A Cotrijuí, que entrou em liquidação extrajudicial com continuidade dos negócios em setembro de 2014, pretende iniciar o pagamento dos credores só em setembro do ano que vem, com deságio de 50% e prazo de 20 anos. A data corresponde ao limite do período de um ano, prorrogável por mais um, de proteção contra ações de execução dos débitos garantido pelo regime que corresponde à recuperação judicial no setor cooperativo.
Segundo o diretor-superintendente Gilson Fragoso, a dívida da cooperativa soma R$ 1,3 bilhão, mas 35,5% correspondem aos passivos tributários e trabalhistas, que não são protegidos pela liquidação e precisam ser negociados à parte. O restante divide-se entre bancos, fornecedores e associados.
O plano prevê a apuração de ativos e passivos até o fim deste mês, a publicação de um edital para concurso de credores em 30 de maio, o enquadramento dos débitos por ordem de preferência até setembro deste ano e negociação sobre os termos do eventual acordo nos 12 meses seguintes. Em 2014, a Cotrijuí teve receita bruta de cerca de R$ 500 milhões, mas prejuízo de R$ 103 milhões por conta dos encargos financeiros, afirmo Fragoso.
O problema será convencer os credores a confiar na recuperação da cooperativa e aceitar a oferta. A própria assembleia de associados que aprovou a liquidação é questionada na Justiça pela trading chinesa Chinatex, que cobra uma dívida de US$ 10 milhões da Cotrijuí.
Diferentemente da recuperação judicial das empresas, a liquidação das cooperativas não prevê habilitação nem assembleia de credores e mesmo que a maioria concorde com o plano de pagamento, um deles pode, sozinho, pedir a falência da instituição.
- Se equacionarmos a dívida a cooperativa é plenamente viável e sustentável – sustenta o superintendente, que é irmão do presidente e também liquidante da Cotrijuí, Vanderlei Fragoso.
Segundo ele, em 2014 a instituição teve resultado operacional positivo de R$ 6 milhões, mas ele foi corroído pelo custo do passivo, que já havia sido responsável pelos prejuízos de R$ 116 milhões em 2013 e de R$ 100 milhões em 2012.
Ele disse que em 2012 a cooperativa chegou a faturar R$ 973 milhões, mas naquele ano a crise da dívida “estourou” e comprometeu as operações da instituição, que desde então viu o número de associados ativos recuar de 7,3 mil para 4 mil. Segundo ele, o passivo que era de R$ 197,8 milhões em 1994 foi a R$ 1,1 bilhão no fim de 2012, conforme auditoria feita pela direção atual, que assumiu em fevereiro de 2013.
Se os credores aceitarem a proposta da Cotrijuí, ela pode vender ativos para levantar recursos, embora seja “difícil” encontrar algum bem que já não esteja dado em garantia de algum débito, diz o superintendente. A cooperativa tem capacidade de armazenamento de 1 milhão de toneladas de grãos, dois frigoríficos (um deles arrendado para terceiros), duas fábricas de ração, duas unidades de beneficiamento de cereais e um moinho de trigo desativado. Também busca na Justiça a retomada da posse de fazendas no Mato Grosso e Goiás com 4 mil hectares.
Conforme Fragoso, desde 2012 a cooperativa reduziu as despesas operacionais de R$ 49 milhões para R$ 28 milhões por ano e, com pessoal, de R$ 42 milhões para R$ 31 milhões, com corte do quadro de 2,6 mil para 1,7 mil funcionários. Em 2013, passou a operar no regime de armazém geral, que garante imunidade aos estoques de grãos dos associados contra ações de cobrança dos credores, e agora negocia a venda antecipada de parte da produção dos próximos dez anos para o fundo americano Northstar Capital Partners.
Fonte: Sérgio Ruck Bueno