Com uma das maiores áreas destinadas ao trigo na última década na região oeste do Paraná, com quase 200 mil hectares cultivados, a colheita surpreendeu: 650 mil toneladas nos 48 municípios cobertos pelos núcleos de Toledo e de Cascavel. Esse número representa cerca de 12% de toda a safra brasileira de trigo neste ano, estimada em 5,5 milhões de toneladas.
A colheita na região já chegou ao fim e o preço pago pela saca de 60 quilos para o produto de boa qualidade está em torno de R$ 44 nesta semana, considerado bom, mas, mesmo assim, os estoques estão abarrotados e sem previsão de escoamento.
Com base no levantamento feito por cerealistas e cooperativas da região, acredita-se que nem 10% da safra recém-colhida tenha sido vendido. Ao menos três motivos têm feito o trigo ficar parado.
Segundo o economista do Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) Hugo Godinho, pouco menos da metade do trigo está em boas ou excelentes condições. Para esse produto, que no oeste somaria cerca de 300 mil toneladas, há mercado assegurado com compradores. Ocorre que boa parte dos triticultores estaria segurando o cereal para esperar melhora no preço. Em torno de 25% da produção está com uma qualidade ruim, muito disso servirá apenas como triguilho, ou seja, para composição de ração animal, e o restante tem uma qualidade considerada intermediária. Esta última, por sua vez, está praticamente sem mercado. “Nesse caso, o produtor está tentando se desfazer do produto e não tem conseguido, Uma parte do produto com qualidade intermediária até consegue ser absorvida para biscoitos, mas o mercado fica mais restrito”, observa o economista.
Há três anos, quando o oeste teve uma das melhores safras de trigo de sua história e com qualidade excepcional, parte do produto ficou estocada por mais de um ano.
A realidade hoje do Estado não se difere da nacional. A demanda está enfraquecida em todo o País, apesar de o Brasil produzir apenas metade das 11 milhões de toneladas que consome por ano.
Nesta semana pesquisadores do Cepea (Centro de Estoques e Armazéns em Economia Aplicada) indicavam que, enquanto compradores estão abastecidos com o grão adquirido no início da safra, vendedores ofertam lotes a preços mais elevados, o que por si só retrai compradores.
Já a Argentina, principal fornecedora de trigo ao País, deve registrar na safra 2018/19 recordes de produção, na disponibilidade interna (estoques iniciais + produção + importação) e também na exportação. Já os estoques finais da safra argentina devem ser pressionados justamente devido ao possível incremento nos embarques de trigo, especialmente ao Brasil e a países asiáticos, cenário que poderia sustentar os preços internos no médio prazo.
Fonte: O Paraná
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