A estrebaria está praticamente vazia. Apenas dois animais representam a produção leiteira que sustentou por muito tempo a propriedade da família Barbaro, na linha Uruguai Sul, interior de Porto Lucena: a vaca Butinha, em lactação, e um terneiro em amamentação, para reduzir o compromisso da ordenha diária.
Mesmo com uma boa produtividade, as exigências por aumento na oferta e na mão de obra fizeram com que o responsável pela propriedade, Antônio Barbaro, 63 anos, abandonasse a produção. O produtor se desfez das 24 vacas em lactação, que produziam mais de 5 mil litros por mês. Alguns dos animais, segundo ele, haviam conquistado premiações em feiras de agronegócio na região.
- A indústria exigia produtividade mínima e qualidade do leite. As avaliações eram frequentes, assim como as exigências. Mas chegou um momento em que não percebia a contrapartida, não vi o retorno dos investimentos em produtos e equipamentos – justifica.
O dinheiro proveniente da venda das vacas foi usado na aquisição de bovinos de corte, da raça Brahman.
Próximo dali, em Linha Uruguai Centro, a irmã de Antônio, Nelci Barbaro, também passou pela mesma situação. Ela e o marido, Idemar Kratz (foto ao lado), deixaram há dois anos a produção leiteira, que contava com 14 vacas e 4 mil litros por mês. Os motivos são similares.
- Investimos em gerador de energia, para ter a garantia de manter o leite resfriado em momento de falta de energia. Mas nunca vendemos leite acima de R$ 1 – revela.
As vacas foram vendidas e, com isso, o casal dobrou o plantel de gado de corte, passando de 20 para 40 cabeças. Além disso, cultivam soja e milho para silagem.
O prefeito de Porto Lucena, Jair Miguel Wagner, conta que a saída de produtores da atividade leiteira não chega a impactar na arrecadação do município, mas torna os agricultores ainda mais dependentes dos serviços públicos.
- Eles ficam menos ocupados e isso pode gerar problemas de saúde. Com a diminuição da receita, eles procuram os serviços públicos de saúde, por exemplo – destaca.
A resposta da indústria às reclamações sobre as exigências ao produtor é de que o setor está inserido numa economia globalizada.
- Isso exige que cada um faça a sua lição de casa – diz o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra.
Fonte: Correio do Povo