O alto volume de chuvas nas lavouras do Sul tem afetado o manejo da terra na adubação, controle de pragas e plantio. Representantes do setor já preveem problemas pois o excesso de umidade favorece a proliferação de doenças. Meteorologistas da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) ouvidos pelo DCI acreditam que a chuva ocorrida em dez dias deste mês seja equivalente ao esperado para julho, agosto e parte de setembro juntos.
- O El Niño deu sua contribuição e diversos setores tiveram perdas com a chuva abundante. Até mortes foram registradas. Quando chove muito, a temperatura acaba subindo e o frio não vem, sendo assim, os cultivares de inverno que precisam de uma hora com temperaturas mais baixas saem prejudicados – explica o meteorologista da Epagri, Marcelo Martins.
Segundo o especialista, episódios de geada – comuns nesta época – foram raros e para os próximos dias espera-se que a chuva dê uma trégua no Paraná e Santa Catarina. Em contrapartida, informações do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam retorno de fortes pancadas de chuva para os gaúchos.
Impactos
No Paraná, as principais preocupações estão voltadas ao milho da segunda safra, trigo e café. O presidente da Câmara Setorial de Culturas de Inverno, Flávio Turra, conta que cerca de 25% da safrinha de milho já foi colhida, mas pelo menos outros 20% das lavouras devem sofrer por excesso de umidade e, em consequência, queda na qualidade do grão.
Para o café, há temores de surgimento de mofo nos armazéns, mas o maior impacto pode vir no trigo.
- O cultivo do cereal está atrasado. Em algumas regiões faz mais ou menos uma semana que o pessoal não consegue entrar nas lavouras, o que vai afetar o controle de pragas e pode levar a perda de produtividade – afirma Turra.
Porém, o executivo, que também é gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), enfatiza que se o trigo estivesse no mesmo estágio que o milho safrinha, na colheita, o prejuízo seria ainda maior. Em nota, os técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) informam que houve perda dos nutrientes aplicados em áreas de trigo por conta das chuvas.
- Devido ao excesso de umidade presente no solo, os triticultores ficam impedidos de executar a reposição dos adubos necessários às plantas, além de comprometer o controle de invasoras e doenças fúngicas – diz a nota.
Além disso, pelo menos 25% das lavouras gaúchas do cereal nem começaram a ser cultivadas, ou seja, deve haver perda da janela ideal de plantio. O presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, lembra que é possível encontrar manchas nas plantas por falta de luminosidade.
A falta de manejo no solo é o entrave para os produtores gaúchos de arroz. Henrique Dornelles, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), diz que o plantio, que normalmente tem início no dia 20 de setembro, pode se estender até meados de dezembro.
Fonte: DCI