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EM MEIO À CRISE, BOI GANHA MAIS VALOR

Até onde o boi brasileiro vai em sua marcha de valorização ninguém sabe, mas que ele não para e segue em alta no segundo semestre de 2015 o setor tem certeza. A principal feira das raças zebuínas – que respondem por dois terços do rebanho bovino brasileiro –, mostrou, na última semana, tendência de a arroba ultrapassar a barreira de R$ 150 e chegar a R$ 160, um novo número que mobiliza a cadeia produtiva, força mudanças no consumo interno e redimensiona as exportações.

As discussões da 81.ª Expozebu, realizada em Uberaba, no Triângulo Mineiro, apontam que baixas serão pequenas e temporárias. A expectativa é que o preço ao criador bata recorde atrás de recorde. E que a marca de R$ 150/arroba seja rompida no mercado físico em agosto.

A crise econômica brasileira interrompe o crescimento e até limita o consumo interno, mas a bovinocultura prevê que os Estados Unidos anunciem, em agosto, liberação à carne brasileira, o que representará um passaporte para Canadá, Chile, México e outros países da América Central.

Conforme o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), a questão é que o padrão brasileiro vai ganhar nova aceitação. Os Estados Unidos, em si, que importam 1 milhão de toneladas ao ano, devem comprar pouco e teriam interesse por carne magra, da parte dianteira.

O Brasil tende a registrar recuo pouco significativo no consumo interno de 40 quilos de carne vermelha por pessoa ao ano por causa da crise, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), Luiz Claudio Paranhos.

- O que vai balizar o preço da arroba é o mercado externo. Se a gente a gente começar a exportar muito, a arroba pode chegar a R$ 160, a R$ 165. Se a gente continuar no mesmo patamar do ano passado, pode chegar a R$ 156 – afirma Paranhos, considerando os preços do mercado futuro.

O preço mínimo da arroba de boi gordo para agosto era de R$ 152,50 ontem na BMF&Bovespa. Nos contratos de outubro, o piso chegava a R$ 153,96. O bezerro bate em R$ 1,5 mil, numa resposta aos apelos do mercado por aumento na produção, mas de resultado no longo prazo, esperado para daqui cinco anos.

Isso significa que cortes como a picanha devem passar de R$ 70 por quilo ao consumidor em 2015. Para quatro pessoas, essa opção deve ter custo de R$ 100 no açougue. Se os Estados Unidos e novos mercados correlatos estimulam a demanda no segundo semestre, o crescimento do consumo global estimula os preços no longo prazo. Mas a cadeia produtiva não prevê aumento no rebanho nacional muito além das 210 milhões de cabeças atuais, mesmo que o país, maior exportador do alimento, eleve sua participação de 25% para 44,5% do mercado global em menos de uma década.

- Se hoje a gente exporta de 1,8 milhões a 2 milhões de toneladas, vamos exportar 4 milhões de toneladas para atender a demanda mundial daqui a cinco anos. Ao invés de produzir 10 milhões, vamos ter que produzir 12 ou 13 milhões para não desabastecer o mercado interno – afirma Paranhos.

Para que isso ocorra sem aumento no rebanho, o setor investe em genética, manejo, logística, aponta. A tendência de alta nas cotações do boi depende de aumento nas vendas externas de carne vermelha.

Abertura 
Está previsto para agosto anúncio do governo norte-americano autorizando entrada de carne bovina brasileira no país. Pecuária brasileira espera, a partir disso, elevar embarques para América Central e Chile.

Mercado interno

Inflação de 8%, déficit fiscal de 7% e variação negativa no PIB mostram desequilíbro econômico e ameaçam, analisa o consultor da pecuária Roberto Gianetti da Fonseca, da Kaduna Consultoria. Setor avalia, no entanto, que redução no consumo deve ser pequena, apesar de o churrasco estar cada vez mais caro.

- Teremos que enfrentar período de baixo crescimento para tornar a equilibrar a inflação a níveis confortáveis – analisa Gianetti.

Exportações
O acréscimo esperado na demanda global é de 9 milhões de toneladas de carne bovina. O volume se aproxima da produção anual brasileira, que deve saltar de 10 para 12 milhões de toneladas nos próximos anos para cumprir as previsões do setor.

Cadeia lida com atritos primários

Os pecuaristas brasileiros têm dados concretos para tranquilizar o mercado consumidor. Estão evoluindo a passos largos na produtividade por animal. Porém, ainda enfrentam problemas primários como a desconfiança que impera na relação com os frigoríficos e a insatisfação com as políticas públicas.

Os animais precisavam de 4 a 5 anos para chegarem à fase do abate há uma década, mas agora estão prontos com 2,5 anos em confinamento ou 3 anos no pasto, compara o pecuarista Gustavo Salvo, com plantel de 2 mil bovinos em Cuvelo ((MG). Porém, quem investe em melhoramento genético, com avanços também na qualidade da carne, não recebe “um centavo” a mais dos frigoríficos, reclama. Só existe adicional para quem oferece um grande volume de carne, pelo fornecimento regular aos frigoríficos. Esse diferencial é de cerca de R$ 5 por arroba, ou seja, cerca de 3%.

As cotações ainda se estabelecem muito em função de critérios dos frigoríficos, o que desestimula respostas imediatas na produção, com o produtor sempre em posição de desconfiança, acrescenta o pecuarista Milton Dias Filho, que detém 5 mil bovinos em Itacarambi (MG).

As fazendas maiores detém suas próprias balanças e são monitoradas pelos frigoríficos. As que não detém enviam funcionários para acompanhar a pesagem e o abate nas indústrias. E, mesmo com esses procedimentos, os produtores sentem falta de regulação e segurança.

- Não temos parceria ou estímulo. Todo o ganho que alcançamos em produtividade e qualidade só nos dá retorno da porteira para dentro. O mercado fica de costas para o produtor – acrescenta Salvo.

A Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) aponta que ainda é possível avançar em produtividade. Os abates podem passar a ocorrer entre 18 e 20 meses e a concentração de animais, evoluir de 1 para 1,5 animal por hectare.

Exposições custam a elevar faturamento

Os leilões de bovinos nas feiras agropecuárias não refletem, em faturamento, o salto nas cotações do boi gordo. Nem o número de animais expostos cresce ante o esperado aumento na produção de carne. Os leilões registrado estão até menores, mostrou a ExpoLondrina, realizada em abril no Norte do Paraná. Quedas de 10% a 20% na oferta de lotes se tornaram comuns, confirmou a Expozebu, semana passada, em Uberaba (MG). A Expoingá, que segue até domingo em Maringá (Centro-Oeste do Paraná), tem meta de repetir 2014 com faturamento de R$ 350 milhões.

A pecuária pode estar se valendo de outros métodos para o melhoramento genético, mas as feiras continuarão sendo essenciais, defende o porta-voz da Expozebu, Luiz Claudio Paranhos.

- Os programas de seleção baseados em números não veem prumo, conformação, qualidade. A pista indica ao produtor o que o computador não enxerga – argumenta Paranhos.

Fonte: Gazeta do Povo



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