O mercado de câmbio no Brasil teve uma pregão histórico nesta quinta-feira, com o dólar passando de 5 reais pela primeira vez, em dia de extrema volatilidade que obrigou o Banco Central a realizar quatro leilões de moeda à vista, em meio a um terremoto nos mercados brasileiros na esteira do colapso das bolsas mundo afora diante do receio do coronavírus.
A percepção de risco disparou, com uma medida de volatilidade implícita baseada em opções de dólar/real saltando a mais de 20%, nas máximas desde outubro de 2018.
O mercado local foi afetado adicionalmente pela piora na percepção fiscal, após o governo sofrer uma dura derrota no Congresso que pode representar mais de 200 bilhões de reais em despesa pública adicional em dez anos.
Mas o exterior continuou dando a tônica nas precificações dos ativos financeiros. A liquidação impôs a Wall Street o fim do mais longo “bull market” (mercado em alta) da histórica, com o índice Dow Jones da bolsa de Nova York registrando a maior queda desde outubro de 1987.
A bolsa brasileira teve os negócios interrompidos duas vezes, ainda assim fechando em baixa de quase 15%, no maior declínio desde 1998.
O dólar disparou em todo o mundo, reflexo da forte demanda por financiamentos na moeda norte-americana, em meio aos primeiros sinais de estresse nos mercados de empréstimos.
Para tentar conter a turbulência, o Banco Central elevou de 1,5 bilhão de dólares para 2,5 bilhões de dólares a oferta de moeda à vista prevista para o começo desta manhã. Além disso, o BC fez mais três operações nessa mesma modalidade.
No total, a autoridade monetária informou a oferta de 4,75 bilhões de dólares, colocando 1,61 bilhão de dólares. Adicionalmente, no 4º leilão —anunciado sem lote máximo— o BC injetou 170 milhões de dólares, aumentando o total vendido em dólar à vista para 1,78 bilhão de dólares.
“O BC aceitou vender por prêmios compatíveis com dias normais, o que não era o caso hoje”, disse Daniel Tatsumi, gestor de moedas da ACE Capital. Tatsumi acredita que o BC poderia fazer operações simultâneas de dólar à vista e swaps cambiais tradicionais, uma vez que isso ampliaria o acesso dos participantes do mercado à liquidez.
A grande maioria dos agentes financeiros tem acesso às operações de swap, mas apenas dealers de câmbio podem participar dos leilões de dólar à vista.
O dólar à vista fechou em alta de 1,38%, a 4,7857 reais na venda, nova máxima histórica para um encerramento de sessão.
No pico do dia, alcançado no 2º minuto de negociação, a cotação foi a 5,0287 reais, um voo de 6,52%, para um novo recorde nominal intradiário.
A desaceleração ocorreu depois das atuações do BC e de o banco central dos EUA anunciar um reforço em operações para dar liquidez ao mercado.
No acumulado de 2020, o dólar salta 19,26%, o que equivale a uma desvalorização de 16,15% para o real. A moeda brasileira tem a segunda pior posição entre 33 pares, melhor apenas que o peso colombiano, que perde 18,4% no período.
Na B3, o dólar futuro de maior liquidez —que na véspera conseguiu capturar o mau humor decorrente do noticiário político— caía 0,55% às 17h59, para 4,7970 reais.
Fonte: Reuters