O El Niño, considerado um dos mais fortes dos últimos anos, continua atuando nas condições do clima no mundo todo. É opinião comum entre os meteorologistas, no entanto, que o fenômeno chegou ao seu pico máximo e agora deve começar a perder força e iniciar seu processo de declínio.
- O El Niño amadureceu e os modelos climáticos indicam que, nos próximos meses, deve declinar – informou o Escritório de Meteorologia da Austrália em nota, nesta terça-feira (5). As condições irão voltar a um estágio ‘neutro’durante o segundo trimestre deste ano, com uma chance de La Niña na segunda metade de 2016 – completou o instituto.
Os efeitos do El Niño parecem estar se amenizando, porém, os impactos para a agricultura – majoritariamente prejuízos em importantes países produtores – ainda estão sendo contabilizados. Os meteorologistas, durante o período de atuação do fenômeno, o compararam ao registrado entre os anos 1997/98, mas em alguns pontos do Brasil os reflexos foram ainda mais severos.
Segundo relatou o produtor rural Altair Fianco, de Uruçuí, no Piauí, em dezembro de 1997 a média do acumulado de chuvas em sua região foi de 250 mm em dezembro, no mesmo mês de 2015, esse índice caiu para alarmantes 20 mm.
- A previsão mostra essa relação entre os dois anos, mas este ano foi muito pior. Espero que esteja errada também em relação aos impactos do La Niña que já está previsto. Em fevereiro de 97 foi muito difícil, não choveu, espero que este ano seja diferente – diz Fianco.
O Nordeste brasileiro foi uma das regiões mais castigadas pela falta de chuvas ocasionada pelo El Niño e as perdas já consolidadas na safra de soja 2015/16 é um dos exemplos mais claros da severidade das adversidades climáticas.
Enquanto na safra 1997/98, ainda segundo o sojicultor piauiense, as lavouras de soja conseguiram se consolidar bem na época do plantio e primeiro desenvolvimento, por conta das chuvas melhores e da reserva hídrica do solo mais elevada, conseguindo resistir ao período mais seco que viria na sequência. Nesta temporada, a situação é mais grave, uma vez que essa reserva simplesmente não existe.
As chuvas voltaram ao estado nos últimos dias. E também aos vizinhos. No entanto, como explicou Fianco, ainda não é possível saber qual será a reação das plantas ou afirmar a continuidade das chuvas.
- Temos cerca de 30 a 35% da área já plantada aqui no Piauí, ou aproximadamente 250 mil hectares. Desse total, 100 mil hectares são de replantio – completa.
Alguns estados como Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, passam por uma situação semelhante, com os quadros mais graves no Norte e Leste do estado. Em muitos municípios, apesar das chuvas também terem voltado, mesmo que de forma limitada, as perdas chegam a 100% e os prejuízos também seguem sendo contabilizados.
- Embora se olharmos para as lavouras elas pareçam normais, com as folhagens verdejantes e bem viçosas, o problema é que a seca afetou a formação no enchimento dos grãos, o que consequentemente resultará em um menor peso no final do ciclo – disse Cézar Martins, delegado da Aprosoja – Núcelo Nova Mutum – em entrevista ao site Só Notícias.
Assim, no estado o plantio foi oficialmente prorrogado de 31 de dezembro para 15 de janeiro para ser finalizado, e o mesmo aconteceu em Goiás, onde será possível semear a soja até o dia 31 deste mês. Já para o Piauí, a decisão ainda não foi firmada, porém, como explicou Altair Fianco, essa é apenas uma medida paliativa.
- Eu não vou plantar um grão depois do dia 10 de janeiro. Estamos todos muito receosos sobre as chuvas e minha experiência com a soja plantada fora do melhor período não é boa. No ano passado, quando plantei mais tarde não colhi nem 20 sacas por hectare. E ainda tem o problema de pragas como a mosca branca e o percevejo, que não perdoam – diz.
Assim, o que já é relatado é o movimento de muitos produtores trocando de cultura – o que também acontece em Mato Grosso – para milho e até mesmo feijão caupi.
- O custo é muito alto para o replantio da soja e o clima ainda é incerto – completa.
Os efeitos não foram sentidos somente na soja. Ainda no Brasil, áreas de café também sofreram com a irregularidade das chuvas, bem como no Sul do país os campos de arroz, por exemplo, além da oleaginosa, ficaram, em muitos pontos, debaixo d’água. Ao mesmo tempo, levaram seca também para partes da Ásia – que resultou nos melhores preços do óleo de palma desde 2010 em decorrência da queda na produção – e mais chuvas ao Sul dos Estados Unidos.
Também em função de adversidades climáticas, os futuros do açúcar registraram seu primeiro ganho anual em cinco anos. Na África já se teme uma crise de abastecimento em função da estiagem no país, que castigou diversas culturas. Nesta segunda-feira (4), os preços do milho sul-africano atingiram suas máximas históricas.
- Se não houver chuva, nós podemos ser forçados a importar milho por volta de maio ou junho – disse o ministro da Agricultura local Senzeni Zokwana.
La Niña
O La Niña, ao contrário do El Niño, é um esfriamento das águas do oceano Pacífico equatorial. É comum que sejam interpretados como opostos, porém, ambos são fases extremas de um ciclo que acontece naturalmente, segundo explica a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA).
E um levantamento do escritório australiano, dos 26 eventos de El Niño já registrados desde 1900, 50% deles foram seguidos por um ano de clima neutro e 40% pelo La Niña.
- A neutralidade e o La Niña tem a mesma probabilidade de acontecer no segundo semestre deste ano – diz o instituto da Austrália.
Fonte: Site internacional AgWeb