milhão de hectares, produção de 3,624 milhões de toneladas, produtividade média de 2.200 kg/ha. Indicativos de que soja e mecanização já não eram estranhos.

Em 16 de abril de 1975, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) formalizou o Centro Nacional de Pesquisa da Soja (CNPSo), em Londrina, provisoriamente no Instituto Agronômico do Paraná.

Mas “o ano de 1975 foi o marco divisor”.

– Porque a geada fez o Paraná perder a hegemonia do café, que passou ao norte de São Paulo, em parte, e Minas Gerais. Propriedades até então conduzidas apenas na enxada introduziram culturas mecanizadas com trator, grade, arado e outros acessórios, restringindo a cafeicultura – resumiu Wilson Baggio.

Criado em 1965, o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) concede aos agricultores crédito de custeio e para investimentos altamente subsidiados, isentos de juros e correção monetária no período 1972/1980 e sem encargos bancários entre 1974 e 1976. No período 1975/1979, o 1º Programa Nacional de Defensivos Agrícolas faz com que a indústria do setor tenha um surto de crescimento. A indústria “a montante da produção agrícola” impôs o desenvolvimento tecnológico deste setor, segundo Francisco Graziano Neto.

De 1970 a 1980, o Plano Nacional de Revigoramento de Cafezais pelo sistema de crédito e assistência técnica renova 60% da cafeicultura nacional, com 2,1 bilhões de covas, expandindo-a no cerrado mineiro e outras regiões conforme o modelo, privilegiando médias e grandes propriedades em localizações menos sujeitas a geadas. Não serviu à cafeicultura no Paraná, onde 93% das propriedades agrícolas tinham menos de 50 hectares, sendo discutível se corresponderiam àquelas exigências e porque a política de crédito foi dirigida às médias e grandes, que absorveram 77% dos financiamentos – segundo apreciações do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social) e Deral (Departamento de Economia Rural da Seab-PR) citados na Circular Iapar nº 49.

Os altos custos de formação e condução dos cafezais após a geada de 1975 causaram muitas desistências,

- Já que os primeiros retornos (…) seriam obtidos após o terceiro ano, quando as novas variedades iniciam a produção econômica – conforme o Iapar.

As lavouras em formação, constituídas de brotações e plantios novos, foram prejudicadas drasticamente pelas geadas em 1978 e 1979.

- Mais pela sensibilidade, por se encontrarem em fase de recuperação, do que propriamente pelas geadas relativamente de pequena intensidade – disse.

O pesquisador Tumoru Sera constatou que a produtividade média do Paraná nos 6 anos que antecederam a geada de 1975 era de 685 kg de café beneficiado/ha, portanto, competitiva nacionalmente. Mas em oito anos pós-geada (de 1976 a 1983), caiu para 364 kg/ha.

- Uma produtividade descapitalizadora em demasia, constituindo-se numa das piores crises atravessadas pela cafeicultura paranaense – afirmou.

De 54% em 1961, a participação do Paraná na produção brasileira de café caiu para 15,58% em 1980, quando o trigo chegou a 49,97% (1º lugar); a soja, 35,63%(2º); o algodão, 33,51% (1º); e o milho, 28,84% (1º). (W.S.)

Fonte: Folha Web



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