A demanda aquecida por parte dos países árabes e a perspectiva de abertura de novos mercados devem fazer com que os embarques de bovinos vivos cresçam 30% neste ano no Brasil. Porém, exportadores temem prejuízo à imagem do País diante da repercussão do caso do navio que ficou parado no Porto de Santos (SP).
As exportações vêm crescendo ano a ano, puxadas por países como Turquia, que adquiriu 55% do total de animais vivos negociados em 2017, quando foram embarcados 400 mil animais, com receita de US$ 276 milhões. O que faz com que os produtores considerem esse mercado atraente é o preço. De acordo com o analista da Scot Consultoria, Breno de Lima, o valor do “quilo vivo” chega a ser de 20% a 25% superior ao preço pago no mercado interno.
Apesar desse cenário de números positivos, o episódio que envolveu um dos maiores exportadores de gado vivo do País, o frigorífico Minerva, pode afetar os rumos desse mercado.
Na última segunda-feira (05.02), o navio Nada, carregado com 25 mil animais vendidos pelo frigorífico, deixou o porto de Santos depois de quatro dias parado. O embarque foi impedido por decisão do juiz Djalma Gomes, sob alegação de que o gado seria transportado em más condições. Ele ainda determinou a proibição desse tipo de operação em todo o País.
Na avaliação de Barbosa, o impacto do caso para o mercado, guardadas as proporções, pode ser comprado ao da Operação Carne Fraca, que em março do ano passado apontou irregularidades na inspeção de frigoríficos. O Brasil demorou seis meses para recuperar os mercados que fecharam as portas. “É claro que temos menos mercados envolvidos – apenas seis – porém creio que levaremos pelos menos 60 dias para recuperar o ânimo dos compradores”, disse.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) teme que novas decisões judiciais impeçam os embarques de animais vivos pelo Brasil. O País tem hoje 100 mil bovinos em áreas de pré-embarque, aguardando exportação. “É muito preocupante que uma decisão dessas tenha sido tomada sem conhecimento dos processos, prejudicando toda a cadeia”, afirma o chefe Jurídico da CNA, Rudy Ferraz.
Na última segunda-feira, a CNA protocolou um pedido de assistência na Justiça Federal de São Paulo para fazer parte da ação que determinou na sexta (02) a suspensão das exportações de gado vivo em todo o território nacional. “Agora, vamos monitorar o andamento do processo para que possamos participar de outras decisões”, destaca.
No centro do debate estão as condições de embarque dos animais. Segundo Barbosa, o País segue normas internacionais definidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), e as embarcações são verificadas por veterinários do Ministério da Agricultura (Mapa). O ministro Blairo Maggi manifestou intenção de alterar a Instrução Normativa (IN) 13, de 2010, para evitar prejuízos e malefícios aos animais.
A ONG Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, autora do pedido de suspensão de embarque, contesta a posição. “Nós vamos recorrer dessa decisão que libera os embarques. Nossa reivindicação é que todos sejam proibidos porque as regras da OIE não estão sendo seguidas”, argumenta a coordenadora de bem-estar animal do Fórum Animal, Patrycia Sato.
Ela salienta que não há condições de transportar os animais em longa distância respeitando as regras de bem-estar animal, e não acredita que o ajuste nas normas seja suficiente. “Além disso, o abate religioso não observa as orientações de bem-estar animal.”
Fonte: Canal do Produtor