A Associação das Empresas Cerealistas do Estado do Rio Grande do Sul (ACERGS) estima que a colheita de soja gaúcha ficou bem próxima da safra passada, alcançando 17 milhões 980 mil toneladas. No levantamento feito com os 60 cerealistas associados com aproximadamente 250 unidades de recebimento de grãos no Estado, a produtividade calculada ficou em 3.100 kg/ha (51,66 sacas/ha). Esse rendimento só não foi maior porque a falta de chuva provocou perdas significativas na região sul do Estado e por lá a média ficou bem abaixo do esperado – para se ter uma ideia, nos 40.000 hectares plantados em Canguçu a produtividade estacionou em 1.300 kg/ha (21,66 sacas/ha).
“Foi uma safra boa, um pouco menor que o ano passado. Tivemos chuvas normais na metade norte do Estado, o problema foi na metade sul onde o tempo ficou muito seco, com a mesma estiagem que atingiu a Argentina” – avalia o presidente da ACERGS/SINDIAGRO, Vicente Roberto Barbiero.
As últimas estimativas da Emater/RS-Ascar dão um panorama regionalizado das principais regiões produtoras e indicam que as maiores médias estão no Alto Uruguai com 3.662 kg/ha e no Planalto Médio com a produtividade de 3.620 kg/ha. Nas regiões do Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea o rendimento das lavouras foi de 3.491 kg/ha. As três maiores regiões de cultivo – Alto Jacuí, Noroeste Colonial e região Celeiro – que plantaram em torno de 925 mil hectares – o desempenho ficou em 3.471 kg/ha. Na região Central (segunda maior área de semeadura com 867 mil hectares), a produtividade ficou em 2.632 kg/ha e na Fronteira Noroeste e Missões (terceira maior área do Estado com cerca de 770 mil hectares), esse número foi de 3.056 kg/ha. Segundo a última estimativa da Emater, a média do Estado ficou em 2.992 kg/ha (49,86 sacas/ha). Mesmo com os prejuízos na metade sul, é o segundo melhor resultado da história – nos 5.710.091 hectares plantados com a oleaginosa no Rio Grande do Sul a produção chegou a 17.087.409 toneladas contra os 18.575.434 toneladas colhidas no ano anterior – redução em torno de 8%, segundo a Emater.
COLHEITA SOJA RS
Área – 5,8 milhões ha
Produtividade – 3.100 kg/ha (51,66 sacas/ha)
Produção – 17.980 milhões toneladas
Fonte: ACERGS
SAFRAS RS 2016/17 – 2017/18
SAFRA 2016/17 2017/18
ÁREA (ha) 5.528.233 5.710.091
PRODUÇÃO (T) 18.575.434 17.087.409
Fonte: Emater
A estimativa de produção da safra gaúcha da ACERGS é um pouco mais positiva em relação ao levantamento da Emater, especialmente porque a Associação dos Cerealistas aponta uma área de soja maior, alcançando 5,8 milhões de hectares
OSCILAÇÕES DE PRODUTIVIDADE
Essa variação de produtividade foi percebida até mesmo na mesma região. No Norte, na área de atuação da AgriCenter com sede em Seberi e filiais em Dois Irmãos das Missões e Taquaruçu do Sul o rendimento variou entre 50 e 85 sacas/ha, conforme o gerente de insumos da AgriCenter Seberi, Tiago Goffi.
“O clima na região foi bem manchado, tivemos localidades com sobra de chuva e regiões com mais de 40 dias sem chover. De maneira geral, a produção também variou de acordo com o investimento realizado pelo produtor” – analisa o engenheiro agrônomo que estima uma produtividade em torno de 60 sacas/ha, repetindo os números do ano passado na maioria das lavouras.
Na região do Alto Jacuí o desempenho das lavouras também ficou na faixa de 60 sacas/ha. Conforme o coordenador técnico da Cereais Werlang, Daniel Servieri, nos municípios onde a empresa atua: Ibirubá, Quinze de Novembro, Selbach e Fortaleza dos Valos, a produtividade só não foi superior devido a falta de chuva no final do ciclo da cultura.
“O clima foi favorável para a soja até o final do estágio vegetativo, com chuvas regulares, após o início do enchimento de grão houve estiagem que atrapalhou o desenvolvimento final da soja, fazendo com que os grãos perdessem peso” – reitera o engenheiro agrônomo.
São números altamente positivos para uma safra que, antes do plantio, era ameaçada pela previsão de La Niña – que provoca estiagem no Rio Grande do Sul. Conforme o gerente de insumos e responsável técnico pela área de produção agrícola da Uggeri, Elson José Uggeri, o fenômeno climático ocorreu de maneira bastante branda na região das Missões. De acordo com o engenheiro agrônomo, a média das lavouras nos municípios onde a empresa atua – Entre-Ijuís, Caibaté, Vitória das Missões e Eugênio de Castro o rendimento foi de aproximadamente 3.300 kg/ha (55 sacas/ha) – 10% inferior a colheita passada.
“Embora a ocorrência do La Niña tenha acontecido de forma branda, esse fato causou perdas nas lavouras de soja da região (períodos de estresse hídrico na fase reprodutiva das plantas), que dependendo da localidade, foi mais ou menos acentuada” – revela Uggeri.
Já as lavouras em Santo Ângelo praticamente não sofreram com a falta de chuva – segundo levantamento da EMATER, a colheita de soja este ano superou em 10% a safra 1016/17, fechando em 3.600 Kg/ha (60 sacas/ha).
“A principal diferença ocorrida entre as safras 2016/17 e 2017/18, foi que na safra passada as precipitações foram em volumes maiores e com melhor distribuição durante o ciclo da soja, já na safra 2017/18, essas precipitações aconteceram em menores volumes e com distribuição mais desuniforme” – esclarece o agrônomo.
A região mais atingida – o Sul do Estado, sofreu fortemente com a estiagem. De acordo com a engenheira agrônoma da AgroNemitz, Carla Liriam Antolini Nemitz, em Manoel Viana a produtividade dos agricultores atendidos pela empresa ficou ao redor de 47 sacas/ha e em Alegrete 40 sacas/ha – uma redução entre 15% e 20% na comparação com a safra anterior, porém em algumas áreas localizadas essa perda foi ainda maior, conforme a Emater a produtividade nos 40.000 hectares cultivados em Manoel Viana ficou em 33,68 sacas/ha (2.021 kg/ha).
“O clima mais seco, com períodos longos de estiagem em dezembro, prejudicou o estabelecimento das áreas plantadas mais no tarde e, em fevereiro, ocasionou a perda de flores e vagens e reduziu o peso de grãos” – avalia ela.
De acordo com o relatório da Emater, o contraste entre as regiões foi tão representativo nesta colheita que tivemos, de um lado, no norte do Estado, rendimentos como o de Palmeira das Missões de 4.300 kg/ha (71,66 sacas/ha) e Sarandi com 4.200 kg/ha (70 sacas/ha) – em torno de 50% acima da estimativa inicial. E, na outra ponta, na região central em São Sepé, o desempenho ficou em 1.134 kg/ha (18,9 sacas/ha), bem abaixo do esperado.
Com relação a sanidade das lavouras, o engenheiro agrônomo da Cereais Werlang aponta alguns problemas, especialmente com lagartas e a ferrugem asiática.
“Tivemos uma grande pressão de lagartas falsa medideira, ocasionando uma desfolha considerável, e a pressão de ferrugem asiática foi muito forte, fazendo com que os produtores tivessem grande investimento em fungicidas e inseticidas” relata Servieri.
“As últimas lavouras de segundo cultivo colhidas apresentaram diminuição no rendimento e qualidade de grão inferior, causado principalmente por danos do percevejo” – aponta o relatório da Emater.
“Sobre as pragas, na fase inicial da soja, tivemos ataque de lagartas, e se fez necessário o controle em algumas áreas. Mas os percevejos continuaram sendo o principal foco de controle dos produtores. Sobre doenças da parte aérea, em função da estiagem no final do ciclo e dos manejos preventivos, a incidência foi menor e o controle satisfatório, com uma pressão maior de ferrugem nas áreas de safrinha. Também tivemos a incidência de macrophomina em áreas com problemas de compactação – relata a agrônoma da AgroNemitz.
COLHEITA DE SOJA RS 2017/18 – levantamento Emater
Município Área (ha) Produtividade (kg/ha)
São Gabriel 101.000 1.614
São Borja 60.000 2.100
Jaguarão 45.000 1.700
Canguçu 40.000 1.300
Manoel Viana 40.000 2.021
Espumoso 51.000 3.600
Soledade 42.000 3.300
Tupanciretã 149.100 3.000
Júlio de Castilhos 91.500 3.600
São Sepé 62.000 1.134
São Luiz Gonzaga 79.500 3.000
São Miguel das Missões 76.000 3.120
Cruz Alta 93.000 3.245
Santa Bárbara do Sul 69.700 3.900
Jóia 81.000 3.200
Ijuí 46.000 3.300
Ibirubá 41.500 3.600
Lagoa Vermelha 48.000 3.600
Passo Fundo 40.000 3.600
Marau 39.500 3.540
Carazinho 40.000 3.780
Pontão 33.900 3.000
Palmeira das Missões 90.000 4.300
Chapada 42.000 4.080
Ronda Alta 22.600 3.600
Nonoai 19.000 3.600
Sarandi 18.500 4.200
Sertão 32.500 4.000
Quatro Irmãos 18.500 3.600
Campinas do Sul 16.300 3.600
Getúlio Vargas 14.000 3.540
Vacaria 52.000 3.200
Muitos Capões 45.000 3.900
Esmeralda 28.500 3.600
André da Rocha 18.000 3.600