“Os criadores é que dão as cartas hoje na cadeia da pecuária de corte”. Este foi o mote das palestras e debates do 1º Encontro de Recriadores, realizado nesta terça-feira, 14, em Ribeirão Preto, SP, e promovido pela Scot Consultoria, de Bebedouro, SP.
– Pela primeira vez na história recente, é o criador quem tem a maior lucratividade, considerando todos os elos da cadeia pecuária – avalia o zootecnista Alex Santos Lopes da Silva, analista da Scot Consultoria, que apresentou a palestra “Vender bezerros ou recriá-los, como saber qual é o melhor negócio”.
Segundo ele, tanto os preços do boi gordo quanto os do bezerro e de outras categorias de bovinos encontram-se hoje em patamares bem acima da inflação. Além disso, essa trajetória de alta é bem superior aos aumentos nos custos da pecuária, o que deixa o produtor em situação ainda mais confortável.
- Diante dessa conjuntura favorável, o criador é quem está com as cartas nas mãos, ou seja, ele determina para quem, quando e por quanto vai vender os seus animais – enfatiza Lopes.
Normalmente, continua o analista, é a indústria frigorífica quem determina preços, oferecendo R$ 2, R$ 3, R$ 4 a menos pela arroba do boi em relação ao valor almejado pelo pecuarista.
– Hoje, estamos vendo a situação oposta a essa; a indústria não consegue mais adquirir animais pelo valor de referência, e por isso, se quiser obter sucesso na negociação, tem de oferecer até R$ 4 a mais ao pecuarista – diz ele.
Os preços atuais da matéria-prima refletem o ciclo de alta da pecuária, agravado por um quadro de ofertas de animais extremamente enxuto.
- Faltam animais no mercado, sobretudo bezerro – diz o zootecnista Gustavo Aguiar, também da Scot, que apresentou a palestra “Mercado de bezerros: mais um ano de preços firmes”.
Segundo ele, são os produtores que atuam na atividade de cria que melhor aproveitam a situação favorável das fazendas de corte.
- Vivemos hoje a maior diferença entre a cotação acumulada para o bezerro e da inflação dos últimos 20 anos – compara.
De fevereiro de 2014 a fevereiro de 2015, segundo a Scot, o bezerro desmamado em São Paulo subiu 44,6%, enquanto que, no mesmo período de comparação, o boi gordo teve alta de 21,8% e a inflação, medida pelo IGP-DI, foi de 3,7%.
Poder de Compra
Gustavo Aguiar, porém, chama a atenção para a piora no poder de aquisição por parte dos pecuaristas que dependem de bezerro de terceiros.
- Estamos diante de uma das maiores diferenças entre o preço do boi gordo e do bezerro das últimas duas décadas – diz.
Em meados de março, foram necessárias 8,7 arrobas de boi gordo para a aquisição de um bezerro desmamado (6@), base São Paulo. Tal relação, segundo a Scot, só foi menor do que a verificada nos meses de maio e junho de 2010 (8,9@/bezerro), o que confirma o momento desfavorável de poder de compra dos recriadores.
Diante disso, os analistas da Scot fazem um alerta: considerando a média histórica desde a década de 70, a inversão no ciclo pecuário ocorre entre 3-4 anos. Como o movimento de alta de preços começou a subir constantemente a partir de 2013, o ciclo altista está próximo do fim, com expectativa de enfraquecimento a partir de 2016-2017.
- Por isso, recomendamos aos recriadores trabalhar com giros rápidos de produção, para não correr o risco de vender os animais na baixa, nesse caso, seriam no mínimo 2,5 anos de recria no pasto até atingir o peso de abate, ou seja, aumentaria o risco de vender os lotes em 2017, bem no período de reversão de ciclo pecuário – enfatiza Alex Lopes, acrescendo que não é bom negócio hoje optar hoje pela terminação a pasto dos animais.
O evento Encontro de Recriadores contou com plateia cheia: 423 participantes, oriundos de 161 cidades, abrangendo 16 Estados brasileiros. Entre 15 e 16 de abril, a Scot Consultoria promoverá o Encontro de Confinamento, realizado no mesmo local, na sala de eventos Ribeirão Shopping.
Fonte: Portal DBO
