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DIFICULDADES ÀS INDÚSTRIAS DE CARNES

Resultado de uma menor oferta no campo e do avanço nos embarques para o Exterior, a rentabilidade recorde das lavouras de milho no Estado mostrou que produtores que apostaram no grão nesta última safra fizeram um ótimo negócio. A disparada no preço da saca – um salto de 55% em pouco mais de seis meses – no entanto, não é comemorada por todos.

Criadores de frangos, suínos e gado leiteiro, que têm no grão a principal fonte de alimento para os animais, sofrem com pressão nos custos. O efeito até agora limitado ao bolso dos produtores de carne, deve chegar em breve também aos preços cobrados nas prateleiras dos supermercados.

Foi o freio no consumo das famílias, consequência da recessão econômica, que impediu que o repasse de custos fosse feito de forma mais expressiva, mas conforme avança o preço da saca de milho, restam poucas alternativas, alertam empresários do setor.

Além do câmbio, que tornou atrativa a exportação, o salto no valor do grão reflete a perda de área para a soja.

– Nunca chegamos a um patamar tão alto da saca. É histórico. Tem produtor desesperado porque não consegue encontrar fornecedor – resume José Eduardo dos Santos, secretário- executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). 

A estimativa é que o grão responda por 60% a 70% do custo na criação de aves e suínos. Trigo e sorgo, possíveis substitutos, não são produzidos em quantidade suficiente para suprir a demanda. Na produção leiteira, a ração não é o principal alimento, mas é um suplemento importante para ampliar a produtividade e a qualidade do leite. 

Para os criadores de suínos, a situação é um pouco mais complicada. No mesmo período em que o câmbio ajudou a impulsionar o preço da saca de milho, o valor do quilo da carne recuou, prejudicando ainda mais a rentabilidade, ressalta Valdecir Folador, presidente da Associação dos criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (ACSURS):

– Nossa esperança é que o valor do quilo do suíno melhore nos próximos meses com o aumento de exportações. Porque o mercado nacional está muito fraco, a demanda caiu bastante. 

Diretor Financeiro e Administrativo do frigorífico Majestade, em Sananduva, no noroeste gaúcho, Egidio Loregian avalia a situação como preocupante e admite que o aumento expressivo nos custos coloca em risco a atividade da empresa, que atua na criação, abate e industrialização de suínos. 

– O milho é responsável por 70% no nosso custo. Dá para imaginar o que acontece quando o preço da saca pula de R$ 32 para R$ 48. O impacto é tremendo – afirma. Loregian conta que a falta de perspectiva de mudanças no cenário no curto prazo obrigou a cooperativa a tomar a decisão de abater animais de menor porte e de vender leitões para diminuir custos de alojamento.

 – É uma alternativa, já que não conseguimos substituir o milho como um todo. O trigo e o farelo de arroz ajudam, mas não resolvem o problema – diz. 

Efeito dominó na cadeia produtiva

Com o preço do milho cada vez mais alto, quem podia tratou de reduzir a dependência do grão. É o caso da Cooperativa Cosulati, de Pelotas, no sul do Estado. O ritmo lento da economia coloca dúvida sobre o tradicional aumento de consumo de lácteos no período de Páscoa e no inverno e, por isso, a regra tem sido o corte de despesas.

 – Por sorte, a dependência do gado leiteiro é um pouco menor. Os rebanhos ainda têm outras alternativas, como pastagens e feno, que servem de reserva nutricional além de ração à base de milho – conta o gestor-adjunto da Cosulati Jones Raguvoni, que reduziu a compra do alimento para os animais. 

O menor volume de compra de ração animal para reduzir custos se transforma em mais um aspecto negativo para a cadeia ao atingir também as fábricas de proteína animal. A Cooperativa Languiru, que já sente o efeito da alta do preço do milho nas suas divisões de aves e suínos, vê cair ainda a venda de ração da sua fábrica localizada em Estrela.

– Com o aumento do custo da ração motivada principalmente pelo preço do milho, os produtores de leite reduziram a compra de rações, ocasionando uma menor oferta do produto ao consumidor – conta Dirceu Bayer, presidente da Languiru. 

Com uma alta de quase 10% no valor da saca só na primeira quinzena de março, criadores voltam as atenções para a safrinha no Centro-Oeste na esperança de que um aumento momentâneo na oferta do grão possa reduzir um pouco os preços. Na semana passada, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) vendeu mais 22 mil toneladas de milho proveniente dos estoques públicos para tentar evitar movimentos especulatórios no preço do milho no mercado. Desde fevereiro, já foram vendidas 487,3 mil toneladas, por meio de 11 operações.

Fonte: Zero Hora



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