Em um braço do Rio Paraná, no fim de uma via de terra cercada por mato fechado, 24 tanques têm mais de 30 mil alevinos de tilápias, que estão em processo de crescimento. O criatório pertence a pescadores da região do Jupiá, em Três Lagoas (MS). No lugar, a piscicultura está se tornando alternativa para fortalecer uma renda que durante muito tempo foi mantida somente com a pesca.
- O Rio Paraná é minha roça, mas não tem mais a abundância de antigamente. Tem bem menos peixes – lamenta Antônio de Souza Farias, pescador profissional desde 1982 e presidente da Colônia Z-03 de Jupiá, que reúne cerca de 450 pescadores.
Peixes tirados do Rio Paraná; à direita, Roberto Itiro, da cooperativa de Jupiá. Abaixo, barcaças em Pederneiras (SP) (Foto: Marcos Camargo)
Com a construção de barragens e hidrelétricas nos últimos anos, a população de peixes caiu e o trabalho no rio também, contam os pescadores.
- Tinha gente aqui que colocava o barco no rio de dia e de noite. Chegava a tirar 300 quilos de peixe em época boa. Hoje, pega 20 quilos, 30 quilos, em média, por dia – explica o presidente da Colônia Z-03.
A ideia de tornar pescadores também piscicultores virou projeto e recebeu um investimento de R$ 1,5 milhão, vindo de empresas privadas e do BNDES, levando à fundação da Cooperativa dos Pescadores do Jupiá, com cerca de 60 associados. Além do criatório, a estrutura inclui um entreposto frigorífico, em obras. Os cooperados querem começar a vender as tilápias do Rio Paraná em quatro meses. Até lá, esperam ter o selo do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que permitirá a venda para todo o país.
- Não dá mais para viver só da pesca. Tem de agregar valor ao pouco de peixe que ainda se tira do rio e procurar alternativas – diz Luciana Linhares Pavan, uma das cooperadas, assim como Farias.
- Obtendo o SIF, a gente pode vender também para o setor público – diz o presidente da cooperativa, Roberto Itiro Takata.
Pescador durante 30 anos, ele hoje tem uma loja de pescados em Três Lagoas. Segundo Itiro, a área do criatório já está licenciada para até 40 tanques. Ampliar a criação vai depender do ritmo dos negócios, mas ele está otimista. “Na tilápia, o que se produz vende. O mercado está crescendo. Temos de dar esse start e operar o frigorífico”, avalia o comerciante, que tira da espécie cerca de 70% da receita de seu estabelecimento.
Cargas pedem passagem
Em seu uso como modal hidroviário, o Rio Paraná tem menos gargalos que o Tietê – com quem compõe a segunda mais movimentada hidrovia do país –, dizem especialistas em logística e representantes de empresas. No entanto, eles acreditam que há investimentos que devem ser feitos no rio.
Milho é sugado de barcaça no terminal da LDC; e estrutura de silos da empresa (Foto: Marcos Camargo)
O presidente da Comissão de Logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Fayet, defende a construção de um entreposto intermodal no município de Guaíra (PR) e sua interligação por ferrovia com Cascavel, um dos maiores polos de produção de grãos do Estado do Paraná. Segundo ele, seria estratégico, por exemplo, para abastecer a indústria de aves e suínos do oeste paranaense com os grãos de outras regiões, fortalecendo a navegação no trecho menos explorado da hidrovia.
- A indústria de grãos do Paraná é integrada com a produção animal. Mas a lógica ainda é exportar primeiro e recompor a oferta depois. Por isso é importante consolidar o fluxo de outros Estados. A utilidade primeira do entreposto seria garantir esse suprimento com menos custo logístico – diz ele.
No trecho mais utilizado no transporte de grãos, entre São Simão (GO) – pelo Rio Paraná – e Pederneiras (SP) – já no Rio Tietê –, também há dificuldades. A Louis Dreyfus (LDC), por exemplo, movimenta 1,4 milhão de toneladas de soja e milho por ano, trajeto percorrido em comboios de quatro barcaças que somam 6.000 toneladas.
Uma viagem de ida e volta leva, em média, oito dias, passando por eclusas de pelo menos quatro barragens. Cada transposição leva, em média, quatro horas.
- A fila de barcaças nas áreas das eclusas é uma dificuldade porque toma muito tempo – explica Marcelo de Castro Lino, gerente de operações da LDC para a Hidrovia Tietê-Paraná.
Na tentativa de solucionar a questão, o Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo (Sindasp) discute com autoridades mudanças nas normas de transposição das eclusas. A expectativa é obter alguma resposta ainda neste ano, diz o presidente do Sindasp, Edson Palmesan.
- Esse processo precisa ser mais dinâmico. As mudanças devem reduzir em pelo menos 50% o tempo de eclusagem na hidrovia – calcula.
Fonte: Globo Rural