O fenômeno climático El Niño – caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico – deve ocorrer com mais intensidade neste ano e influenciar a produção de grãos nas principais regiões do mundo. A avaliação é do coordenador do núcleo pesquisas e projeções sobre agricultura e clima da Thomson Reuters, Corey Cherr.
Sediado em Chicago, nos Estados Unidos, Cherr lidera uma equipe de 15 analistas, que cruzam informações sobre o clima e os fundamentos de oferta, demanda e estoques das principais safras globais. Nesta semana, ele apresentou suas expectativas para o ciclo agrícola 2015/2016 em uma palestra transmitida via internet.
Em entrevista por telefone a Globo Rural, o especialista explicou que, na safra 2014/2015, houve o que chamou de “El Niño fraco”, que influenciou suas expectativas de produção, inicialmente em 58 milhões de toneladas para a produção de soja da Argentina e 98 milhões de toneladas para o Brasil.
- Neste momento, o El Niño que temos ainda é o de 2014, mas é possível que ganhe força neste ano – disse.
Para o território brasileiro, o fenômeno traz aumento de temperatura e tendência de chuvas acima da média, especialmente no Sul e Centro-oeste, onde está a maior parte da safra de grãos. Sob a influência do El Niño, Brasil e Argentina devem elevar sua produção no ciclo 2015/2016 e somar 116 milhões de toneladas, disse Cherr, destacando que ainda não consolidou suas projeções para os países sul-americanos.
- O clima deve ser favorável para a safra sul-americana, como foi no ano passado. Não foi perfeito para o Brasil, mas na Argentina a situação foi boa – destacou.
Nos Estados Unidos, o plantio da safra 2015/2016 está quase na reta final. Nas lavouras de milho, chegou a 95% da superfície até a semana passada, de acordo com o Departamento de Agricultura do país (USDA). Em 74% das lavouras, as condições variam de boas a excelentes. A semeadura de soja chegou a 71% da área.
- Com o El Niño forte e uma melhora das condições de umidade do solo, os agricultores dos Estados Unidos terão um clima de verão favorável neste ano – ponderou Cherr.
Para o USDA, os americanos devem colher 346,22 milhões de toneladas de milho e 104,78 milhões na soja na temporada 2015/2016. As projeções apresentadas por Cherr são mais otimistas, de 358 milhões de toneladas do cereal e 108 milhões da oleaginosa.
- Acreditamos em aumento da área plantada de soja nos Estados Unidos e também na América do Sul e deve haver um maior potencial de produtividade por causa do avanço tecnológico. Tudo está a favor da produção – resumiu o analista.
Para baixo
Apesar de não projetar cotações, Corey Cherr avaliou que a expectativa de aumento de produção nos Estados Unidos e na América do Sul deve apontar uma tendência baixista para o mercado internacional de soja. Na bolsa de Chicago, enquanto o primeiro contrato – julho de 2015 – encerrou a quarta-feira (3/6) na faixa de US$ 9,35 por bushel, os vencimentos de setembro e novembro ficaram nos US$ 9,15.
- É difícil vermos um cenário de alta neste momento. Quando há El Niño, isso não é garantido, mas tende a haver uma produção maior no Hemisfério Ocidental – disse, lembrando também da tendência de estoques mais elevados do grão.
Caminho semelhante deve seguir o mercado de milho. Corey Cherr destacou que a safra sul-americana ainda é incerta em função da expectativa climática e de uma possível estabilidade na área, por exemplo, na Argentina. No entanto, a produção dos Estados Unidos, a maior do mundo, tem se desenvolvido de maneira positiva.
- O plantio ocorreu mais cedo que no ano passado e, se houver o El Niño, com bom clima de verão, a produtividade dos Estados Unidos deve ser enorme – avaliou.
Na sua apresentação, Cherr destacou, no entanto, que uma pressão contrária, com possível influência altista sobre as cotações, poderia vir de um eventual efeito negativo do El Niño sobre a produção do Hemisfério Oriental. Outro fator seria um enfraquecimento do fenômeno já no início de 2016, cenário ainda considerado incerto e de “efeitos desconhecidos”.
Na quarta-feira (3/6), o contrato de milho na Bolsa de Chicago para julho de 2015 encerrou a sessão na estabilidade, a US$ 3,59 por bushel. O vencimento setembro de 2015 fechou a US$ 3,65 e dezembro a US$ 3,76 o bushel.
Fonte: Globo Rural