A equipe formada por pesquisadores e analistas da Embrapa Agrossilvipastoril, do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), com apoio de professores da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), finalizou as primeiras análises de viabilidade de sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). O trabalho conjunto, que está em seu terceiro ano, busca fornecer aos produtores uma ferramenta em que possam simular o desempenho de sistemas integrados.
Até o momento foram finalizadas as análise de quatro Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) durante um ciclo em sete anos. Em todos os casos em que foi possível comparar os resultados com uma das fazendas modais com sistemas exclusivos de sucessão soja/milho, os sistemas integrados foram mais rentáveis. Nessa análise entraram tanto fazendas com sistema lavoura-pecuária, como áreas com lavoura-pecuária-floresta.
Para se chegar a esse resultado, a equipe do projeto levantou informações sobre os custos de cada atividade desenvolvida ao longo de sete anos em quatro propriedades nos municípios mato-grossenses de Barra do Garças, Nova Canaã do Norte, Santa Carmem e Querência. Com base nos coeficientes de desempenho de cada atividade, nos custos, no investimento inicial e na receita foi possível chegar à análise de viabilidade.
De acordo com o pesquisador da área de economia Júlio César dos Reis, este mesmo trabalho continua sendo feito para se chegar à análise de viabilidade de outras cinco URTEs em diferentes regiões do estado e com diferentes estratégias de ILPF. Com isso, serão geradas mais informações para um banco de dados sobre as atividades desenvolvidas nestes sistemas, para subsidiar a criação de uma ferramenta que possa ser usada pelo produtor.
"Nossa meta é até o fim deste ano disponibilizar uma ferramenta para análise de viabilidade econômica de sistema de integração lavoura-pecuária (ILP). Nela o produtor poderá colocar os dados dele e ver a viabilidade econômica da configuração de sistema integrado que pretende adotar. Isso poderá ajudá-lo na tomada de decisões", explica o pesquisador da Embrapa, que diz ainda ser necessário mais tempo de pesquisa para a finalização de um modelo para sistemas integrados com o componente florestal.
A ideia é que novas informações sejam coletadas continuamente por meio da parceria com o Imea, de modo a ampliar a base de dados, com mais coeficientes técnicos de ILPF. Esse processo é importante devido ao fato de não existirem coeficientes definidos para esses sistemas como já existe para lavoura ou pecuária. São considerados coeficientes técnicos a quantidade de mão-de-obra necessária para fazer determinada operação, o tempo e consumo de uma máquina para uma atividade, a quantidade de vezes que uma operação como a poda de árvores, por exemplo, é realizada, entre outros.
O levantamento constante de informações ainda visa manter atualizado o banco de dados, uma vez que as variações de mercado podem impactar diretamente na viabilidade econômica de um determinado sistema produtivo.
O superintendente do Imea, Daniel Latorraca, ressalta que além de auxiliar o produtor a iniciar um projeto de ILPF com a gestão bem alinhada, um dos grandes benefícios deste trabalho é o subsídio às políticas públicas relacionadas à agricultura de baixo carbono.
"Esses dados irão subsidiar aplicação de recursos púbicos como os do Programa ABC, que oferece crédito para tecnologias sustentáveis, como a ILPF. Eles irão subsidiar bancos e projetistas para que vejam o que é viável, o que não é viável", ressalta Daniel Latorraca.
Metodologia
Para se chegar a esta análise de viabilidade, a equipe do projeto adotou uma nova metodologia de organização dos custos baseada no sistema ABC (do inglês, Custo Baseado em Atividades).
O pesquisador da Embrapa Júlio César dos Reis explica que a vantagem em relação aos demais métodos utilizados é que esse permite a identificação dos custos de produção associados a cada atividade realizada, como plantio, aplicação de fungicida, aplicação de inseticida, dessecação, colheita, poda de árvores, vacinação de animais, etc. Isso é diferente da metodologia de custeio por absorção, a mais utilizada na avaliação econômica de sistemas produtivos. No método anterior, são computados os custos globais de cada insumo. Assim, não é possível saber, por exemplo, quanto de mão de obra foi dispendida no plantio.
A partir da definição dessa metodologia, foram coletados os dados nas URTEs para se chegar à análise de viabilidade.
Além disso, ao extrapolar esses dados, é possível criar coeficientes que podem ser utilizados para outras propriedades.
Além da continuidade da coleta de dados em Mato Grosso, outro projeto liderado pela Embrapa Agrossilvipastoril e com participação de 17 Unidades da Embrapa começará a levantar os custos em diferentes regiões do país. O objetivo é ampliar a base de dados, de forma a se chegar a uma ferramenta que abranja todo o país.
Fonte: Embrapa
Fonte: Canal do Produtor