Nesta sexta-feira (20), o Paraná dá mais um salto em um mercado que não para de expandir. Em Palotina, no Oeste do estado, a C.Vale, segunda maior cooperativa agroindustrial do país, inaugura o maior abatedouro de peixes do Brasil. Construída em tempo recorde, apenas nove meses, a nova indústria vai abater inicialmente 75 mil tilápias por dia, mas com capacidade para dobrar a produção imediatamente. Ao todo, R$ 110 milhões foram investidos na obra que gerou 450 empregos diretos. Na noite desta quinta-feira (19), o presidente Michel Temer estava confirmado no evento de inauguração, onde são esperadas seis mil pessoas.
O momento não poderia ser melhor. Das 640 mil toneladas de peixes em cativeiro produzidos em 2016, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), mais da metade foi devido à criação de tilápias. E o Paraná, com uma produção de 93,6 mil toneladas de pescados e 85 mil toneladas de tilápias, lidera e controla 15% do setor.
A indústria terá 10.012 metros quadrados e segundo o presidente da C.Vale, Alfredo Lang, será a maior e mais moderna do país.
- Vamos começar com um abate de 75 mil ao longo de 2018. Mas nossa meta é chegar a 600 mil por dia. E vamos chegar lá. Seguindo o exemplo do Frango, vamos produzir filé de tilápia e cozidos. Nós temos uma base consolidada de clientes do frango que estão aguardando nosso produto tanto no mercado interno quanto no externo. Estamos recebendo mais pedidos do que podemos produzir – conta.
De acordo com o gerente do departamento de peixes da C.Vale, Flávio Paulert, a ideia de construir um frigorífico surgiu há 10 anos.
- É algo que vem sendo estudado há uma década. A piscicultura é uma atividade vocacional da região. E sempre foi uma demanda de nossos cooperados – afirma.
Atualmente, a C.Vale conta com 70 produtores cooperados. A meta é chegar a 300.
- Os nossos cooperados têm uma estrutura de 300 tanques. São 130 hectares e 6,2 milhões de peixes. –
Por enquanto, os alevinos (estágio embrionário do peixe) são comprados pela cooperativa e entregues aos produtores quando atingem de 30 a 40 gramas.
- Nós fornecemos a ração e toda assistência técnica, assim como fazemos com as outras proteínas – explica Paulert.
As tilápias serão abatidas com 800 g – peso que o peixe leva, em média, oito meses para atingir. Para suprir a necessidade de ração, a C.Vale investiu R$ 28 milhões em uma fábrica de ração para produzir 200 toneladas por dia.
Segurança
A região Oeste é o maior polo de criação de peixes no Paraná, com 69% de toda a produção. Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral), a região é responsável pela produção de 55,5 mil toneladas de peixe por ano, sendo que 96% são de tilápia. Clima, solo e água são características que alavancaram a atividade a partir dos anos de 1990.
Em Maripá, cidade ao lado de Palotina, o produtor Claudinei Hafemann cria, há quatro anos, 200 mil tilápias em 9 tanques.
Em Maripá, cidade ao lado de Palotina, o produtor Claudinei Hafemann cria, há quatro anos, 200 mil tilápias em 9 tanques. A produção dele ocupa sete dos 50 hectares da propriedade. Soja, milho e dois aviários ocupam o resto.
- Escolhi a tilápia para diversificar a produção e aumentar os ganhos da propriedade – conta.
Cooperado da C.Vale nas outras atividades, Hafemman estava ansioso pela construção do frigorífico.
- Eu atuava no mercado de porta. Levei muito calote. É um setor complicado para o produtor independente. Na cooperativa temos certeza de compra e venda – relata.
Segundo Flávio Paulert, muitos produtores da região relatam o mesmo.
- Nós vamos garantir segurança para os produtores. Vamos atuar no peixe da mesma maneira que trabalhamos com outras áreas, como o frango, que neste mês completa 20 anos de atividade dentro da C.Vale. -
Tecnologia
O grande desafio da atividade é espaço para produção. Há dez anos, a C.Vale vem trabalhando em uma tecnologia própria que possibilite alojar até 60 tilápias por metro cúbico, 12 vezes mais que no sistema convencional. Assim como os aviários modernos, o modelo será fechado e terá um sistema de controle de oxigênio e temperatura, além do reaproveitamento de água.
Segundo Flávio Paulert, os resultados dos protótipos são animadores. No entanto, a tecnologia ainda é inviável por causa dos custos de energia elétrica.
- Demanda muita energia, a tecnologia ainda não se paga. Mas isso é uma questão de tempo – explica.
Durante o encerramento da Expedição Avicultura, que aconteceu no Complexo Agroindustrial da C.Vale, o presidente Alfred Lang disse que a cooperativa sempre foi pioneira na adoção de novas tecnologias.
- Quando apresentamos os aviários climatizados nos chamaram de loucos. Hoje é uma regra. Nós vamos conseguir o mesmo com o peixe – afirmou o presidente na oportunidade.
Mercado
Na contramão da crise, muitos setores da economia cresceram e mantiveram bons níveis de investimento, mas poucos tiveram resultados tão animadores quanto à piscicultura, principalmente a tilápia. No caso da última, a produção brasileira cresceu 80% nos últimos cinco anos, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só no Paraná, o setor movimentou R$ 385 milhões no ano passado.
Segundo o médico veterinário Nordon Steptjuk, do departamento técnico-econômico da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), o Brasil evoluiu muito ao longo dos anos na atividade.
- A geração de renda por unidade de área é a melhor das cadeias de pecuária. O conhecimento, pesquisa e tecnologia evoluíram muito tanto na produção quanto na industrialização – afirma.
Na opinião dele, há espaço de sobra para o crescimento do setor.
- É uma atividade que vai aprender com ela mesma. É um setor que atrai os jovens e ajuda a diminuir o êxodo rural. Que tem um perfil familiar. Nosso desafio é crescer com sustentabilidade ambiental, econômica e social. E isso vem sendo trabalhado através de ações de entidades. Não há dúvidas que as pesquisas vão continuar e a produção vai crescer. -
Fonte: Gazeta do Povo
Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo