O painel Novas Abordagens sobre Assistência Técnica e Extensão Rural, o segundo do Congresso Internacional do Leite, que acontece até esta quinta-feira (30), em Porto Alegre, trouxe um paradoxo entre dois sistemas de produção. Um deles, o europeu, totalmente maduro, vislumbra a redução no impacto ambiental. Já o modelo brasileiro vive ainda a necessidade de ampliar a produtividade por meio da assistência técnica e tecnologia, visto que boa parte da produção é extensiva e com baixo rendimento. O que está em jogo, nesse caso, é a sustentabilidade financeira do produtor.
O holandês Johannes Bouwe Schiere, consultor da La Ventana Consulting, que passou a visão internacional sobre assistência técnica e extensão rural, disse que a extensão rural na Europa virou artigo de luxo.
- A maior parte é feita por consultores e técnicos de empresas – diz Schiere.
Mesmo assim a Holanda deu um salto em produção nos últimos 55 anos. E, como em vários países, isso ocorreu com a redução do número de produtores. Em 1960, a produtividade média por vaca/ano era de 4.205 quilos com a existência de 185 mil produtores. Já em 2015, o rendimento por vaca foi de 8.500 litros por vaca/ano com apenas 20 mil propriedades. Na Holanda, os sistemas são muito variados, mas todos levam a questão ambiental à risca.
- Nos anos 1980, os produtores eram apenas reativos em relação ao assunto, enquanto que hoje são proativos – destaca.
Há também diferentes sistemas de produção na Europa, o que Schiere considera positivo.
- Variação é a parte principal da vida. Com a produção de leite não é diferente. Temos os sistemas altamente intensivos e os que visam produção mais baixa em prol de leite e derivados orgânicos – ressalta.
Mas o especialista diz que é preciso pensar fortemente na questão social.
- Sabemos produzir leite, mas não sabemos como fazer para manter os produtores na atividade leiteira. O que nós queremos, commodity ou comunidade? – provocou.
Waldyr Stumpf Júnior, diretor executivo de Transferência de Tecnologia da Embrapa, ficou responsável pela visão nacional da extensão rural. Ele passou um número estarrecedor: hoje no país existem 25 mil extensionistas rurais em atuação, quando seriam necessários 75 mil. Segundo ele, o governo federal pretende reduzir esse déficit por meio do programa Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), que prevê a contratação de extencionistas privados.
Segundo Stumpf, existem 5,1 milhões de propriedades rurais no Brasil, das quais 4,3 milhões são familiares. Dos mais de 5.570 municípios brasileiros, em apenas 64 não é desenvolvida atividade leiteira.
Na sequência, o diretor da Cooperideal, Marcelo de Rezende, deu o seu depoimento como cooperativa que presta serviço a agricultores familiares e segue a metodologia do programa da Embrapa Balde Cheio. A realidade é de propriedades com produção inferior a 100 litros e com menos de 30 hectares. No geral, os rebanhos são bons, mas o potencial produtivo é pouco explorado.
- O tamanho da propriedade não é fator limitante, mas o conhecimento. Quando existe ausência dele sempre é preciso mais recurso – reforça.
Uma das estratégias utilizadas é o aumento da lotação por hectare, o que se consegue via melhoria da qualidade das pastagens. Outra prática é aumentar o número de vacas em lactação por hectare.
- Quando isso ocorre, há uma mudança na situação econômica das famílias – testemunha Rezende.
O 13º Congresso Internacional do Leite, que chega em sua 13ª edição, já passou por estados como Alagoas, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Rio de Janeiro e tem como objetivo discutir a sustentabilidade e a competitividade da atividade leiteira no Brasil.
Fonte: assessoria do congresso/Glauco Menegheti (MTb 8828)