A recessão deve estender-se pelo próximo ano, segundo todas as projeções de especialistas independentes, mas pelo menos o agronegócio poderá garantir alguma segurança aos condutores da política econômica, segundo os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O setor faturou US$ 74,73 bilhões entre janeiro e outubro deste ano e acumulou superávit comercial de US$ 63,55 bilhões. Esse resultado mais que compensou o déficit de outros segmentos e garantiu um saldo positivo de US$ 12,24 bilhões para a balança de mercadorias. Mesmo com a retração dos preços internacionais, os produtos do campo, com ou sem processamento, devem continuar garantindo uma boa receita de dólares em 2016. Isso dependerá, em primeiro lugar, do volume da safra, e, por enquanto, as estimativas são pelo menos tranquilizadoras.
A produção de algodão, amendoim, arroz, feijão, milho, soja, trigo e outros grãos e oleaginosas de menor volume deverá ficar entre 208,60 milhões e 212,93 milhões de toneladas na safra 2015-2016, de acordo com o segundo levantamento da Conab. Na primeira hipótese, o volume será quase igual ao da temporada anterior, estimado em 208,54 milhões. Na segunda, será 2,10% maior. Pelos cálculos publicados, o aumento dependerá do feijão, da soja, do girassol e da mamona. Para os cereais de inverno, como trigo e cevada, os técnicos se limitam, nesta altura, a admitir volumes iguais aos da safra anterior, porque o plantio só ocorrerá no segundo trimestre. A safra de trigo, neste ano, ficou em 6,23 milhões de toneladas. Considerando-se apenas a safra de verão, atualmente em plantio, as expectativas de produção oscilam entre 201,56 milhões e 205,88 milhões de toneladas, com variação máxima de 2,17% sobre os 201,5 milhões estimados para a safra 2014-2015.
Os levantamentos indicam, por enquanto, redução da área destinada à maior parte das culturas. A soja, com aumento estimado entre 2,1% e 3,8%, é exceção. O plantio de algumas culturas ainda se estenderá até dezembro. O trabalho nas lavouras no Centro-Oeste deverá intensificar-se a partir de agora, com a chegada das chuvas, diz o diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, João Marcelo Intini, demonstrando otimismo. O crédito flui normalmente, segundo o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar.
Se as chuvas ocorrerem nos momentos certos e o crédito continuar saindo com normalidade, um novo recorde estará garantido. A evolução dos preços internos então dependerá basicamente das condições do mercado internacional e da evolução do câmbio, porque a disponibilidade física será satisfatória. Os produtores terão feito a sua parte. Sua lucratividade ainda vai depender, em boa parte, como nos anos anteriores, da eficiência e dos custos da logística, um dos principais entraves à exportação de produtos agropecuários.
Não se deve, no entanto, esperar melhoras substanciais nas condições de transporte, se os investimentos em reparos e ampliação de rodovias, ferrovias e portos dependerem de recursos do Tesouro e da execução dos programas oficiais. O governo terá de se mostrar muito mais eficiente do que tem sido até agora na organização e na realização das licitações para obras. Seu principal incentivo para buscar essa eficiência é a expectativa de receita de concessões, mas nem esse estímulo tem aumentado a competência na condução da política de infraestrutura.
De toda forma, pelo menos do agronegócio é possível esperar, pelo menos neste momento, uma contribuição positiva num quadro geral de retração econômica, de inflação elevada e de contas públicas em muito mau estado. Segundo as projeções do mercado, o Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher mais 1,90% no próximo ano, depois de ter diminuído 3,10% em 2015. A produção industrial deve recuar 7,40% neste ano e 2% em 2016. É bom torcer, agora, para o governo pelo menos evitar qualquer novidade desastrosa em relação à agropecuária.
Fonte: Editorial do Estadão no dia 13/11/2015
Fonte: Canal do Produtor